Quem (já) passou pela vida, tenha ou não vivido (como gostaria), talvez se “lembre” da Marquesa de Santos com a beleza madura de Glória Menezes, em Independência ou Morte, uma quase-vilã naquele filme-propaganda dos anos setenta. Os mais contemporâneos, embora, ainda assim, localizados no século passado, podem associá-la à beleza juvenil de Maitê Proença. De fato, no entanto, a se dar crédito a pesquisas historiográficas, Domitila de Castro Canto e Melo não era nenhuma Lady Di, estando mais para a “originalidade” britânica de uma Camila (Rosamaria Shand) Parker-Bowles: e isso, como se sabe, não impediu, ou impede, até onde parte dessa história ainda é tão presente, que elas tivessem devotados príncipes, com uma literalidade que dispensa aspas, tendo-os mesmo aos seus pés, quem sabe literalmente.
Não se esquece
facilmente as (in)confidências, indignas de um bom mineiro, de Charles,
desejando ser um OB só para partilhar, num exagero de invasão de privacidade, a
intimidade de Camila. Pois Pedro, tão antes, “Demoñao” como por vezes assinava as cartas para Titília, lhe envia
um mimo:
“[M]inha filha,
já que não posso arrancar meu coração para te mandar, recebe esses dois
cabelos do meu bigode, que arranquei agora mesmo para te mandar”.
E Alberto Rangel, em
nota para Cartas de Pedro I à Marquesa de Santos (Nova Fronteira), comenta:
“Junto às cartas de dom Pedro, conservadas na Biblioteca Nacional do Rio de
Janeiro, existe um pacotinho de papel, encerrando cabelos de origem suspeita.
Dessa vez seria o imperador menos avaro dos seus pêlos(sic) mais recônditos”.
Enfim, um Pedro-pentelho!
Charles tinha, como
sombra maior do que a que ele próprio é(ra) capaz de projetar, uma princesa
cuja beleza a levava ao exagero de si mesma. Pedro, o que tinha? Uma Imperatriz
Leopoldina que jamais, mantidos os padrões, seria destaque numa escola de
samba, e cuja “originalidade” austríaca associada às infelicidades de um
casamento de conveniência (e qual não é?) não animava os desejos de um príncipe
com um ardor que só reforça a caricatura de sua latinidade morena.
“[R]emeto-te esses passarinhos que matei ontem e esses botões de rosas
e abraços e beijos (Carta de 21 de outubro de 1827).
“[D]este seu amante constante e verdadeiro e que se derrete de gosto quando...com
mecê,
O Fogo Foguinho
PS. Esta letra parece estar boa, mas mecê dirá à noite (Carta não
datada)”.
CHICO VIVAS