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segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

DIA DA LEMBRANÇA


Hoje é mesmo dia do quê?

A pergunta, claro, não é a sério. E isso não porque não se trate de um assunto relevante, daqueles que merecem, queiramos ou não, tiremos ou não disso algum prazer, entrar na nossa memória, às vezes sendo necessário que tenhamos de apagar algo ali já com seu lugar garantido, mesmo que não haja garantias de que venhamos a disso precisar, para assim abrir espaço pra a necessidade da vez, num comércio inconsciente, embora, nessa troca, aproveitemos, sempre inconscientemente, para riscar da memória o que ali entrou por obrigação, sem que tivéssemos a opção de o deixarmos para lá: e ainda que se saiba que o inconsciente é uma caixa de pancada em que descarregamos a responsabilidade por atos (conscientes) que não podemos ou não “desejamos” (palavra tão cara ao inconsciente) assumir, respondendo por suas consequências, neste caso não se pode falar do consciente, já que o ato voluntário de tirar alguma coisa da memória, como se usássemos, com imperícia, uma borracha inapropriada que, ao tentar esconder, acaba por realçar, nem que seja por uma evidente ausência, resulta, frequentemente, num reforço a mais para se lembrar.

Se aquela pergunta tivesse sido feita e levada a sério, eis a resposta (e como gostaria de, aqui, inventar um esquecimento providencial para alongar as linhas, criando algum mistério, mas, “curto” como sou por natureza, já alongo mesmo sem o perceber, e quanto ao mistério, ao propô-lo, com sorrisos entre nervosos e ansiosos, já dou pistas de sua solução): hoje é dia da...lembrança.

Um dia – termo que tão bem se ajusta à lembrança, especialmente quando, como se um vento lhe batesse, cariciosamente, jogando-o para trás, isso é já uma recordação pretérita, não raro preterida em favor de outros (novos) dias, na crença de que “este”, sim, será inesquecível, vindo, no entanto, a cair no mesmo limbo em que todos os dias caem –, a lembrança foi algo que se dava gratuitamente, fazendo parte, inclusive, de uma cortesia provinciana que a urbanidade solapou, seja pela pressa, mesmo para se dizer tão poucas palavras, seja porque, contaminados pela cultura da vida custosa, nos soe um desperdício mandar, tão graciosamente assim, lembranças.

Hoje – um dia com o qual não nos importamos tanto, mesmo que repitamos que só ele existe, que só temos ele para viver (hoje), até ao menos que se torne um ontem -, a lembrança, como “memória”, é até caso de polícia, de investigação minuciosa sobre nossos atos, perseguindo nossos rastros virtuais, alguns realizados com inconsciência calculada (para usarmos isso, futuramente, a nosso favor), outros com a espontaneidade de quem, como um herói que se lança em água tumultuosas quando sequer está em perigo na terra firme, salva o que lhe surge pela frente. Hoje também se tornou questão de saúde, quando a lembrança de hoje parece mais distante do que a daqueles dias em que se enviava, de boca a boca, lembranças, num beijo omitido, talvez inconscientemente presente: de-mente, afinal, são todas as lembranças.

Sem tempo para comprar, individualmente, “lembrancinhas”, nesse varejo de miudezas sem valor, quase negociadas sem consciência do ato (da compra), seguindo-se apenas a ditadura do calendário, envio esta(s), neste dia de hoje, ainda com esperança de vir a fazê-lo, novamente, num outro amanhã, se até lá de dias assim eu ainda me lembrar.

CHICO VIVAS

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domingo, 18 de dezembro de 2011

DIA DO MUSEÓLOGO




Lugar de múmia, como sabe o senso comum, ao qual se costuma atribuir, demagogicamente, a verdadeira sabedoria, mal se escondendo o desejo de assim manter esse povo (sábio) preso a sua sabedoria intuitiva, a léguas de outra(s), é no museu. E nem precisa ser uma de verdade, envolta em seus panos rotos (o que lhe empresta maior veracidade, embora levante a suspeita de que o processo de mumificação não foi dos mais eficientes, não tendo resistido aos dentes do tempo, ávidos sempre por roerem de tudo, intacta como deveria se mostrar a tal múmia ao ser achada, por mais séculos que tenham passado), bastando que seja um vivo qualquer, desde que caindo aos pedaços, Jó ambulante, sem vestígios da antiga riqueza, sequer se lhe adivinhando um joguete nas mãos de Deus (e do diabo).

Assim é que museu é depósito, a princípio, de tudo o que é velho – sendo que, com o tempo, o conceito de velhice se altera, dependendo da expectativa de vida, da qualidade da mesma, preso, muitas vezes, o povo incensado, ao dever(!) de viver muito uma vida pouca. Como o velho, em que pese o discurso recorrente, lacrimejante, piegas, raramente sincero a respeito, com circunspecção falsa, da idade avançada, como se cada ruga bem sulcada na pele afinada, quase um papel a se rasgar, já não suportando escritas mais “profundas”, fosse uma enciclopédia com seus incontáveis volumes, é associado, em nome do novo, da reposição necessária dos estoques, espaço cada vez mais estreito para tudo (para todos), ao que já perdeu seu valor de uso – e, em consequência, de troca –, museu é agência de viagem para o passado, não importando se isso é um (ainda) ontem ou se já um tempo perdido nas brumas que não se contam mais na ponta dos dedos.

Essa fantasia sempre me seduziu: um museu de novidades! E não um que, com competência de assustar, já traga em seu acervo o lançamento de agora há pouco, mas que antecipe mesmo, mais assustadoramente ainda, o que se há de lançar, sem, no entanto, se desprender da ideia que o senso comum dele faz, continuando, portanto, a ser um amontoado de múmias.

Sendo assim, poder-se-ia ir ao museu para ver o que há de vir, mas, vendo-o lá, tomado seria com já-visto, coisa do passado, novidade empoeirada ou velharia bem lustrada. Desse jeito, o mundo haveria de se transformar num grande museu, como já vai se enchendo de velhices – algumas bem vividas, estandarte político, reluzente em seus bordados de cafona dourado, de qualidade de vida; outras, sem os alisamentos injetáveis, sem as tinturas de ocasião, sem as plásticas-cinderela (apenas para durar algumas horas), tão encarquilhadas, que despertam, nos visitantes deste mundo, certo desconforto, fazendo-os pensar, mesmo que não ousem dizer, que devem ter deixado o museu aberto, para que tanta múmia possa andar assim por aí...


CHICO VIVAS
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sábado, 10 de dezembro de 2011

DIA DO PALHAÇO


De tanto lhe lançarem à cara, então já deslavada, ou seja, não ainda lavada, com todas as marcas de uma cara assim, que não viu pela frente água e sabão, nem sempre como uma acusação, apesar do delito evidente, às vezes como um elogio, o roubo contumaz de mulheres, não se lhe atribuindo, no entanto, qualquer rapto (o roubo com segundas intenções), o cara se achou o próprio...palhaço.


Olhou-se ao espelho, como se ensaiando um “olhe para minha cara”, repetindo por diversas vezes, em busca do tom ideal, concertando as palavras com um ritmo que lhes emprestaria eloquência, pronto para, ensaios findos, finalmente encarar o público, sabe-se lá se respeitável, em flagrante desafio, contestando aquelas insinuações acerca de roubos, como se dissesse ser incapaz de ato assim, e não tanto por não ter capacidade para roubar uma mulher, e sim por não lhe ser necessário recorrer a esse artifício, tendo outros recursos para “roubá-las”, de livre-vontade (delas): e não nos espantemos se toda sua arte sedutora estiver justamente na cara, mesmo que camuflada pela discrição de uma face comum, sem uma palidez que chame a atenção e sem cores fortes demais que, como flor exuberante, ainda que de papel, atrai abelhas desavisadas.


Que palhaçada! Quando isso é trabalho, igual a qualquer esforço, burocrático, na hora marcada, com um improviso calculado ou, espontâneo, mas tão repetitivo que não vê nenhuma graça se a casca de banana não está no seu devido lugar, como se deixasse cair ao acaso, despercebida aos olhos, e assim a queda não ocorre no horário combinado, mesmo que o público ria de qualquer modo, rindo, inclusive, se não da piada, apenas para manter seu prestígio de “respeitável”.


Há quem ache uma certa graça amarga ao imaginar que por trás da máscara picaresca do palhaço, caído seu disfarce, se revela sempre, ainda uma (outra) máscara, mas já agora a própria, sem pinturas, uma outra face desse mesmo sujeito, por dever, engraçado, mostrando-nos, represada até o fim do espetáculo de sorrisos mambembes, uma quase cristalizada lágrima, sinal, ao mesmo tempo, do profissionalismo desse cara e do quando pode custar caro viver assim, tendo de amargar suas tristezas em meio a pantomimas divertidas, espremendo, ao máximo, um sorriso nostálgico para daí se tirar uma sonora gargalhada.


Que faríamos, se descobríssemos, por termo-nos escondido, terminado o espetáculo, em algum canto do circo, que o palhaço não usa maquiagem, que aquela que (nos) mostra é mesmo sua verdadeira cara, ou que detrás da pintura não há um sujeito nada amargo, mas até, naturalmente, mais engraçado, sendo que, talvez, tenha-se tornado palhaço justamente para ter como esconder do público sua face real, motivo de risos sem graça, sendo-lhe mais tolerável ouvir os risos, carregados de graça, por causa de sua cara pintada ou pela especulação calada de alguém que, vendo-o no palco, fica a maquinar sobre o que pode estar por trás de tudo isso?


Cumpri meu papel. E como ainda tenho, para manter a máscara, de roubar alguma mulher, dou por terminado o (meu triste) espetáculo.


CHICO VIVAS

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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

DIA DE FINADOS



Todos os filósofos (nos) parecem sempre sábios, embora, por mais que eles saibam, ignorem ainda muito – e talvez seja só mesmo o reconhecimento da própria ignorância que os torna, verdadeiramente, sábios (“Só sei que nada sei”, Sócrates).


Todos os sábios, se não o são, na nossa fantasia, deveriam ser sempre velhos – e assim porque talvez, mesmo com todo o apego que mantemos, com a força com que nos agarramos à vida, queiramos debitar na conta da (nossa) juventude a falta de sabedoria, na crença de que, com o tempo, ela acabará vindo: e esse raciocínio tanto pode ser uma demonstração de sabedoria, ainda que jovens, quanto de ignorância, mesmo que já velhos.


Todos nós, apesar de nem sempre termos consciência disso, filosofamos, mesmo que não ostentemos o título de filósofo, mesmo que não tenhamos frequentado as respeitáveis e sisudas aulas das Academias. E somos também, todos nós, sábios: e o somos quando nos apegamos à vida; quando louvamos a (nossa própria) juventude; quando, generosamente(?), deixamos a sabedoria de fato para os velhos, como se então acreditássemos que a nós ainda resta muito, enquanto que a eles...o que lhes resta, senão se dizerem sábios? senão atraírem a complacência melancólica para sorrisos já murchos? senão seu único passatempo: perguntar-se, enfim, a essa altura, o que lhes resta?


Sempre que nos interrogamos, filosofamos. Sempre que duvidamos, filosofamos. Sempre que nos perguntamos o que (nos) resta, filosofamos.


Um filósofo – provavelmente chegando a essa conclusão quando sua juventude já era coisa do passado – disse, e eu repito aqui, sem ter a pretensão de parecer sábio, mesmo já não sendo jovem, que “Filosofar é aprender a morrer”.


A vida, sábia como ela só (quem sabe se por ser o que há de mais antigo neste mundo), ensina-nos até como devemos encarar seu próprio fim – fim este que coincide com o nosso –, ensinando-nos, ao mesmo tempo, esta outra lição: que contar como se apaga o fogo ajuda a controlar os incêndios, mas não destrói a possibilidade de, quando o dia frio chegar, novamente, uma outra fogueira se acender. Porque a vida, independentemente do direito pessoal de se crer em sua continuidade ou não para além-aqui, se refaz acolá...no jovem que se agarra aos seus poucos anos como se eles fossem um porto-seguro, não passando, eventualmente, apesar da aparência de madeira sólida, de tábuas-de-salvação se decompondo.


Finda a fogueira, ficam as brasas com calor, que vai diminuindo, até só cinzas restarem: isso é a saudade. E como dizia o escritor (Guimarães Rosa): “A saudade é a permanência do ausente”.


Portanto, enquanto houver (alguma) lembrança, a vida está garantida, mesmo que só no fundo do coração – que é, no entanto, apesar de toda a poesia que inspira, o que de mais frágil há em nós.


CHICO VIVAS

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domingo, 16 de outubro de 2011

DIA DA ALIMENTAÇÃO


Comer, comer; comer, comer: cantam os comilões, sem apresentarem argumentos convincentes, é melhor para poder crescer, valendo-se, além da necessidade fisiológica e se nutrir o corpo, do quanto isso faz bem à vida, atribuindo-lhe, a sua própria revelia, um gosto uniforme por tudo, como aquele glutão que nada recusa, não tendo, a esse respeito, quaisquer idiossincrasias, achando mesmo que isso de gostar de uma coisa e não gostar da outra é puro charme, talvez mesmo esnobismo, tentativa de parecer mais refinado (a ponto de só consumir açúcar mascavo), do tipo que seleciona, e não come tudo o que lhe oferecem.


Há quem diga que o ramo da alimentação tem genuína garantia de sobrevivência, na medida em que se alimenta (até ele!) da impossibilidade, salvo ascetas ao extremo ou da extrema pobreza, de se não-comer. Comer, portanto, é mesmo o melhor para poder “crescer”, especialmente se, em vez de se oferecer qualquer coisa, baseando-se tão-só na intuição (que nem sempre é suficiente para encher a barriga) ou mesmo num gosto pessoal, ou então porque esse ou aquele, tendo experimentado isso ou aquilo que fizemos, disse-nos que deveríamos vender, abrindo um negócio, sem que assine conosco um contrato pelo qual, pelo menos ele, se compromete a ser nosso regular freguês, parte-se para algo mais racional, uma bisbilhotagem, com a chancela de ser científica, através de pesquisa que quer descobrir nossos gostos, até os não reveláveis a princípio, aqueles que não encontram, em qualquer esquina, sua respectiva satisfação, justamente os que nos fazem, sabendo que há como e onde satisfazê-los, deixar a razão de lado, capazes mesmo de pagarmos uma fortuna por esse prazer.


Houve tempo em que comer bem estava diretamente relacionado ao comer bastante, e as suas consequências visíveis, dada a desproporção entre a ingesta calórica (isso é bem coisa do nosso tempo) e sua perda necessária pela queima muscular, era um sinal a mais de saúde, símbolo, inclusive, com sua proeminência, do bem-viver. Agora, mais calóricos os alimentos, menos ágeis e ativos nós, é um risco calculado o ato de comer, quase uma experiência bioquímica, além de (indigesta) matemática a temperar cálculos insípidos cujo resultado nos dirá se podemos ainda nos dar ao luxo de uma mínima sobremesa, ou se teremos, por erro de cálculo, de abrir mão dela, por dias intermináveis.


Mas, quem vive do comer alheio (e não de comer o alheio) parece ir bem, embora, como eternos insatisfeitos, como se jamais se sentissem suficientemente nutridos, tenha sempre do que reclamar: quando não, dos impostos que recaem sobre os alimentos em geral, dizendo-se fartos deles – o que mostra que nem tudo aquilo que de pode (ou se tem de) engolir (nos) faz mesmo bem.


Quem vive – se é que isso é vida – na incerteza constante de ter ou não o que comer, de um modo ou de outro, também cresce, mesmo que não na exata proporção de sua vontade de comer, cumulativa como é: e chego a me sentir culpado de, aqui, tanto repetir “comer” ou “como” (“como” verbo egoisticamente na primeira pessoa ou “como” conjunção – o que pode tornar isto, por si, já de difícil digestão, intragável opção).


Um dia, cantou-se o contrário do “comer, comer, para poder crescer”: crescer, crescer, para só (depois que o bolo estivesse crescido) comer – e dele mal sobraram migalhas. O que se viu, no entanto, é que o bolo continua crescendo, sem sua prometida divisão. Ironicamente – e isso não é “papo” meu -, aquele que sugeriu essa receita, espécie de “delfim” da economia de então, é, ainda hoje, a robusta imagem, no “papo” e abaixo dele, retrato de uma barriga cheia, do que seria uma sociedade justa, com a obesidade a que todos “têm direito” como o fiel da balança.


CHICO VIVAS

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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

DIA DO DINHEIRO




Cada um tem sua receita, mas não se trata de nada muito original, embora, depois de tanto tempo, de tantas tentativas (algumas, provavelmente, com êxito, mal se sabendo se isso se deveu a se ter seguido, rigorosamente, a dita receita, ou se interveio aí o acaso, esse ingrediente verdadeiramente milagroso), não se conheça seu autor primeiro, tendo passado, de geração em geração como passa, por modificações, mesmo que nada notável, a ponto de ainda se identificar, de imediato, do que se trata; porém, se se for mais fundo, há de se encontrar certos traços mais particulares.



Entre os tais ingredientes, não podem faltar TRABALHO (que não se acha mais tão facilmente e que, não raro, entra na receita por mera tradição, ainda que se desconfie de que ele não é tão fundamental assim), ESFORÇO (que para alguns é mesmo sinônimo de trabalho, espécie de trabalho a mais, mas que pode ser entendido como a esperança envergonhada daqueles que preferem dizer que não desistem nunca), FÉ (um tipo de açúcar de confeiteiro que, espalhado por cima, não altera significativamente o bolo, servindo mais como enfeite, daqueles que, pronto o que mais importa, até atrapalha). Em algumas receitas, um tanto quanto rabiscado, sem caligrafia caprichada, quem sabe se assim de propósito, tendo-se a intenção de fazê-lo passar despercebido (para não melar a fé – de açúcar como é – e para não desvalorizar o esforço e o trabalho), aparece o ACASO – e que ninguém sabe muito bem o que é, onde encontrar (se encontrar, foi por acaso), conhecendo-se, tão-somente, sua capacidade de potencializar o bolo ou, como se lhe tirasse o recheio, esvaziá-lo de vez.



Essa é uma receita que se costuma autoprescrever: evita-se prescrever aos outros porque um dos grandes prazeres de se ter um bolo de dinheiro é tê-lo com alguma exclusividade, pois se se percebe que ele se tornou um arroz-de-festa, algo do seu doce amarga.



Há quem fique de olho da cozinha alheia para aprender o truque, acreditando, como parte da mística de se cozinhar, que não basta se seguir a receita, timtim por timtim, mas que é preciso dar aquele toque pessoal, não se importando então em se tomar para si um toque alheio, como se fosse mesmo pessoal.

Muitas vezes, isso tudo dá um bolo!...



A massa, no entanto, gosta de crer que, de repente, sentindo um cheirinho de dinheiro no ar, uma fornada desse bolo sairá e lhe será servida de bandeja: que nem precisa ser uma salva de prata, que nem precisa vir acompanhado por um bolo de gente numa salva de palmas, já que isso despertaria a atenção dos outros que, gulosos igualmente, quererão para si uma fatia: e sabe-se que um guloso de verdade jamais se contenta com pouco.



Pode parecer que até aqui venho mantendo isso em banho-maria, cozinhando em fogo brando, sem declarar, explicitamente, se também eu faço parte dessa legião de cozinheiros. Digo apenas que se já tivesse tirado o meu do forno, tirando, simultaneamente, o meu da reta, chamar-me-ia de cultor do bom paladar, amante da gastronomia, desbravador de sabores sutis.



Como não, dá para se adivinhar o quanto ainda tenho de ralar, que a vida não é mesmo doce de coco.




CHICO VIVAS
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terça-feira, 4 de outubro de 2011

DIA DO CÃO


Cachorro sem dono – porque cão não é uma palavra tão viralata – é uma dessas expressões que evocam uma imagem com tal força que, popular como é, dificilmente encontra comparação num linguajar mais erudito, e mesmo na mais alegórica das poesias.

Cachorro assim é relativamente fácil de ser identificado, embora essa facilidade toda não se traduza num retângulo de metal, sustentado por uma corrente-coleira, trazendo gravado seu nome, ou, talvez, o do dono – o que só aparentemente revela a importância do cão, dada, como se poderá pensar à primeira vista, a preocupação do dono em ser encontrado, no caso de perdido esse seu cachorro: só aparência, pois muito provavelmente é o dono quem quer ser encontrado, independentemente de qualquer cão.

Sem dono, esse cachorro, valendo-se de alguém que lhe passa por perto, mesmo sem lhe dar atenção, até se desviando dele, como se fosse um incômodo, um obstáculo ao seu livre caminhar, e, condicionado a isso por sua solidão, começa a segui-lo. Esse que passa, em geral, não percebe, de imediato, a perseguição, se pudermos chamar assim a um terno acompanhar, crendo que, ao léu, na ausência de um dono que lhe tome as rédeas (seu burro: é coleira!), o cachorro, só por coincidência, está indo na mesma direção, podendo estar (segu)indo um outro, que isso não lhe faz a menor diferença.

Mas, alguns trechos vencidos, cão no calcanhar ainda, sem, no entanto, ameaça de mordidas, sabendo-se não ser seu dono, percebendo-se que o cão não é “de raça”, o que poderia fazê-lo pensar duas vezes, tenta-se, com palavras, livrar-se dele: e raramente são palavras gentis que lhe pedem, por favor, que siga seu próprio caminho.

Insistente o cão, instintivo o cachorro, quem sabe se já vergado sob o peso de outros desprezos, faz de conta que não entende aquelas exortações que lhe são lançadas no focinho, ou até as entende como se fossem um incentivo, como se aquele que então diz tais palavras, por trás delas, não desejando dar essa impressão assim de cara, quisesse mesmo sua fiel companhia. E esse incomodado, quase já a perder a paciência com o cachorro, olhando em torno, achando-se já o centro de uma anedota, como se o cão, ao seu lado, sublinhasse uma característica cômica que, sem ele por ali, passaria despercebida, chegando ao ponto de, mirando um desconhecido, tomando-o por um daqueles que estão prontos para estourar numa sonora gargalhada, apressa-se em lhe dizer, como se lhe apresentasse um prova cabal: esse cão não é meu.

Notar um de nós “sem dono” já não é tão fácil assim, ainda que haja os que, desacostumados a pertencerem-se a (si mesmos) ou achando mais confortável (para si mesmos) pertencer a outro, não sai de casa sem uma correntinha com um penduricalho com seu próprio nome (ser chamado pelo nome já lhe dá a sensação de pertencer a alguém) ou então com a identificação do (seu) dono, ainda que este, há muito, tenha deixado de contabilizá-lo como propriedade sua, não se lembrando sequer mais dele, nem de, um dia, ter-lhe posto aquela medalha do pescoço, tanto que nem fez questão de pedi-la de volta.

Será que os cães, com o faro que têm, também sabem observar qual de nós, em nossas andanças que simulam destino certo para camuflarem caminhos ignorados, é sem dono? O que será que sentem(?), quando, sem dono, sem rumo, mesmo sem nos darmos conta disso, aproximamo-nos deles, insistindo, se eles, sem palavras, mas com suas onomatopeias eloquentes, parecem nos dizer “não”, que eles têm já seu dono; “não”, ainda que, mentindo então, sejam mesmo cachorros sem dono?

Só a beleza de uma poesia incomparável, somada à força do riso amargo, mais uma imagem que fala, simultaneamente, ao erudito e ao popular, é capaz de juntar cachorro sem dono a um homem sem dono, arrancando-nos gargalhadas que, nos mais atentos, ferem a garganta, provavelmente por tocar numa corda tensa que preferiríamos manter completamente muda.

CHICO VIVAS

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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

DIA DE SÃO MIGUEL ARCANJO


Carinha de anjo!... E isso sempre nos remete, barrocos mesmo sem o saber, talvez mesmo sem tanto horror ao vazio (horror vacui), àquelas caras rechonchudas, pálidas com leve rubor nas maçãs algo salientes, olhos azuis copiados em geral aos tipos comuns em volta do “retratista”, além de uma obesidade, hoje indefensável, que parecia comprovar as delícias que os céus (nos) reservam, com seus rios de leite e mel. Anjos, contudo, crescem, tornam-se mar-manjos, sem que isso signifique uma real ascensão na hierarquia angelical, tornam-se até barbados, já sendo coisa de outros tempos (nessa atemporalidade em que “vivem”) os rostinhos escanhoados, ainda que brilhe o azul dos olhos, em que pese a possibilidade de tom assim se perder facilmente em meio ao azul eterno de uma existência sem problemas.


Se Miguel já nasceu marmanjo, barbado e de armas em riste é coisa de que não sei, como desconheço se, criança (se o foi algum dia), sonhava em, crescido, cultivar máscula barba (quem sabe se para assim deixar para trás, de uma vez por todas, as indefinições de gênero, motivo, talvez, de bullying entre outros seres igualmente celestes, mas bem mais definidos). E não se acha Miguel por aí, flutuando em nuvens pintadas, como que dependurado em fios invisíveis, preenchendo os vazios que fazem horror aos barrocos. Se se quer dar de cara com ele, com sua cara de anjo improvável, com sua barba respeitável e um tanto quanto ameaçadora, que se vá ao seu encontro nos campos de batalha, pois é lá onde se o poderá achar, na sua lida eterna de guerreiro, de exterminador do mal.


Miguel, destacado para cumprir as ordens da justiça (divina) – e como gostamos de repetir, mais pelo gosto da frase do que por acreditarmos rigorosamente no que ela expressa: ordens judiciais não se discutem (ainda mais se são tão superiores que não deixam margem a qualquer recurso protelatório) –, estava ali, apontando a saída, a serventia de uma casa que até então era o (verdadeiro) Paraíso, para um seu, até então, igual, anjo como ele, cheio de luz (Lúcifer), mas que ou cedeu à sedução adolescente de enfrentar o "Pai" ou previu o tédio de uma eternidade (eternamente) submissa e, percebendo demanda reprimida para benesses mais imediatas, quis avançar num mercado ainda não devidamente(?) explorado, à custa de ser mandado embora (de casa), pisado com uma literalidade que faria corar os defensores dos direitos "humanos".


E ninguém enxerga na força (do) policial, destacado (às vezes, um destacamento inteiro, nem sempre um policial “destacado”) para cumprir uma ordem de despejo emitida pela justiça, com suas armas de ofício, com sua cara escanhoada, com raros olhos azuis, a presença de um anjo, vendo somente o braço forte de uma autoridade exterminadora, ponta-de-lança de uma justiça que alimenta, especialmente nos que cultivam o gosto pelas repetições, a ideia de que suas decisões são para ser cumpridas, imediatamente, embora, pensando em sua própria sobrevivência, sempre deixe entreaberta a porta para novos recursos.


São Miguel – sempre, nós, indecisos entre o Paraíso com restrições e o descumprimento da lei, desde que este nos acene com promessas –, rogai por nós, meu anjo!


CHICO VIVAS

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terça-feira, 27 de setembro de 2011

DIA DO ENCANADOR


Desencane! Inclusive do temor, algo justificado, nesses dias em que o tempo (já passado para nós) se tornou um estigma, espécie de tiara de ferro em brasa que, cingindo nossa fronte, denuncia-nos, de cara, alardeando o quanto de tempo já nos é passado, de – que temor! – usar palavra assim, com todo jeito de gíria datada, por mais “bacana” que isso, “bicho”, pareça a alguns, isso de usar gírias, quaisquer que sejam, como se seu uso, por si, nos elevasse, de imediato, à “crista da onda”, fazendo-nos, eventualmente feios, de uma hora para outra, cheios de charme, surgirmos como um verdadeiro “pão”.


Se há os encanados – seja pelo medo reiterado de alguns de se meter em aventuras sedutoras, sustentando assim o eterno receio de se entrar pelo cano, seja, pelo contrário, por se viver se aventurando, já quase com morada fixa em canos diversos -, há, tendo em vista mercado tão promissor, os encanadores que, curiosamente, contrariando certa impressão primeira, não são profissionais – por escolha própria ou por falta de outras opções – que têm por função nos encanar, mas, justamente, tirar-nos de uma fria, quando a água aquecida, mesmo que em dias de inso(l)fismável calor – ah! desencane quanto a esses meus joguinhos infantis de palavras -, insiste em não dar o ar (e o vapor: que barato!) de sua graça, sabendo-se que isso não nos sairá assim, de graça, tendo-se de pagar pela água, quente ou não, pela energia que lhe empresta calor, além de se ter de pagar o próprio encanador em pessoa.


Mas, há frias maiores do que a impossibilidade circunstancial de um banho aquecido indispensável, nem que assim somente pelo hábito ou por não se querer se aventurar entrar numa (ducha) fria: ficar sem água, por defeito do encanamento, em qualquer temperatura, ou então ter água, fria em geral, por todos os lados, inundando nossa paciência, essa presa fácil de todos os naufrágios.


Chamem o encanador, ó, encanados! E ele virá, com ar blasé, entre o salvador-sem-o-saber (que é) e o redentor que, sabendo (o) que é, aproveita para, com olhar panorâmico e condescendente, diante da expectativa de um pecador prestes a ouvir, veredicto já adivinhado, sua sentença eterna, prolongar seu exame, coçar o queixo, rir de lado, observar tudo, enquanto decide se a danação desse “encanado”, pensa o encanador, deve ser leve, quase um paraíso (não é nada sério: uns ajustes aqui, outros acolá, e logo tudo resolvido estará), ou se um purgatório surgindo (olha, não vou te enganar, mas isso vai durar uns dias para consertar), ou, como um banho de água fria nas nossas teimosas esperanças, um previsível inferno (vamos ter de trocar todo o encanamento) – e isso, sabe Deus quanto vai durar, quanto vai (nos) custar!


Talvez como vingança – com sentimentos assim, como não saber, de antemão, o veredicto do Sumo-Juiz? -, esse danado do encanador, se resolve, de graça, seus próprios problemas, sem entrar pelo cano, sem ficar encanado, se seu problema, no entanto, é um joguinho (infantil que seja) de palavras, mesmo tão experiente, gato (e isso não é gíria) escaldado, chamando-me, desesperado já, em seu socorro, como se eu fosse um (des)“encanador” de palavras, gaiato como sou, acabará entrando, sim, numa tremenda fria.


CHICO VIVAS

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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

DIA DO CONTADOR


Com cálculo, mas nada tão frio quanto um presumível clichê, refiz as contas, contando com a possibilidade de, num ajuste de contas comigo mesmo, sem outro adversário, cortar alguns custos, sem perceber, nessa operação de guerra, o custo suplementar que isso implicaria em meu já apertado orçamento, um saco, um dia, tido por mim como sem fundo, dada a facilidade com que, com a ilusão do crédito que bate à porta se oferecendo todo, mas não costuma bater à mesma porta para cobrar (mesmo quando as contas, essas “faturas expostas na privacidade”, se acumulam por debaixo da porta), ia ali metendo, sem pudor aparente, minhas mãos, saindo disso tudo, como se escapando de um aperto circunstancial, com renovado prazer, até que, esgotado, tal qual um saco já sem saco para meus arroubos consumistas, para minha rapacidade financeira, para minha luxúria por bens sequer de comprovado luxo (porque me deixo seduzir por uma boa aparência), dali, por mais que eu clamasse a um salvador, providencial redentor, um cristo de braços abertos para acobertar minhas irracionalidades compulsivas, não mais me escapava um níquel, nem uma moedinha sem valor de face considerável, apenas um engodo para, atirando-a na fonte, já saturada de desejos desvalorizados pela inflação das necessidades que se atropelam umas às outras, alimentar minhas esperança de fazer as pazes com os credores.


Tenha ou não calculado mal, passando um pente fino, cortei, a custo, o que me pareciam fios de pouco calibre, desnecessidades com aquele ar de “não me corte” de cortar o coração, com o peito se acelerando, ávido eu por, chegando ao fim, descobrir, afinal, que logrei êxito, que, apertando aqui, e mais ainda acolá, eis que surge, refulgente, sol cheio de promessas, uma folga, abertura a calhar para meter a mão no bolso e, saco que é, sem remexer muito nessa área tão delicada (em que nem mesmo pentes finos entram – quando era moda, hoje atitude saborosamente cafona, o pente (fino) se acomodava no bolso de trás), sair disso com alguns trocados.


Surpresa, para mim, não foi um sucesso que já não esperava; nem mesmo que os trocados que emergiram dessa operação de escavação profunda fossem mais do que simples troco que se despreza sem dó, até se sentindo aliviado por deixar de lado tão incômodos miúdos: surpresa foi descobrir que mais prazer do que nessa pescaria, como se fizesse um resgate no fundo de uma fonte cheia de desejos traduzidos, em diversas língua, em moedas aos montes, tive em todo esse cálculo, em me ajustar a um saco já de boca fechada para mim; em, tesoura na mão, cortar custos, em passar um pente fino.


Não digo que nunca mais comprarei: há água que ainda quero beber, há prato que ainda quero comer – e tudo isso, meus caros, custa. Não digo que jamais, outra vez, passarei da metade do saco, ficando mais próximo de sua boca, saída de emergência, do que do seu fundo, ponto do qual, se não se sai logo dali, não se sai nunca mais. Não digo que, a partir de agora, faço-me contador ou, pior(!) ainda, um sovina convicto, um avarento para o qual a fonte dos desejos, com moedas ali sendo jogadas, é um pesadelo inimaginável.


O que tinha a dizer, sem mais cortes, dito está.


CHICO VIVAS

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terça-feira, 20 de setembro de 2011

DIA DO POMBO DA PAZ


Malditos!

Ah! Que vontade de, declarando-lhes guerra, abrir fogo; e não me sendo suficiente a trilha original dos projéteis cortando o ar em acelerado disparo, fazendo-os ainda acompanhar por sua própria onomatopeia, língua solta, olhos significativos, talvez mesmo dentes cerrados, como se toda essa pantomima aumentasse o poder destrutivo da minha munição, potencializando-a, a ponto de, com uma única bala – que doce vitória! -, abater mais de um desses (inimigos).

Mas, dizendo assim, arrisco-me a despertar uma pena-trocadilho ou, e não sei se isso é ainda pior, atrair a ira dos pacifistas, capazes que são de levar a ferro e fogo, nem sempre mantendo essa ordem, seus ideais de paz, mesmo sabendo que isso não passa de um ideal, estando aí, provavelmente, seu real valor: uma busca persistente por um objetivo que não se alcança definitivamente, mas que pode ir sendo construindo, se não se desistir no meio do caminho.

Vivem em nome da paz, sem que se conheça procuração passada por ela para que se a defenda, falando por si mesmos. E creio que, se a paz intervier, pedindo a palavra, como se surpreendidos, ainda que circunstancialmente, os direitos do(s) procurador(es), eles são bem capazes de dispararem palavras duras, que podem até ter maior poder destrutivo do que um projétil real, não requerendo, ao contrário de um destes, que exige que se acerte na mosca (ou bem próximo dela), as palavras, uma mira exata, porque as batalhas verbais não são devastadoras apenas pela perícia da língua de quem as desfere, mas, em tantos casos, despreparados que somos para encarar lutas assim, aparentemente inofensivas, salvo um ou outro dano na sensibilidade ou na moral (o que tem cura), dependem do alvo se manter fixo, tal qual se agir assim, escutando tudo calado, fosse sinal claro de bravura, em lugar de, agitando-se, não esperar que se lhe desfechem todas as setas antes de, com aljava improvisada, lançar as suas, com a desvantagem de estar, eventualmente, fazendo isso pela primeira vez – quem sabe, a última.

E sei até onde gostaria de atingi-los: no peito!

Até aí, há de se pensar, nada de muito original, porque, afinal esse é sempre o alvo predileto: seja como um ponto real, local exato, seja como símbolo do que há de mais vulnerável, pois mesmo quando o dano físico não chega a ser fatal, se se acerta em cheio, mirando o ponto fraco e acertando o coração: vitória!

Não posso, contudo, continuar assim, aqui. Escrever implica em me manter num só lugar, até ao menos que chegue ao fim. E isso, isso de estar fixo, me faz o alvo perfeito para seus disparos corrosivos que, além do impacto escatológico, por menor que seja, ainda atrai, se não estiver imune a isso, danos a mais.

Vê-los juntos, pombos que são coletivos, desperta em mim um desejo sanguinário de partir para o ataque; porém, trocaria o bando inteiro, até me comprometendo a alimentá-lo(s), por um único, um “da paz”, vestido de branco, exibindo suas penas como um mártir alado que se pretende imolar em nome da humanidade (como se isso valesse “a pena”), embora mais efeito às coisas da terra, do chão firme, do que a esses céus, tão insustentáveis como qualquer ideal, morada, para alguns da própria paz.

Então, mandem esses pombos para lá. Ou eu os mando para o inferno.

CHICO VIVAS

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quarta-feira, 14 de setembro de 2011

DIA DA CRUZ


Credo in cruz.

E você, crê em cruz?

Não há, aqui, qualquer outra alternativa, fora de um sim ou não, para que se possa marcá-la, com uma cruz, uma cruzinha que seja.

Há “cruzes” enormes que se carregam no peito, seja porque é ele que sempre as sustenta, ou porque é dele, descarregando-se, sem, no entanto, esvaziar-se, que tantas cruzes se alimentam, (re)carregando-se, em nome não do Pai, mas da sua própria sobrevivência. E quem tem a sua sabe que ela não admite diminutivos, já que isso, isso de seu tamanho externo não corresponde ao seu peso potencial, maior ou menor, a depender de como se a carrega, porque, com o tempo, mesmo que não demos por isso, aprendemos a lidar com nossa(s) cruz(es), mudando-a(s) de posição em busca de algum conforto, se é que se pode falar nele em tal situação.

É difícil, fora da fé carregada do peso ideal(!) agora para um alívio depois, com a promessa de ser assim por todo o sempre, enxergar algo de positivo na cruz, tão associada – eis o X da questão – à eliminação, ao que foi riscado do mapa, sendo que, ainda que saibamos de uma existência, sem sua representação documentada, traços desenhados num mapa, acabamos por dela duvidar, ainda que se trate da nossa própria existência, apesar dos fardos, outro nome tecido para a cruz, a nos lembrar de que estamos aqui, se não por outra razão, para carregá-los, como uma cruz.

Cruz também é próprio dos nomes: e quem o carrega, nem por isso, trazendo-o(a) tão perto de si, sente um peso a mais, a menos que se tome, por eventualmente não ser tão ilustre como se gostaria, tal nome como um fardo, tornando-se um sacrifício que se tem de levar vida afora, embora, no trato cotidiano, se possa esconder esse(a) Cruz, havendo, porém, momentos, carregados de formalidade, em que se tem de declará-lo, em alto e bom som, às vezes sob os olhares (e ouvidos) de outros, alardeando, contra a própria vontade, essa cruz que se carrega.

Mas, há fardos bem maiores. Demonstração clara do quanto não nos satisfazemos com o que temos é que alguns trocariam o(a) Pena que carregam, leve por natureza, portanto, aparentemente, sem que isso lhe pese, por um(a) Cruz, enquanto – cruzes! – o sonho de um Cruz pode ser justamente o Pena por outros tão desprezada.

Eu também tenho a minha cruz, que sequer é o Oliveira que me encerra, jardim que não encontrou em mim árvore ideal, estágio anterior, parada obrigatória para a última noite, antes da cruz a vir. A minha, como qualquer outro, carrego no peito, sem que se possa enxergá-la, mesmo se me rasgarem as vestes na intenção de assim se revelar meu íntimo. Carrego-a há tanto que parece já um sacrifício eterno. E os meus descansos, para me recarregar, é justamente a pena, mesmo que hoje ninguém fale mais assim: nem por isso deixa de ser uma pena.

Diante das alternativas, mero sim ou não, cruzo os dedos, e aguardo pelo acaso. Se nada acontece, descruzo-os e me apego à pena, como a uma tábua de salvação – e nem guardo expectativas de que seja uma salvação eterna, até porque, se assim fosse, salvo então, para que ainda me apegar a penas, apenas pelo hábito, como aquele que, de tanto carregar seus fardos, quando já não há cruz a levar, ainda sente seu peso em si?

CHICO VIVAS

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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

DIA DA BAILARINA





A moça de corpo perfeito rodopiava na ponta dos pés sobre o ângulo enviesado do espaldar de uma cadeira que se equilibrava, por sua vez, hesitante nessa brincadeira circense, num único pé, e assim sobre uma mesa plenamente assentada, com a firmeza dos seus quatro apoios clássicos, no chão: mesa esta que não se movia diante da cena dessa corajosa dançarina na ponta da sapatilha gasta de tanto ensaiar a vida, coreografia exigida às primeiras-bailarinas de qualquer corpo...de baile.


Então, vem um vento forte – e logo se pensa: desequilibrou a moça que faz parte do perfeito corpo que baila. Não! O vento sopra e aumenta a velocidade das voltas que ela própria dá, levando consigo a cadeira a, cada vez mais, rodopiar na ponta dos seus pés sem dedos, descalça, sem calços, sem calos, muda bailarina treinada na dança das cadeiras e do ventre, sem ancas, com molejo, sem cintura, com reboladinhas de moça – mesmo que nem sempre feitas à perfeição que se lhe exige.

Por mais que gire, como um pião sem freio, a cadeira que leva a bailarina, sem a conduzir, não altera a natureza da mesa, com todos os seus pés, como matrona solene, postos sobre o chão, sem direito a tonturas, a vertigens, a perder a cabeça, que, aliás, a mesa não tem, embora uma cadeira possa lhe ficar à cabeceira.

O chão, nesse imóvel, sustenta a mesa, a cadeira, a moça que dança e que vacila quando o vento a beija à força e solta seus cabelos, então presos num coque no alto da cabeça, desarmando o cuidadoso penteado, espalhando os fios sobre o rosto perfeito, cobrindo seus olhos, que piscam.

Aí entram as mãos, e logo afastam os cabelos revoltados de sua face afogueada por tantas idas e vindas. Mas esse movimento inesperado, não calculado nos ensaios árduos, à custa de calos na ponta dos pés, desequilibra sua dança, faz com que erre o pé no ângulo do encosto da cadeira-bailarina, transmitindo-lhe o impulso discordante, abalando seu sutil bailar numa perna só, torneada por exímio artesão, até que, finalmente, cai: primeiro, a cadeira que dava voltas sobre a mesa; a seguir, a moça, perdendo o prumo.

A mesa, no entanto, praticamente, não se abalou. O chão, do mesmo jeito, não saiu do (seu) lugar. Não houve lágrimas no rosto da dançarina – que, diga-se, pouco se machucou. Da cadeira, não se esperava mesmo nenhum choro, embora tenha quebrado uma de suas pernas desenhadas, apesar da madeira firme que há muito lhe dá corpo.

A bailarina, como se numa caixa de música, quando acaba a corda e finda-se a música, parecia um corpo inerte, de madeira, bem torneado é verdade (sabe-se lá pelas mãos de que coreógrafo exigente, em tantos ensaios), vai, pausadamente, voltando à vida, calada. Levanta-se; tenta levantar a cadeira – que não fica de pé por agora lhe faltar um dos seus. A mesa assiste a tudo e não as assiste em nada. O chão, o imóvel, nada fazem não.

A cadeira é colocada num canto, destacada, por ironia, para lembrar o perigo que agora representa para quem seu corpo, perfeito ou não, queira nela descansar. A mesa olha-a de revés. O chão é o mesmo de sempre. A moça, porém, move-se algo manca, tentando aprumar-se nos dois pés, não dando olhos para os velhos calos nem para os novos machucados (que parecem, nela, já nasceram antigos), e olha em volta, já imaginando uma outra dança.

Sobe na mesa, mas crê que isso é uma chã exibição, aquém do seu talento. Quer algo mais original. Afasta a mesa. Tem agora sob seus olhos todo o chão. Vai ao centro, que calcula com rapidez, mesmo que sem exatidão. Fica na ponta dos pés, sentindo os calos nos dedos e...espera acabar a música e esgotar-se a corda dessa enorme caixa de música que é o (seu) mundo. Toma a corda, pendura o silêncio em seu próprio pescoço comprido de madona maneirista, e se enforca.

Magistral essa primorosa bailarina! Dança com tamanha perfeição a dança da vida, que nem mesmo seus pés, seus dedos parecem tocar o chão nesse seu solo-nação.

Aplausos para a estrela! Aplausos de pé. Aplausos, claro, com as mãos daqueles que, levantando-se das suas cadeiras, mantêm-se presos, ao contrário dela, ao chão: porque, além de bailarina, ela é “primeira”.


CHICO VIVAS
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quarta-feira, 24 de agosto de 2011

DIA DA INFÂNCIA



Perdida, a infância? Se isso não for coisa de criança, é certo – e só não digo que é tão certo quando a soma de dois algarismos pares iguais porque, mesmo sendo cálculo rudimentar, contam-se na ponta dos dedos as crianças que estão preocupadas com qualquer prova dos nove, se é que alguma delas se preocupa, com o que quer que seja.

É o destino de toda infância ser “perdida”, já que sua preservação significa(ria) o embalsamamento de uma vida com tantas possibilidades ainda pela frente. E parece ser o destino de todo aquele que a perde, sem chorar por ela no momento em que a está perdendo, às vezes, não vendo a hora de a deixar definitivamente para trás, lamentar-se, lamentando sua perda, com uma nostalgia fantasiosa que costuma emprestar àqueles dias um aspecto de reserva, já inalcançável, dos melhores dias de uma vida, ainda que a vida de então passasse longe de ser das melhores, lamentando, ao mesmo tempo, a infância se perdendo a olhos vistos em terceiros, em crianças achadas em qualquer canto, mal conseguindo admitir que mesmo aquelas, sobrevivendo à iminente perda da infância, podendo ir-se juntamente com ela, poderão, mais adiante, olhando sua história pelo pretérito, envolvendo-a com fantasia empoeirada, com nostalgia analgésica para as dores de agora, rever-se, crianças, em dias saudosos que, em realidade, nunca experimentaram.

Toda infância é um daqueles trechos que se tem de atravessar, sob pena de não se avançar na história, sendo que mesmo que se insista nisso, não querendo “crescer” (subir na vida já é outra história, com outros trechos imprevisíveis e armadilhas surpreendentes), ainda assim a vida passa, restando vê-la passar, empacados num dado ponto.

Talvez, ao contrário do que possa parecer, um dia dedicado à infância não seja coisa de criança – que já tem seu próprio dia, embora, com esperteza ingênua, repita sempre que todo dia deveria ser seu -, mas de quem já não o é, tendo necessariamente sido, à vontade então para rever suas saudades, pouco importando o quanto disso é documental, o quanto é involuntariamente ficção, ou para refletir sobre as infâncias diante de seus olhos, tão cruelmente documentadas que a soa a ficção inspirada: e em qualquer dos casos, o tempo que se perde não é pura perda de tempo.

Na raiz de “infância”, de qualquer uma, venha ou não, mais tarde, a dar frutos, está a ausência (ainda) de palavras, condenadas, em sua inocência, até certa etapa, ao silêncio em que não há palavras articuladas, embora sobrem murmúrios “pronunciados” com clareza exemplar: e por “tudo” o que acabei de dizer, vê-se que não sou mais nenhuma criança, ainda que possa, por estas palavras, parecer tão...infantil.

CHICO VIVAS

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domingo, 14 de agosto de 2011

DIA DOS PAIS



Meu Pai do céu!


Já tendo sido reservado – talvez por uma delas – para as mães o paraíso, ao preço (para algumas, barato demais, encontrando algum “barato” nisso, enquanto que para outras, baratas-tontas em meio a tanto (a)fazer, cara em excesso) de certo sofrimento poético, por mais que as dores lhes sejam sensíveis na carne, ascendendo por vezes, à flor da pele, quem sabe se a tal poesia vinda do fato de se encontrar mais facilmente rimas para dor, o que resta para os pais?


Nem toda poesia, mesmo que feita por eles mesmos, seria capaz de atribuir aos pais semelhantes dores, alegóricas que sejam, podendo-se avançar, com pragmatismo teimoso, para as dores do dia-a-dia: se não da vida vindo à luz (do dia ou da noite), das contas de luz, do custo de vida – como se esses pagamentos fossem exclusividade masculina.


Sobra, um otimista pode retrucar, a formação, o caráter, a disciplina e tudo mais que (nos) parece sem graça, apenas lição de moral aprendida, decorada e passada adiante, como se mais um traço genético, sem que se reflita sobre os acertos desses valores: sobre esse não!


Falando em valores, o que muito ocupa a vida, com os quais se desejaria encher a bolsa (ou os bolsos), o carro é (um) forte do qual a publicidade se apropriou, esperta como ela só, capturou e, inflando-o de ar, vende-o, vendendo seu peixe como se carro e homens houvessem sido, primordialmente indistintos, separados por “graça” dos deuses, sendo o reencontro entre eles o ápice dessa paixão platônica: e vende-se-o até se apelando para a segurança dos filhos, tocando, superficialmente, num ponto que lhes deixa a sensação de (lhes) ter calado fundo.


As mulheres podem ter mudado; já as mães...à parte o trocadilho a respeito do seu endereço. Os homens, meu Pai, será que mudaram: se mudaram e não deixaram endereço novo, onde entregar a conta de luz, a prestação do carro e os apelos para que, como se não bastasse ser pais, participem...de mais um concurso, em troca de muitas compras sem necessidade, que dará um carro?


Enquanto não se decide a parte que, nesse latifúndio de responsabilidades que tanto se gostaria de manter improdutivo, passando-lhe ao largo, cabe aos pais, diria uma (boa?) propaganda que nunca é tarde para se pensar no bem-estar dos filhos, apresentando, em filmes que transbordam virilidade, mais um carro como a oferta do dia, deixando às mães, propaganda subliminar, o retrovisor – afinal, sabe-se como são as crianças no banco de trás.


CHICO VIVAS
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quinta-feira, 11 de agosto de 2011

DIA DO ESTUDANTE


Há um personagem de Tcheckov, no Jardim das Cerejeiras, ao qual se se refere como o “eterno estudante”, uma daquelas pessoas que, como outras tantas que conhecemos, está sempre em busca de algo – no caso, de aprender -, nunca, porém, encontrando, “achando” aí justamente o combustível necessário para prosseguir na busca, para perseverar nos estudos: e como aprender goza de boa reputação, mesmo sabendo-se que não se pode aprender tudo, ei-lo plenamente justificado.

O mau de jamais se dar por encerrada uma busca é que isso pode estar encobrindo o temor do encontro, as responsabilidades do conhecimento e o possível e superveniente tédio de não se ter mais o que aprender, até, ao menos, que se inicie renovada procura, com o ônus de estar partindo de novo do zero, quando, ao se se manter num eterno processo de aprendizado, por menos que se tenha verdadeiramente aprendido, é possível se dizer, se não a todos, a si mesmo que se caminhou nessa busca.

Algo semelhante acontece àquele que, seja por involuntária insegurança, quase já a beirar a inconveniente patologia, ou por um excesso, não menos doentio, de autocrítica, ensaia, ensaia, ensaia, e adia sempre a estreia, com o argumento de que o espetáculo ainda não está de todo pronto: e quando, afinal, às vezes levado a isso por motivos externos, ainda que não se possa deixar de considerar que sua aflitiva insegurança, que sua exasperante autocrítica tenha chegado a tal ponto que se lhe torne menos doloroso encarar, de uma vez, essa estreia, quem sabe se empurrado para essa protelada decisão por uma intuição, resolva abrir a cortinas, poderá ser informado (no fundo, talvez já soubesse disso, de tanto procurar saber) que o teatro está fechado – e não por hoje, encerrada a função do dia, mas para sempre.

É comum se ouvir dizer que o segredo do sucesso (de um) profissional está em não deixar de estudar, de estar sempre se renovando, atualizando seus conhecimentos, como se o saber de ontem cedesse seu lugar para o de agora, quando o saber da vez não pode prescindir do que já se aprendeu: e isso faz de todos eternos estudantes, mesmo que tomem decisões, que não adiem a estreia, mas sempre assombrados pela perspectiva de que uma hora de sono a mais pode significar ser atropelado pelos fatos ou ultrapassado por um notívago que aprendeu “isso” a mais.

Assim é que estudar não é mais um tempo que se dedica ao conhecimento – e o oficial nem sempre é interessante, raramente proveitoso –, com a certeza de que chegará ao fim, sentindo-se pronto: a depender do profissional, pronto para, com seus próprios alunos, olhar todos aqueles estudantes experimentando o começo de uma longa jornada. Agora, é como se já se nascesse sabendo; e todo conhecimento posterior não passe de constantes atualizações.

Falando desse jeito, não deixo espaço para muitas dúvidas: fui (ou será que ainda sou, a cada atualização?) um estudante à antiga. Velho, eu? No mesmo “Jardim”, o velho mordomo da família aristocrata, falida, caindo nos braços robustos, apesar de suas resistências de classe, da burguesia endinheirando-se, confrontado com o fato de que ficara velho, sentencia: “Talvez seja porque estou no mundo há muito tempo”.

E este mundo é exasperante para quem, acreditando na necessidade de não ficar para trás, quer conhecê-lo todo, como se fosse possível ir a todas as estreias, ao mesmo tempo.

CHICO VIVAS

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