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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

DIA DO TRADUTOR



Um dos irmãos Karamázovi – Ivã, provavelmente, o (mais) filósofo dos três: o caçula era “santinho” demais e o mais velho, bem puxado ao pai, não negando a ascendência, um quase néscio em pessoa, isso sem falar, porque à margem da família, como costuma acontecer nas melhores(?), do bastardo Smerdiákov – dizia que o erro dos empreiteiros da Torre, construtores do mito babélico, não estava na presunção, por si já enorme, seguida de perto, como se seu par associado, pelo orgulho da obra, antecipando-lhe o desejado resultado (não alcançado), não estava, em se partindo da terra, desse chão do qual partem sempre todas as construções, salvo aquelas que fincam suas fundações (firmemente) na imaginação, em se alçar a um céu restrito, em que só se é admitido sob oficial permissão, mas, ao contrário, numa experiência ainda de presunção e orgulho, embora talvez involuntária, trazer esse mesmo céu, descendo-o, com proporcional desvalorização no mercado, paraíso para poucos (escolhidos), para a terra.

Por conta disso – desconheço os cálculos, mas pelo porte da obra, deve ter consumido, além de esforços, humanas vidas perdidas, muito dinheiro -, acabou-se, sem que se falasse a mesma língua, pondo-se a perder todo o projeto, sonho então soterrado.

Hoje (e hoje nós continuamos a querer ora nos elevar, por métodos os mais diversos, aos céus, até acreditando que o meio mais eficiente é o de se controlar o que nos sai da própria boca, apelando-se, em alguns casos, mesmo para o (voto de) silêncio, ora a puxar para nossa companhia, no nível em que vivemos, esse mesmo céu) bastaria, como um atalho jamais imaginado, até por quem nunca teve os pés no chão, preferindo mantê-los nas mutáveis nuvens, um clique, e pronto: fala-se a língua que for; tem-se, imediatamente, sua devida(?) tradução.

Mas, tudo muito técnico, seguindo à risca uma sintaxe-padrão, tornando, por vezes, risível a semântica, quando apegados demasiadamente à norma, sem a maleabilidade que dá à língua múltiplos fios, não permitindo que seja apenas uma faca que só corta desse ou daquele lado.

E um bom tradutor não é aquele que se encerra em seus estudos, acumulando verbetes, enciclopédico, apesar do iluminismo do termo já ter perdido algo do seu brilho original de incontáveis volumes, mas o que, sem temor de perder prestígio social ou de sacrificar preciosas horas, que seriam, de outro modo, dedicadas ao seu exaustivo trabalho, circula pelas “bocas”, conhecendo, das palavras já sabidas, inusitados significados. Bom tradutor é o que resume frases tantas num parágrafo curto, sem, no entanto, suprimir-lhes o espírito, sem lhe retirar o encanto de nascença, não subtraindo ao leitor o verdadeiro prazer de ler, desde que consiga fazer isso a contento e não simplesmente para poupar tempo de trabalho, gastando-o, posteriormente, quase imediatamente, o fruto dessa poupança temporal, andando pelas bocas.

Igualmente merecedor de aplauso é o tradutor que, se não há outra alternativa, não hesita em construir um parágrafo e tanto a partir de uma frase quase solta, se só assim for possível, ao menos para sua boca em particular, bem (se) traduzir.

Como minha língua não conhece muitas bocas, minha homenagem a quem, frequentando sabe-se lá quantas, faz-me, da terra, subir aos Irmãos Karamázovi, com a sensação de que não tirei os pés do chão, desta terra ainda tão mal-traduzida, em que pese ler Dostoievski ser, não raro, uma viagem ao inferno (de cada um de nós).

CHICO VIVAS

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sábado, 25 de setembro de 2010

DIA DA TIA SOLTEIRONA


Isso é coisa do passado, logo dirão, até envolvendo essa lembrança num papel de preconceito injustificável – coisa, aliás, repetindo-se, do passado, como, se não disserem, hão de pensar.

A solteirona – e, aqui, não é significativo, em nome de uma igualdade de papéis, se falar em outro gênero -, agora, até já nutre certo orgulho de ser assim, com um rol de justificativas para esse seu estado, sublinhando, com pudor calculado, que sua solteirice longeva não se concerta, como em outros tempos, com uma castidade duradoura, chegando mesmo, já abandonando o cálculo, sem de todo esquecer o pudor (por puro cálculo), a deixar passar nas entrelinhas que prefere assim, afastados os compromissos, próxima, cada vez mais, do prazer.

E fala-se na carreira, nessa correria para se ganhar postos, elevando-se, tendo, às vezes, que “ficar no salto”, mostrando a que veio, ainda que use, na sequência, de toda sua atávica delicadeza, tirando proveito desse contraste, quando não para gerar algum mistério, não se revelando por inteiro, como um bom jogador que sabe blefar, seja para dar a impressão de que tem cartas na manga, quando está à beira de perder esse jogo, seja, fazendo cara de perdedor, a um passo da decisão, prestes a baixar as cartas, ganhar a partida.

Fala-se ainda nas restrições do “mercado”, já não se fazendo referência a postos de trabalho, mas ao dos pares, mesmo que não demonstre mais qualquer crença em platônicas junções, ideais encontros, felicidades lançadas para um sempre fantástico, não se podendo descartar a possibilidade de que, então, esteja-se em meio a uma grande jogada, no íntimo, acreditando que, depois de tanta espera, de tantas concessões, de tanto tempo arriscado, o que é seu, e só seu, está devidamente guardado, às vezes se desesperando por esse encontro não se dá de uma vez, até partindo, voluntariamente, voluntariosamente, ao seu encontro, embora preferisse que tudo se desse como em sua fantasia ao acaso.

Se tia por real parentesco, pouco importa. Tornam-se assim, ou se tornavam, quando isso tinha alguma importância, pela contagem do tempo, por uma solidão que não se mede pelas companhias, mesmo que agradáveis, mesmo que deem muito “prazer”, mas pela ausência de só uma, ainda que, com o tempo, deixe esta r prazer, tornando-se mesmo, em alguns casos, desagradáveis.

Isso é mesmo coisa de outros dias. E talvez, relativizando-se o gênero da tia solteirona – ter ganho um dia só seu não deve ser uma honra, um fato a ser comemorado, pelas luzes que, apesar do dia passar praticamente em branco, são jogadas sobre seu estado – eu esteja despertando, pela lembrança desnecessária, a desconfiança de que, perdendo tempo com isto, legisle em causa própria.

CHICO VIVAS

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quarta-feira, 22 de setembro de 2010

DIA DA BANANA


Houve um tempo – e como, às vezes, tenho vontade de “dar uma banana” para ele, só não o fazendo pela total inutilidade do ato, dizendo isso para mim mesmo, como a querer me convencer de que se não o faço é por razões lógicas e não porque não passo mesmo de um banana – em que banana era tão barata que cedeu (de tão barata, sequer cobrou por isso) seu nome para algo desvalorizado, mostrando tamanho desprendimento, não se importando (embora já se importem bananas), para que se cunhasse uma celebre expressão popular, de ter seu nome assim, quase sem que haja quem queira dar um níquel por ela, embora não se possa descartar a possibilidade, tão contemporânea, que tivesse agido assim a banana por, num cálculo bem pessoal, considerar um preço baixo a ser pago em troca de ter seu nome consagrado.

Banana dá em cachos, à profusão, sendo algo ridículo, ou preciosista (um preciosismo ridículo) que se queira comprar somente uma, mesmo que agora custe (bem) mais caro, quase um bem precioso, mesmo que não se trate de uma banana-ouro, de uma banana-prata, mas de uma d’água, mesmo de uma nanica qualquer que não tem estatura suficiente para exigir seja lá o que for.

Banana também se dá, de modo um tanto quanto infantil, com o braço, ainda que, gordura mais prestigiada que o potássio, as crianças, evitando o desnecessário esforço de mover todo o braço (às vezes, os dois, para tornar mais eloquente o ato de dar – banana, claro), numa experiência sedentária de poupar tempo e movimento(s), dão apenas o dedo, mas, generosamente, quando podiam recorrer, perdoavelmente egoístas como são as crianças, a ponto de não dividirem com outra, pequena como elas, uma banana, até das grandes, ao mínimo dedo, dão, de todos os disponíveis, o maior de todos.

Banana, como já ficou evidenciado por minha recusa, apesar do argumento utilizado, em dar uma banana para o tempo, é um sujeito, independentemente do genro, embora mais significativo quando aplicado ao masculino, moleirão, daqueles que, sem deixar esse gênero de assunto, se “deixam mandar” pelo outro – outro gênero ou, o que dá no mesmo, por outro do mesmo gênero, num embate de bananas que atiça o desejo de se fazer até um trocadilho fálico.

Tão superior é a banana que, enquanto a batata tem de se contentar com os inferiores, ela já nasce nos membros de cima, de braços dados com certa aristocracia, mesmo que esta, salvo quando a banana está escandalosamente cara, coisa para poucos, não a prestigie tanto – ao menos em púbico, talvez com medo de que, apesar de todos os atavios aparentes, se lhe perceba, banana em mão, certas similaridades “evolutivas” que não agradam a sua acreditada superioridade. E não fica por aí, não! A banana, não é de agora, subiu à cabeça – à de Carmem -, passando daí para o imaginário popular.

Se banana(-)passa, ainda não chegou sua vez. E até as verdes, tidas até outro dia como impróprias para o consumo – e falo do popular mesmo, e não do gosto mais refinado -, já foi alçada, seguindo-se determinadas receitas, à categoria de muito saudável, atingindo esse lugar que a faz, por mais que lhe torçam o nariz, tão apetitosa aos que, na falta de outro assunto, falam sobre a funcionalidade de certos alimentos, fazendo dos que preferem gordura uns verdadeiros bananas.

CHICO VIVAS

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DIA DA AMANTE


Amada!... – nesse jeito equivocadamente íntimo, coloquialmente cafona de se tratar alguém, com ar condescendente, sugerindo uma aproximação, mesmo que então não entrem em jogo os corpos (que jogo mais sem graça!) – é o quê?

Se for quem simplesmente é amada, tautologia dispensável, então, ó amada, bem que eu poderia ter começado isto (talvez na falta de corpos para me distrair com outros jogos, que não os de palavras) te chamando de (minha) amante, embora isso levantasse (isso é coisa de amantes, amada!), de imediato (isso é o sonho de muito amante – e de muitas amantes, amados!), suspeitas sobre ti, amada: porque, querendo uma aproximação ainda maior, correndo o risco, eventualmente calculado, de mergulhar de cabeça na cafonice-movediça, já seria demais te tratar de “amadinha", até mesmo para esta minha língua algo desusada (a falta que fazem certos jogos, mesmo que, ao fim, acabem ficando mesmo só nas palavras!).

Mas, tomando uma amante, quase que como um objeto (dos meus desejos?), não necessariamente como o ser amado, e sim como alguém à margem dos amores sacramentais [“(...) digo que bom seria a um homem não tocar em mulher alguma. Mas, para evitar a prostituição, cada um tenha a sua mulher, e cada uma tenha o seu marido”. I Epístola de São Paulo aos Coríntios 7, 1 e 2], elas são mesmo amadas ou só (serão sós?) o que são?

Há quem veja nos amores “marginais” uma sinceridade, por, supostamente, não haver aí compromissos formais, que não enxergam, depois de passada a graça festiva, nas núpcias sacramentais, por se supor que, então, aí só restou a formalidade de um acordo, mesmo que, agora, se considerem quase que tão-só os aspectos patrimoniais, já não se temendo tanto a quebra da aliança com Deus – até, fazendo as contas, contabilizando em favor da(o) amante, percebendo-se a economia de “alianças” que uniões assim, sem (um insuspeito) Paulo por trás, permitem.

Talvez, como vingança dos céus, não raro, o atalho aberto à margem da estrada principal vai-se tornando o caminho oficial, mesmo que não haja placas luminosas a sinalizar essa mudança. Nesse caso, uma picada circunstancial, que em outra situação não teria importância, começa, aos poucos, a surgir como novo atalho, deixando o antigo, já agora uma estrada como outra qualquer, à margem. E nesse cruzamento de aspirações (de “desejos”), não é impossível que se (se) volte – ou se queira voltar – para a estrada primeira, até, em prol desse retorno, lançando mão, como um apóstolo da moral, dos laços canônicos, voltando, já em desespero, a se falar mesmo de (sempre os laços) “nós” que nascemos um para o outro: e entre esse lugar-comum para aproximações desesperadas e um “amada”, prefiro parecer cafona.

CHICO VIVAS

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quarta-feira, 15 de setembro de 2010

DIA DO CLIENTE


Eu não estou ficando louco, mas se há alguém que tem garantia de não endoidecer, são os clientes, porque sempre tem razão, mesmo aquele que não é tão freguês assim da lógica, chegando mesmo, alguns, a desenvolver compulsão pelo consumo, não conseguindo o mínimo de autocontrole que lhes permita, diante de uma compra iminente e irrefreável, sabendo de sua desnecessidade, flagrando-se nessa compulsão no ato, refrear seus impulsos consumistas, evitando uma compra sem precisão: e são estes, curiosamente, até porque são “mais fregueses”, cliente com maior regularidade, os que, pasmem!, têm mais razão.

Fico imaginando – a imaginação, levada a certos níveis, variando estes de pessoa para pessoa, aproxima-se da loucura – um cliente potencial para um item aparentemente de sobra no mercado, com, ainda segundo as aparências, mais oferta que demanda (assumida), o que, por si, já faz desse produto um “barato” (a depender do barato, ativa-se ainda mais a imaginação, vendo até mesmo baratas onde só existem velhos fusquinhas): a loucura à venda.

Talvez se pense que só mesmo um louco, ou alguém com imaginação levada aos seus próprios limites, se aventuraria em mercadoria assim, restando ainda a dúvida acerca do que faz um freguês querer consumir uma loucura, e se, consumindo-a, torna-se, necessariamente, louco ou, como um produto descartável – mais um entre toda essa loucura de lixo que se acumula no mundo -, recupera-se a antiga sanidade, voltando às suas velhas compulsões, inclusive por consumir.

Admitindo-se, no entanto, louco ou não, um consumidor assim – provavelmente, não é um compulsivo de verdade, já que este, em lugar de reclamar de um defeito no produto comprado, aproveita a oportunidade, num autoengano, para comprar ainda mais, como se essa fosse uma atitude razoável -, caso venha a reclamar de uma loucura adquirida, ao perceber nela algum defeito de fabricação, não um “parafuso solto”, pois isso só ratificaria a qualidade dessa loucura, mas partes completamente lógicas, inteiramente sensatas, como deverá agir o vendedor nessa situação: dirá que o cliente tem razão, que a loucura vendida é algo sensata, ou contestará a versão do freguês, a ponto de, numa exasperante impaciência, quem sabe se de tanto ouvir reclamações em lote sobre uma loucura top de vendas, quase uma loucura de consumo, dizer que ele sim, cliente reclamão, reclamando assim, vendo razão onde só há loucura passada por rígido controle de qualidade, é que está ficando louco.

E o cliente, acostumado a sempre ter razão, sentir-se-á ofendido ao ser tratado como louco ou, tendo comprado e consumido aquela loucura (toda), sentir-se-á aliviado com a sentença do vendedor, já que, se está realmente(!) louco, é louco de estar reclamando de uma loucura perfeita, acreditando-a uma perigosa fonte de sensatez?

Antes que minha própria imaginação – mantida sob rígido controle até aqui, como se vê – vá além, sigo para as compras. Na verdade, não preciso de nada. E se mesmo assim vou a elas é só para ouvir de alguém que (sempre) tenho razão.

CHICO VIVAS

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quinta-feira, 9 de setembro de 2010

DIA DA VELOCIDADE


Sem querer ser um “futurista retrô”, essa coisa de velocidade é coisa do passado: já não faz muito sentido se pensar em velocidade, quando esta atropela a si própria, ultrapassando-se a cada segundo – para não falarmos, mais detalhadamente, naqueles milésimos, quase inacreditáveis na nossa matemática que já não anda bem nem mesmo com inteiros volumosos.

Um dia – como se, dizendo assim, desacelerássemos antes de engatarmos uma ré – pensava-se no futuro em termos de velocidade, assombrando-nos a possibilidade de, encurtando caminho, pouparmos tempo, isso porque o meio a nos levar daqui para acolá, tomando impulso, dispararia. Vendo, hoje, de revés, aquela perspectiva, ultrapassada sem que nos déssemos conta de estarmos então ficando para trás, por mais que nos mantivéssemos atualizados com as novas nomenclaturas que potencializam a rapidez, veloz sequer é mais a mais engenhosa imaginação, ainda que seja dela que saem, de uma ou de outra maneira, as “novas” velocidades.

É de fazer corar uma tartaruga, mesmo aquela, a do Paradoxo de Zenão, lenta, aos nossos olhos, como qualquer outra, porém, por força da lógica, não poderá jamais ser vencida numa corrida, nem mesmo por Aquiles, aquele mesmo, veloz como ele só.

Mesmo aqueles que a desdenham, alimentando fantasias – às vezes, compradas caro – de que é preciso pôr o pé no freio, que o mundo, veloz como vai, e vai assim não é de agora, está como está, querendo-se com isso se dizer que não chegou, afinal, a lugar nenhum, só agem assim em virtude da velocidade. Se levarem adiante a pretendida lentidão, hão de acabar por tomá-la como padrão e, mais à frente, quererão, achando-a já rápida demais, numa evidente contradição de termos, promover nova desaceleração, ou então se fatigarão, com velocidade impressionante, de vida tão lenta, dando a impressão de que o mundo parou, não gira mais, não indo, de qualquer modo, para lugar algum.

Apesar disso, extasiamo-nos com a velocidade. Nem tanto com a das máquinas, rapidez quase virtual, mas, sobretudo, com a do próprio homem, desses míticos corredores que sequer têm invulneráveis uma parte do corpo, parecendo, no todo, infensos aos vícios de uma humanidade mediana. E não é mesmo para se ficar “parado” diante de um homem, com seus músculos exigidos ao máximo, cortando o vento, rompendo limites, derrubando antigos obstáculos, mesmo quando se trata de uma prova de fundo, sem armadilhas no meio do caminho?!

Talvez, testemunhando a performance desses atletas “explosivos”, imaginemos que também nós, ainda que sedentários expectadores do esforço alheio, poderemos, como se tomados por uma velocidade figurada, pôr abaixo velhos limites, indo aonde nunca fôramos antes – e isso pode mesmo ser a casa do vizinho ao lado, tendo, até então, numa mera parede geminada um obstáculo intransponível, inclusive, mantendo a linguagem pouco literal, uma erguida com silêncio(s) e que requer, como martelo potente, não mais do que alguns “golpes de palavra(s)”.

Vendo-me agir assim, gastando tantas palavras, pode-se tomar a minha por uma veloz a precisar de um pouco de vagar, na forma de um silêncio salvador, ou se tomar estas minhas palavras tantas como o vagar em si, porque se fosse mesmo veloz uma vida assim, há muito eu já teria chegado em algum lugar: tempo perdido!

E tempo perdido é o combustível que move aqueles apressadinhos, loucos por velocidade, incapazes de compreenderem uma parada, mesmo que declaradamente provisória.

CHICO VIVAS

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quarta-feira, 1 de setembro de 2010

DIA DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA



Vamos “malhar”?!


Não, isso já se tornou cansativo, embora seja o esporte preferido dos sedentários – e não apenas dos lassos de corpo, mas dos eternamente preguiçosos de espírito que se escoram em pensamentos repetidos, confiando em sua aparência sedutora de solidez a toda prova, como se se apoiassem num muro que é mera parede cai-não-cai, caída que estaria, se não fossem as escoras por trás, podres já: e se o fato de serem assim, repetidos, não lhes tira uma eventual verdade, pois há verdades, quando não desestimulam, por falta de prova em contrário, pela ausência de dúvida, que se interponha um contraditório que pode tanto reforçar sua validade (como verdade), quanto, tal qual se a podridão das escoras cedesse de uma vez, provocando, parede que já não se aguentava sozinha, a queda do muro, pô-la abaixo, restando dessa verdade só escombros, não sendo, porém, impossível que daí, entulho de fênix, possa algo ressurgir.


O culto da boa forma física, quando não “perdoável” pela busca da saúde (do próprio corpo), já se percebendo a má vontade para com a beleza, como se fosse algo “feio”, torna-se um ídolo de cabeça para baixo: mantido no altar, mas não para que se lhe imolem sacrifícios, e sim para que se o destrua, mas em termos, porque se isso fosse levado até as últimas consequências, se ficaria sem ter o que se malhar.


Que mal há, afinal, em se querer dar ao (próprio, diga-se) corpo a forma desejada, embora, não raro, se caia na armadilha de só desejá-lo assim por se crer que desse jeito ele se tornará um corpo desejado, quando, de tão “admirável” (neste nada novo mundo), pouco desejo desperta, atiçando até o culto por ele, mas fazendo-o ídolo do qual não se quer se aproximar demais, temendo-se, com tal aproximação, tirar-lhe algo do seu poder místico, mantendo-o, por mais perto, longe do alcance das mãos, estes membros que são a vanguarda do desejo, talvez sendo por isso mesmo tão “superiores”.


Os mais condescendentes dirão que mal, mal mesmo, só há quando essa busca não se dá pelo esforço continuado; quando, longo caminho à frente, prefere-se um atalho, com as sabidas consequências futuras (não existem mesmo consequências prévias) para esse corpo: o corpo é meu, ainda que assim não o seja por muito tempo, ou que por algum tempo seja assim, sendo, depois, bem diferente, por conta das (mesmas) tais consequências.


Quase tão extensa quanto a legião dos cultores do corpo, das hipertrofias sem a preocupação da simetria, num desequilíbrio que às vezes saltam aos olhos mais desavisados (hum, isso está me cheirando a velada tomada de posição), é a legião dos sedentários que, não podendo rebater, convenientemente, os atribuídos efeitos, graves, de não se mover uma palha (ou apenas isso), “malham” os outros, acreditando já ser isso esforço suficiente, autolouvando, em falso conflito, sua própria inteligência, como se esta estivesse na proporção inversa ao desejo que um belo corpo (malhado) desperta – a ponto de não se querer dormir tão cedo.


Despertai, ó invejosos!


Por falar nisso: que horas são? Acho que dormi demais. Obrigado por ter-me acordado.



Chico Vivas



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