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sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

DIA DE NATAL



É preciso ter coragem de dizer, com todas as letras, que tudo parece já ter sido dito – com todas as letras, e até, isso nos parece, com um pouco mais – a respeito do Natal: quem sabe se, dando-se crédito a João, porque “No começo, era o...Verbo”?!

Assim sendo, que mais dizer, sem que isso seja, tão-só, o vazio repetir de tudo o que já foi dito e, dizendo-se uma vez mais, acrescentando-lhe ainda mais letras; letras essas que, se o que dito já fora foi dito com todas as letras, mas sem ir além, ocupar-se-á, agora em avançar nesse exagero sobre um tema que mais eloquente se torna se se trocar as palavras, as tantas, por algum silêncio, desde que seja um que não se associe à covarde lógica de que não é preciso abrir a boca, evitando os comprometimentos, por mais protocolares, acrescentando mais palavras, pois tudo, afinal, já foi dito, mesmo que haja lacunas visíveis, mas um calar-se que, ao mesmo tempo, dá oportunidade ao outro de falar (mesmo que essa chance que assim se lhe dá seja usada para dizer o que dito já fora), e a si mesmo de (se) escutar – seja o que muito se tem dito sobre o que já se disse tanto, seja o pouco que se está dizendo sobre o que de nós se esperava bem mais, seja, enfim, escutar o próprio silenciar.


E eu, aqui, pareço apenas (me) repetir, fazendo isso com mais palavras ainda, talvez para não me dar oportunidade de me escutar: porque não suportaria, por muito tempo, esse meu atávico tagarelar, ou porque os ecos constantes (e repetidos, e repetitivos) do silêncio são ainda mais difíceis de aguentar.
Vem-me à cabeça, num esforço que pode muito bem estar acima do meu poder, dizer algo que ainda dito não foi, buscando uma originalidade arriscada, podendo, como resultado, se exitoso então em meu esforço, dizer apenas mais uma banalidade – mesmo que original(?) -, ou, caso contrário, logrando apenas dar minha modesta(!) contribuição para a mais extensa das antologias(?!) de frases-feitas; feitas, claro, com palavras, muitas palavras, carecendo, não raro, justamente, daquele Verbo que lhes serviu, formalmente, de ponto de partida.

O ponto, aqui, é...final – ou quase.

Antes, uma recordação: nos meus dias poucos, naqueles em que as palavras não eram tantas (não havia necessidade de um largo vocabulário para os estreitos desejos de então), o que me acendia os olhos não era a promessa (que não era feita) ou a expectativa (sem a promessa, a espera se dilui) do presente, uma “embalada surpresa” para tantos – e assim mais pela falta de hábito de pontuar a data desse modo...comercial -, e que hoje se adivinha nos pedidos insistentes, mas, sim, o aparecer, como se de um espaço místico, de caixas comuns, algo empoeiradas, guardando, envoltas em jornais sem novidade agora, as peças de um presépio. Aquilo calava-me...mesmo que passasse ao largo do Verbo, tão, iconograficamente, presente; talvez porque vivendo dias em que, pelo calendário, já havia deixado para trás a gramática escolar do resto do ano.


Como já não consigo, hoje, ficar calado, nem mesmo diante de presépios (infrequentes, de resto) monumentais, mantendo minha boca fechada: FELIZ NATAL!
E está dito.


CHICO VIVAS
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sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

DIA DO ARQUITETO




Numa didática bastante infantil (apropriada para crianças), ensina-se que as palavras são como tijolos (como “tijolinhos”), e que, juntando-se umas às outras, constrói-se... Quanto ao quê, pode-se, seguindo a mesma linha fantasiosa, dizer que se constrói de tudo, tudo o que se quiser, embora, lançando uma semente de dúvida nesse mundo-em-construção, perfeito como então deveria ser, pode-se também se manter lacônico, apenas se afirmando esse “poder construtivo” das palavras, não indo, no entanto, além.

Tijolos levantam paredes, erigem muros, e tudo isso, valendo-se das palavras, pela força da metáfora, transforma-se em símbolo do “apartamento”, da separação, e que, frequentemente, é atribuído justamente à falta de palavras. Assim, tem-se que elas podem ser a unidade mínima, como verdadeiros tijolos, de um monumento ao entendimento (embora se saiba o quanto, em meio a milhares de tijolos, uma palavra mal colocada, assentada com fragilidade, fora do prumo é capaz de fazer, provocando, de imediato, às vezes, certa estranheza, com aquela sensação de que há algo errado, fora do seu lugar, mesmo que não se localize o erro em questão, e depois podendo chegar, caso tenha havido comprometimento da estrutura, ao ponto de se ter de pôr abaixo o que com tanto afinco se construiu – isso se não se quiser correr o risco de, à vontade do acaso, ver tudo desmoronar, sem aviso prévio).

A falta de palavras constrói paredes e muros que separam, trazendo consigo uma desvantagem a mais: não se identificando com exatidão o ponto de desequilíbrio, ou se atira (atiram-se palavras) para todos os lados, crendo que desse modo se derrubará essa “barreira de silêncio”, ou se cala, calando fundo em si mesmo aquele silêncio, aumentando-o por isso, fortificando-se ainda mais a estrutura que se desejava ver ruir.
Engana-se, contudo, quem acha que tal separação só se dá com o silêncio – com essa espécie de negação das palavras, descrença no poder dos tijolos -, porque as palavras, igualmente, podem ser a matéria-prima dos maiores isolamentos, infensos eles a (outras) palavras, por mais fortes, chegando-se a lançar mão, em sentido inverso, de palavras delicadas, na esperança de que isso trinque o muro, rache a parede.

Tijolos são sempre iguais. E são melhores (para a construção) quanto mais parecidos uns com os outros forem, descartando-se mesmo aqueles que apresentam um detalhe a mais ou a menos, tudo em função da eficiência da obra. Palavras são únicas, não se repetem, mesmo que “repitamos” muitas delas (enquanto construímos nossas frases): e quanto mais variadas, maior será a possibilidade de se construir melhor.

O silêncio não é nenhum furo nesta construção (aqui, de palavras): ele talvez seja, silêncio-em-bloco, o furo pelo qual o ar passa, tornando a superposição de palavras um edifício de firmeza confiável e não um castelo (sem furos seus tijolos) de cartas.

CHICO VIVAS
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domingo, 22 de novembro de 2015

DIA DO VIZINHO


Da política da boa vizinhança só restou, se tanto, a política: coisa para inglês ver, embora, historicamente, com seus interesses expansionistas camuflados(?) com a fantasia assinada por Disney, tenha mais a ver com os americanos. E ambos, em seus subúrbios elegantes, sem paredes geminadas, separados pelo respeito ao direito de cada um ter sua própria parede, independentemente de se ser arrimo de família, uns com arquitetura aristocrática de inspiração palaciana, outros, em que pese sua prestigiada república, arquitetado com referências monárquicas, ainda que devidamente revistas, convenientemente maquiadas, surgem-nos como terreno propício para se cultivar uma boa vizinhança, mantendo-se cada um na sua (terra), algo distantes, distanciados, entrevendo-se aí mesmo alguma frieza nas relações, em flagrante contraste com as nossas próprias, autoproclamadas como calorosas, sempre dispostos a emprestar ao vizinho uma xícara de açúcar, mesmo que disso ele não esteja precisando, talvez por preferir adoçante artificial, apenas para assim se demonstrar que não somos tão frios, que nos importamos com os outros.

Vizinho bom, há de garantir quem já penou com sua vizinhança, é aquele que se vê de tempos em tempos, o suficiente para que se tenha construído, nesse meio-tempo, alguma novidade em relação ao último encontro, mesmo que seja somente um mero detalhe a se acrescentar, o bastante para alimentar uma troca de cumprimentos, indesejável que haja longas histórias, cada uma com seus múltiplos detalhes, todos eles narrados detalhadamente, e justamente na hora em que de menos tempo dispomos, encurralados então entre a necessidade, quase imperiosa, de pormos um ponto final nessa(s) história(s) e a de não parecermos um daqueles vizinhos mal-humorados, do tipo que se deseja que, um dia, precise, preferencialmente ainda hoje, de uma xícara de açúcar, crente ele de que somos sua salvação, para, havendo tábuas de sobra, deixarmo-lo naufragar, amargamente, ou, o que talvez gere maior prazer, o de servi-lo sim, com multiplicada prestimosidade, oferecendo não uma xícara, mas o quilo, pacote ainda fechado, na esperança de que isso lhe chegue, apesar da doçura evidente, como uma tapa bem dado.

Mas há vizinhos que mal veem os seus, não sendo, vizinhos que também são, vistos por outros, numa invisibilidade generalizada, tacitamente acordada: o que pode ser bem conveniente, especialmente quando se espera que um vizinho feche os olhos para o que, não devendo ter visto, viu, mesmo que, reciprocidade exigida para se manter o acordo, mantenhamos os nossos olhos abertos, até ávidos por verem o que não deveriam, só pelo prazer de, encontrando o vizinho, encará-lo, como a lhe dizer “eu vi”, ou, o que pode ser ainda mais eloquente, diante dele, fingirmos que não (o) vimos.

Inseguros, vizinhança deixou de ser o morador ao lado, ou mesmo o de cima, ou de baixo, para, geograficamente, designar os arredores, embora não se possa confiar cegamente nas vistosas arquiteturas como chancela de boa vizinhança.

CHICO VIVAS
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terça-feira, 17 de novembro de 2015

DIA DA CRIATIVIDADE


É preciso uma boa dose de criatividade para não se associar ela própria ao acaso, como se só pudesse acontecer assim, como um relâmpago, fugaz, inapreensível para além de meros segundos, às vezes insuficientes para se perceber o que se está passando, podendo ser que tudo não passe de um relâmpago mesmo: é duro convencer alguém de que a criatividade pode ser uma conquista baseada no trabalho, árduo até (alguns, parecendo então “criativos”, dirão que um criativo de verdade encontraria uma maneira de sê-lo sem tanto trabalho, reiterando certa ideia de que a criatividade precisa, para se revelar, de terreno fértil, sendo este justamente uma certa lassidão, o não comprometimento com o horário, como se se devesse estar sempre à disposição para quando a criatividade, enfim, desejasse, a seu bel-prazer, acontecer, parecendo mesmo que escolhe os momentos mais impróprios, quando não se tem lápis e papel à mão, tendo-se então de se recorrer à própria memória - papel que aceita, por tempo limitado, o que o lápis lhe escreve, inscrevendo nela, como se cavasse fundo, tal qual criança que, ainda inábil nessas artes, força a mão, pressionando em demasia o lápis, marcando o papel -, o que dá a falsa confiança de que, escrito, não mais se apagará.

Esperam-se comumente da criatividade soluções definitivas para todos os problemas: criativa como é, no entanto, sabe que se resolver tudo de uma vez estará matando-se, pois, sem necessidade posterior de se encontrar (novas) soluções, para que ser criativo? Só se for para inventar problemas.

Verdade que a arte – que, em tese, não tem qualquer compromisso em encontrar soluções, até se prestando mais a acrescentar novos problemas – também se vale, e muito, da criatividade, chegando mesmo a se valorizar mais aquela (arte) francamente criativa, entendendo-se isso como um ato sem consciência, um trabalho sem aparente esforço, do que uma que se baseia no estudo continuado, nos esboços reiterados, na insatisfação constante, na obra que, afinal, tendo começado, não dá a conhecer se já está no (seu) meio, fim que é adiado frequentemente para se a melhorar.

Criatividade mesmo talvez (e não afirmo, categoricamente, porque me falta criatividade suficiente para justificar, com categoria, o que afirmo) seja encontrar soluções para um problema ainda não “inventado”, sem que seja criativo de igual estatura aquele que, diante da solução já posta, usa toda sua criatividade para lhe encontrar o problema correspondente. Porque problemas são sempre mais fáceis de se achar, sendo, inclusive, a falta de criatividade um deles, embora não se possa deixar de notar que, em meio a “criativos” incansáveis, essa mesma falta possa ser a solução. Já soluções, não; não são tão fáceis assim de se encontrar, especialmente uma que venha precedida por um problema bem elaborado, posto com clareza, chegando a parecer ao seu proponente, ainda que um não-criativo, uma moleza sua solução, furtando-se de encontrá-la com o argumento (ético?) de que, se o fizesse, estaria exercendo ilegalmente uma atividade reservada para outros, sem temor de se assumir como nada criativo, mostrando o quanto essa (sua) criatividade, apesar de negada, existe.

Existem até criativos de plantão, sempre prontos, burocratas orgulhosos de serem assim, para dar respostas, com toda sua criatividade de manual, para as questões. Mas estes, mesmo que achem soluções, estão longe de serem a criatividade em pessoa.

CHICO VIVAS
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domingo, 15 de novembro de 2015

DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA





O espírito irrequieto comunica ao corpo sua inquietação, e este, não podendo ficar parado, muda de lugar, e aí fica, até que, de novo, o espírito faça das suas, como se cultivasse na pele um bicho-carpinteiro que não o deixa ficar sossegado – e se isso se restringisse à inquietude d’alma, talvez daí surgisse uma obra de arte, um novo sistema filosófico, uma outra ciência, embora não baste ter um espírito traquina para se garantir um grande homem, ainda que aqueles que vieram a se tornar grandes assim, se não foram traquinas, quando meninos, perderam algo de sua real grandeza.

Mas, ao cochichar esse seu não poder ficar parado, diretamente, ao corpo, acaba por movimentar a história, fazendo de algumas personagens uns nômades anacrônicos, como se voltassem a uma pré-história, conscientes, no entanto, de que voltam no tempo sem a certeza de, um dia, perdidos no passado, reencontrarem-se com o presente.

No passado, Descartes, espírito dos mais buliçosos, prestes a conceber não apenas novas ideias filosóficas, mas a renovar a própria filosofia, ia de um a outro país, não esquentando lugar em nenhum, sempre em busca de tranquilidade para...pensar. Correu boa parte da (sua) Europa, indo parar na Holanda. Lá, em Amsterdã, julgou ter encontrado, enfim, seu pouso ideal: dizia ele que o povo, ali, estava tão preocupado em ganhar dinheiro, que, facilmente, deixá-lo-ia em paz.

Se fosse hoje, tadinho dele: o seu corpo devia estar muito bem preparado para ou armar sua tenda de nômade, já levantando-a, em busca de outro “camping”, levando consigo (será nas costas? na cabeça? no coração?) o próprio espírito, a verdadeira alma dessa (sua) peregrinação. Se eu dissesse, agora, olhando esse novo mundo como quem o olha de cima, como se não estivesse, eu próprio, nessa mesma história, quão “baixos” são esses países, isso seria um trocadilho com a Holanda – talvez, perdoável – e mal esconderia uma fingida objeção ao querer ganhar dinheiro; e tanto que se despreza a filosofia só porque esta não deve dar nenhum, nem aqui, nem em Amsterdã: ou será que isso é coisa do passado?!

Nada tenho contra o dinheiro. E como não estou concebendo novas ideias (não tenho cabeça para isso), uma nova ciência (não tenho conhecimento para tanto), nem uma obra de arte (coração, até que tenho algum, mas não é suficiente), pouco me importa que, na Holanda, ou em qualquer outra parte do mundo, pensem em dinheiro, desde que me deixem em paz, desde que, para ganhar o seu, não queiram me vender a paz a que, justamente (sei lá segundo qual filosofia), tenho legítimo direito.

Sou só um homem curioso – e não pretendo unificar o duplo sentido que essa frase encerra. Meu espírito também fica irrequieto, principalmente, quando tocado por uma lembrança – coisas do passado! Assim, ele comunica, em comichões, ao corpo, essa (sua) memória despertada, porém, ao contrário de um grande homem, não quero mudar; quero mesmo é ficar onde estou, e, tranquilamente, ir transferindo, da cabeça, do coração, sei lá de onde, para os dedos das mãos estas palavras, com resultado semelhante às artes de um menino traquina.

E basta isso para que eu me sinta em paz. Paz esta que eu desejaria, se conseguisse transportá-la do meu espírito para um corpo de palavras, comunicar-te, sem que ela perdesse, nesse trajeto através de estradas traiçoeiras e nas quais o menor descuido pode nos fazer perder as estribeiras, quase nos lançando numa guerra evitável, uma sequer de suas letras, chegando-te, assim, íntegra essa paz – no máximo, deixando, por onde passa, um rastro que leve de volta a casa aqueles que deixaram sua terra em busca de...paz: às vezes, guerreando, para isso.

Quanto ao dinheiro, quem nele não pensa? Afinal, nós somos, filosofando mais, filosofando menos, todos deste mundo – e dinheiro, como se sabe, apesar de ter seus intrincados mecanismos, decididamente, não é coisa do outro mundo.

CHICO VIVAS
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quarta-feira, 4 de novembro de 2015

DIA DO INVENTOR


Nada: isso não passa de invenção!

E talvez seja mesmo. Mas, quem terá inventado (o) nada? E falar nisso (nos) faz pensar (pelo menos me faz, quem sabe se por eu não ter nada...mais importante para fazer) em tudo, sendo isso a própria especificidade do tema.

Dá para imaginar – e onde mais se inventa, senão na própria imaginação – que alguns dos mais famosos inventores eram pessoas de quem se diria, valendo-se da primeira impressão, que nem sempre é a falsidade em pessoa, não terem a menor imaginação, muito embora, com certa “razão”, pense-se que as invenções mais robustas encerram mais lógica que imaginação, não se percebendo, ou não se querendo fazer relevante tal percepção, que raramente se busca na lógica a necessidade de uma invenção, fazendo-me, mais comumente, o caminho inverso: dando-se conta de uma lacuna, uma necessidade ainda não satisfeita, imagina-se, primeiro, que se pode supri-la, depois, com o quê, entrando, com toda razão, a lógica, com seus cálculos e suas provas que não devem deixar margem a erro, para se vencer então o desafio do “como”, mesmo que ainda não se tenha vencido o desafio do “ter o que comer para todos”.

Mas, ao se pensar em invenção, vem-nos, diante dos olhos, até mais que as grandes invenções – talvez porque já bem incorporadas ao nosso cotidiano que nem as percebemos mais como grandes invenções, como se em lugar de terem saído, com esforços por vezes exaustivos, da imaginação de alguém, tivesse escapado, como que por encanto, das mãos do Criador -, aquelas invenções risíveis, absurdas, que parecem propor um problema a mais em vez de resolver aquele a que, idealmente, deve sua existência. E não faltam exemplos disso.

Aqui, contudo, não se verá uma lista deles. Porque, com boas intenções, ainda que com cálculo inexato, quis-se, sim, tornar a vida melhor – o que, na maioria dos casos, significa...ganhar tempo -, muito embora, complicada demais, a invenção, só para se saber usá-la, toma-nos um tempo precioso; isso sem se falar de uma eventual pressa (para ganhar tempo) do inventor em dar a público seu engenho, com visão mercadológica ou apenas com olhos altruístas, fazendo com que não se tenha testado convenientemente o invento, propondo-lhe todos os desafios possíveis, incorporando cada vitória, resolvendo cada derrota em uma nova melhoria, resultando, infelizmente, numa peça com defeito, ainda tão próximo seu aparecimento ao ato da compra, e o consequente envio para a assistência técnica, em que, essa é a impressão que se tem, todos estão com a vida ganha, mesmo que a desculpa para as reiteradas demoras seja justamente a falta de tempo.

Se “nada” é mesmo uma invenção, é das grandes: e como se achar algum defeito em nada? Desconfio, com essa minha imaginação da qual jamais saiu qualquer invento (e eu não estou inventando isso), que quem inventou nada também deve ter, obrigatoriamente, inventado tudo, já que quem é responsável pela invenção de tudo tem de ser, necessariamente, o mesmo “inventor de nada” – sem que se esteja assim se desmerecendo sua invenção.

Um dia – e isso já dá sinais de que vivo, por menos esperto que seja, há muito por este mundo de invencionices -, a máquina de escrever (e não me refiro a algum escritor levado ao extremo dos seus próprios esforços, físicos e intelectuais) – e essa história de máquina de escrever é quase datação com Carbono 14 – era, para mim, o ápice da imaginação de alguém, duvidando mesmo que fosse coisa de um homem. Hoje – e isso não faz de mim, de uma hora para outra, um homem de agora -, concentro meus espantos na caneta, a esferográfica mesmo: que ideia!

E só não vou ao lápis por temor de, nesse recuo no tempo, perder-me, além de, para quem me aturou até aqui, isso parecer (como se já não tivessem notado isso desde o princípio) pura perda de tempo.

CHICO VIVAS

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sexta-feira, 30 de outubro de 2015

DIA DO BALCONISTA


Passar a vida atrás de um balcão já foi uma espécie de anátema paterno: pais, em geral, são mais dados ao pragmatismo, ainda que lhes falte pragmatismo suficiente para que percebam quão eficaz, aparentemente nada pragmáticas, é o apelo emocional das mães, sabendo-se mesmo o quanto as pragas delas são mais poderosas do que, ainda que com toda sua ênfase viril, as lançadas, sem meias-palavras, pelo pai.

E tudo isso para incentivar os filhos a persistirem nos estudos, quando estes eram vistos (ainda são, apesar de já não haver tantas provas em favor desse ponto de vista) como a possibilidade real de se ter em mãos uma chave-mestra, uma que abriria todas as portas, ainda quando eles próprios, pais e mães, mesmo tendo ouvido pragas dos seus próprios (pais), não persistiram, a ponto de usarem justamente esse fato para mostrarem aos filhos as consequências de tanta teimosia: as mães fazem isso algo chorosas, exibindo seu “sentimental pragmatismo”; os pais, com gestos mais contidos, embora igualmente eloquentes, fazem-no com uma espécie de contabilidade à mão de tudo o que, em tese, deixaram de ganhar, não havendo também garantias de que esse jogo contábil fosse mesmo outro, se tivessem estudado, convenientemente, atendendo aos apelos dos seus (próprios) pais.

Assim é que então agia o fantasma do balcão, ao mesmo tempo, uma ameaça, caso se se rebelasse, e um estigma, uma marca indelével para o resto da vida, uma vidinha, já se adivinha, sem importância, tendo-se de passar os dias a “bater ponto” (por si, um ato vergonhoso de submissão à autoridade burocrática de um relógio sem flexibilidade para compreender as necessidades do momento) e atender os outros, com prestimosidade compulsória, como se a aspiração maior de qualquer vida fosse, ao contrário, mudando-se de posição, ser atendido, não se dando conta, ou fingindo isso para não destruir a validade da argumentação, que para que tal coisa aconteça, que se seja atendido com sorrisos, mesmo que protocolares, no rosto, torna-se necessário se dispor de uma legião de “atendentes”, todos atrás do balcão – ainda que virtualmente, num espaço sem divisões materiais, havendo, no entanto, nítida separação de status: o cliente experimentando, o que pode não acontecer quando se depara com um (seu) superior, ter sempre razão, e o balconista, além de aturar o (eventual) mau humor do freguês, até assim para se deliciar, sadicamente, com as agruras do outro, engolindo, esse balconista, em seco sua vontade de dar um soco nesse cliente, fingindo, porém, que, em dada questão, por mais certo que saiba estar, a razão está mesmo com o outro.

Há aqueles que, mesmo sem (os) estudos, tendo ido para trás de um balcão (que praga, hem?!), ascenderam, não precisando mais disso, já sendo, em outros estabelecimentos, recebido com sorrisos (que ele conhece muito bem), resolvem, de quando em vez, voltar a ser “balconistas”, mas, nesse caso, o freguês não se engana, percebendo facilmente a troca, sentindo-se, ele próprio, cliente então, na obrigação de “atender o atendente”.

CHICO VIVAS
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segunda-feira, 12 de outubro de 2015

DIA DA CRIANÇA







Pronto e acabado.

Mas como eu, mau artesão das linhas, não dou ponto sem nó, não pararia por aqui, por mais que reafirme: pronto e acabado.

Ao se observar uma criança, pronto, eis já, como se uma repentina comichão reclamasse o imediato auxílio de mão, como se esta estivesse condicionada, sem direito à reflexão, a sempre ir em socorro das coceiras, a tentação de dizer que ali está um projeto, uma obra em curso, ainda que bem no comecinho então, vislumbrando-se, ausentes as imagens mais claras, as definições mais precisas, um futuro sempre promissor, embora a experiência, a pessoal e a do mundo (que é a soma das experiências pessoais) mostre, até com clareza chocante, com imagens de alta definição, o quanto tais promessas ficam, não raro, pelo meio do caminho, não se restringindo, essa quebra de expectativas, às crianças já, desde seu nascimento, em situação de perigo, com riscos anunciados agora para apresentação posterior (mesmo que tal “posteridade” alcance-as numa idade em que facilmente ainda se a toma como uma criança, um pouco mais crescida, é verdade), avançando, não rigorosamente com igualdade, sobre outras crianças, sobre aquelas que não “nascem perigosamente”, que não vivem, acomodadas ao conforto luxuoso ou àquele pago em incontáveis prestações, perigosamente, e das quais se espera, projeto realizado, muito, podendo estas crianças não corresponderem ao que, a sua própria revelia, se espera delas, seja por uma rebeldia (com cartão de crédito), seja porque se adaptaram demasiadamente a uma vida sem perigos, sem os quais o mundo não seria o que é – para o bem (do mundo, de todos nós) ou não.

Uma criança, no entanto, antes de rascunho bem elaborado de uma arte ainda não finalizada, está, enquanto o que é (criança que é), pronta e acabada. O que vem depois, numa sequência de etapas artificialmente definidas em nome de um didatismo comportamental, já não é coisa de criança.

Há quem ainda se comova – não sei se isso prova o caráter, alem de universal, de eternidade de uma verdadeira obra de arte ou se prova o quanto, mesmo com o passar do tempo, os apelos emocionais não variam muito, e continuamos presos a um sentimentalismo catártico, espécie de poderoso expectorante para aliviar nosso peito das culpas em catarro – com os pequenos limpadores de chaminés que povoam aquela, sempre nevoenta, Londres de Dickens, vendo nisso o grau de perversidade de uma sociedade industrial, embora, em termos mais práticos, uma indústria lucrasse mais ao inventar e fabricar limpadores de chaminés mais rápidos e eficientes que uma criança, mesmo uma rápida e eficiente, chegando mesmo à produção em série de limpadores descartáveis: e aquelas crianças, ao crescerem um pouco mais, além da boca faminta da chaminé, não o eram menos.

Tanto quanto aqueles londrinos não andavam sempre com olhos úmidos, apesar da poluição crescente das chaminés das fábricas (além das domésticas), mas compungidos por aquela infância se perdendo, nós, anacrônicas chaminés que já não vemos na cena diária no alto das casas (as fábricas ficam, em geral, longe dos nossos olhos), umedecemos nossos olhos com os relatos “espetaculares”, fechando-os (a tanta poluição visual) para os projetos em curso, para as crianças-em-progresso, para rascunhos que, vítima eu da minha própria língua, já estão, apenas com frágeis linhas desenhadas, pronto.

E está acabado.

CHICO VIVAS
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domingo, 4 de outubro de 2015

DIA DO POETA


Ouvir um poeta (nos) falar da precisão do navegar parece estranho, já que não se associa, comumente, a poesia à navegação (quando não, para se evitar um suposto clichê); de resto, não se a associa a nenhuma atividade prática, como se o labor do poeta sequer merecesse (e não por falta de méritos, talvez por tê-los muitos) o nome de trabalho, incompatível sua exsudação, real-em-gotas ou fingida-a-seco, com um ato que se quer sublime, mais afeito ao ato da Criação em que o descanso dominical destoa, em meio a uma semana inteira tão produtiva. Ainda é estranho, se um poeta, falando em navegação, já dando a entender de que o é por acaso, quando suas aspirações, se bem-sucedidas, o teriam levado a se tornar um Capitão de longo-curso, deixar a impressão de que ela, imprecisa que seja, é necessária, como se então cuidasse de quaisquer assuntos do cotidiano, de preocupações comezinhas, de interesses demasiadamente humanos para alguém que deveria se ocupar de mais elevadas matérias.

Quando, no entanto, não se sabe o que o poeta quis dizer, “verdadeiramente”, cada qual lhe atribuindo um querer diferente, um dizer ao gosto pessoal, sem que se chegue a um acordo, a menos que se tome este ou aquele estudioso (quase um exegeta, comportando-se com hierático esnobismo, sentenciando dogmaticamente) como dono da verdade, talvez aí se esteja mais próximo do poeta – se de um de verdade ou se de um fingidor, pouco importa, até porque o fingidor pode ser um poeta (para um poeta), não se excluindo a hipótese deste não estar fingindo ao dizer isso, como se cortasse em sua própria carne, dizendo-se, portanto, um não-poeta, justamente quando mais o é.

Mas, vamos deixá-los de lado: isso é, aliás, o destino de todos os poetas, já que, uma hora ou outra, tornando-se necessário se navegar, com a imprecisão que caracteriza as melhores aventuras, põe-se a poesia à margem, na certeza de que, feita a viagem, há de se a encontrar no mesmo lugar, tal qual déssemos voltas e mais voltas, acabando, nesse círculo, sempre nos versos. Aqui, finjamos que o assunto é outro: o navegar.
Com tantos sentidos novos, sem que fosse preciso acrescentar mais um aos que a natureza nos deu, a navegação (nos) surge como um ato de outrora, como se só se a pudesse experimentar como um meio (de se encurtar caminhos: e havendo outros mais rápidos, para que se navegar?) e não como um fim em si.

Para alguns, o que torna a navegação sedutora é exatamente (embora eu não possa garantir a precisão disso) a possibilidade de se fazer um longo curso, desinteressante aquele de curto, pela experiência de se elastecer o tempo, com a sensação – tanto sol, tanto mar (não se podendo descartar as tempestades previsíveis, mas incontornáveis, e as não-previstas, com contornos ainda mais imprecisos) – de que as horas não passam: e é curioso que se deseje navegar por passatempo, mas exasperando-se se tudo parece uma eternidade (que não passa).

Hoje, navegar é para poucos, um luxo que, por sê-lo, não é “preciso”, tomando-se por supérfluo, como se só houvesse beleza no fundo, num mergulho científico, jamais à flor d’água. Os poucos que podem (ainda) navegar até levam consigo um poeta encadernado que, fatalmente, cumprindo seu destino, será deixado de lado. O risco é que, fatigado, e mais ainda por um poeta - mal-escolhido, crê-se - que parece não dizer coisa com coisa, como se tivesse piamente acreditado nele com tal, poeta que se mostra, e se descobrisse, navegação já em pleno curso, que ele não passa de mais um fingidor, apenas isso, querendo deixar essa aventura também de lado, interrompendo a navegação, como para abandonar o barco, a ponto de não se lembrar do poeta, seque se lamentando por tê-lo deixando (para) lá, concluindo, afinal, que nada disso que cria muito necessário era mesmo tão preciso assim.

CHICO VIVAS
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sexta-feira, 2 de outubro de 2015

DIA DO ANJO-DA-GUARDA



Não é mania de perseguição – e eu admito que tenho lá as minhas, admitindo isso mais aqui comigo mesmo, não tanto diante dos outros, omitindo-as então, preferindo observar as suas, sejam as evidentes, evidenciadas mesmo por eles próprios (e talvez estejam omitindo a maioria delas), sejam aquelas que, em público, mantêm-se represadas, que, afinal de contas, ninguém, acredita nisso todo maníaco, precisa ficar por aí a exibir as suas manias, embora não sejam poucos os que cultivam, sem pudor de omiti-la, mania(!) de exibir-se, revelando-a, autoexpressiva como é, ainda quando não querem parecer assim, sendo que o que mais desejam não é outra coisa, senão aparecer -, mas tenho a sensação de que para onde quer que eu vá não estou sozinho, como se alguém, numa discrição hoje anacrônica, preferisse a sombra, evitando qualquer raio de luz: mas, que raio de criatura é essa?
Deus me livre e guarde, mas chego a pensar que não seja algo (de) bom; algum espírito (de porco) que talvez queira despertar em mim justamente essa desconfiança de que estou sendo seguido, sem jamais se deixar ver, apenas para que, com o tempo, reiterada e cumulativa sensação, acabe desenvolvendo certas manias; e entre elas, especialmente, a de perseguição, com todos os outros (maníacos ao seu próprio modo), na falta de prova sobre esse perseguidor, me tomando como mais um deles, embora eles sequer tenham consciência de que (também) são.
Quem me escuta falar assim – caso eu esteja mesmo falando, já que, caso contrário, boca fechada, isso pode ser um problema, isso de se ouvir o que ninguém, rigorosamente, diz – pode me dizer, aconselhando-me, que preciso me benzer e, na sequência, rezar para meu anjo-da-guarda, que é ele o mais indicado para velar por mim, nessa proximidade “invisível”, na minha cola sempre, ainda que, com o fácil argumento do (meu) livre-arbítrio, não possa me salvar das ciladas escolhidas, com a desvantagem adicional de sentir-me observado ao cair, deliberadamente (sabe-se que se conta com os habitantes do céu para uma mãozinha ladeira abaixo, em diversão que deve lembrá-los de suas imperfeições humanas, agora, supostamente, corrigidas por uma santidade oficializada, em alguma cilada há muito “desejada”).
Desconfio – o que pode surgir como uma evidência a mais de que estou mesmo com essa mania de perseguição – de que meu perseguidor, caso não passe de somente uma impressão, dado o clima reinante de insegurança, não é outro, senão o próprio anjo em sua função de guarda. Se for assim, é melhor que ele me dê um sinal, mesmo que sem os efeitos especiais de uma cena mística, tendo, ao fundo, um monocórdio coro de anjos-monótonos, ou então, na dúvida, sempre me voltando para ver se flagro essa minha sombra fugidia, torcerei o meu pescoço, ainda que, se descobrir que tenho sido observado durante todo esse tempo, visto em minhas quedas planejadas, não tendo das outras, aparentemente escolhidas com liberdade, sido livrado, não seja, apesar de alguma possível torcida, o meu pescoço que estará em jogo.
CHICO VIVAS
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segunda-feira, 21 de setembro de 2015

DIA DA ÁRVORE


Hoje elas são incensadas, muito embora os mesmos que as incensam torçam o nariz, como se percebendo que algo não está cheirando bem, para a queima desses mesmos incensos tão perto delas, das árvores, das quais, aliás, devem ter vindo os próprios incensos, ainda que haja, em meio a toda essa perfumaria ecologico-telúrica, tanta artificialidade. Ora o argumento, de uma ingenuidade que até pode cair bem em discursos de romantismo esverdeado, é de que aquela fumaça, resultado de uma “queima(da)” não pode fazer bem à árvore, com seus eflúvios carbônicos aromatizados (o que esconderia, sob tal olor, intenções mal-cheirosas), ora que, numa argumentação ainda romântica, porém mais apropriada, o incenso é a prova da usurpação feita àquela árvore, tendo-se-lhe tirado, com aspirações comerciais, pedaços de sua vida, de sua seiva.
Sem jamais se terem deitado sob a sombra de uma, seus defensores, talvez se negando a conviver com a “radicalização” dos seus naturais nós (espécie de humanos pés bem plantados no chão), sem jamais sequer alimentarem expectativa de, um dia, virem a ali descansar, subtraindo-se ao sol, assumindo assim um ponto de vista em que podem obscurecê-lo, evitando sua luz quando esta ameaça uma repentina cegueira (até que uma nuvem resolva dar as caras, interpondo-se ente o sol inclemente e os olhos clamando por refrigério), erguem seus estandartes com slogans implorando por preservação, em nome – num altruísmo que desperta desconfiança – das futuras gerações, como se estas, vindo depois, pretendessem mesmo gozar da sombra de uma árvore.
Aguerridos defensores olham–nas, as poucas árvores que ainda dão na (nossa) vista, como mãe generosa, apesar dos ataques que vêm sofrendo, sofrendo como se isso fosse seu destino, capazes de continuarem dando frutos, alimentando não apenas, pela boca, nossa vida, como, quem sabe se pelos olhos, também o espírito: no entanto, não vemos com bons olhos os frutos irregulares, sem tanto brilho, verdes que só amadurecem no tempo, frutos que só nascem na época apropriada, passando, como se burocratas empedernidos, pela necessária floração, por essa fase supérflua quando se tem fome, essencial, porém, quando, saciados em outro sentido, ronca-nos o espírito, ansioso por belezas, preferindo os frutos, nós, no dia-a-dia, tão regulares que parecem cópias de um modelo perfeito, tão brilhantes que parecem que sobre sua cor natural se apôs uma demão de verniz, frutos que são levados a pular etapas, brotando logo e, já no galho, não mais os fazendo esperar, que entre seu estado imaturo, ainda verde demais para “frequentarem as bocas”, e o da madureza, maturidade que não os impede de serem devorados, o intervalo pode ser encurtado com técnicas diversas – em último caso, uma pintura madura sobre a base verde, mesmo que se corra o risco de assim se inaugurar um novo e estranho tom na paleta do pomar.
Com tanta defesa, salvo em calendários escolares já esquecidos ou em memória que insiste em não amadurecer, o dia da árvore caminha para a extinção. E dizer que isso não tem a menor importância porque o dia delas deve ser todo dia é o mesmo que se fala a respeito (do dia) das mães: e estas só não foram extintas por um instintivo senso de sobrevivência.
CHICO VIVAS
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domingo, 6 de setembro de 2015

DIA DO ALFAIATE


Corte-e-costura, apesar dos processos automatizados, e que não prescindem do corte nem da costura – embora algumas peças procurem se vender melhor justamente com o atrativo, ainda de “roupa de baixo”, ou talvez por isso mesmo, de que não possuem costuras -, permanece, numa imagem primeira, experiência tipicamente manual, vendo-se, mesmo a distância, aliás, a uma distância já indefinida, jogado como foi, o corte-e-costura, para o rol das atividades pretéritas, alguém debruçado sobre o tecido (a depender do recuo desse pretérito, simplesmente, “pano” ou “fazenda”), riscando-o, como se ali moldasse uma criatura fantástica, um fantasma sem corpo, mas com todo seu contorno desenhado, e, depois, cortando-o, com uma precisão de fazer inveja aos que, profissionalmente ou por apurado amadorismo, se dedicam a trabalhos que exigem precisão, ainda que, nesse caso, sejam previsíveis as sobras, retalhos admitidos, desde que seu tamanho não dê sinais de desperdício ou de imperícia (do) profissional.
Cortado já, ainda sem as costuras definitivas, a criatura, não maior que seu criador, mesmo quando o alfaiate é um baixo profissional sob encomenda de um cliente avantajado, e mesmo que não se trate de nenhum modelo original, mas de um já copiado à exaustão da moda da hora (se tanto, porque a moda, agora, é questão de segundos, isso segundo eu mesmo, que pouco ou nada entendo de moda), apresenta-se sob pespontos, espécie de desenho tracejado que, ainda que se lhe adivinhe a forma por inteiro, mostra-se como que interrompido, à espera de traços que completem aquelas (aparentes) lacunas. Linhas antes tão visíveis, os pespontos, alinhavando o assunto aqui, dão lugar, queiram ou não, a outras, invisíveis (a menos que a moda exija sua aparência superficial), queiram ou não, tais linhas sucumbem ao anonimato, caracterizando-se a costura em si.
Mas, ainda não se dá por findo o trabalho, necessitando-se, por precaução, de mais uma prova, que nem precisa ser a de número nove. Tudo certo ou, havendo reparos a se fazer, refeito o trabalho, batido o martelo, eis mais uma obra, alienado esforço quando em série, sem que, se ainda há intervenção humana direta nessa linha de produção, se tenha consciência da própria participação na peça pronta: talvez, um dia – e isso não é uma projeção para o futuro, e sim uma volta no tempo -, alguém, vendo aquele “fantasma de pano”, agora com vida própria, reconhecesse ali seu trabalho, até mesmo seu “estilo pessoal” de cortar e costurar, mesmo que então não passasse de mais um alfaiate provinciano que sequer possuía, em seu vocabulário tecido apenas com palavras necessárias, o termo estilo, por ser sem serventia, porque, autodidata, velho menino-aprendiz de um outro alfaiate, que se iniciou também nessa vida do mesmo jeito, menino ainda, seguia apenas sua intuição, como se esta fosse uma “linha invisível” que o conduzia.
Alfaiate, hoje, é uma reminiscência desvalorizada, dada a concorrência em série, a preços bem mais em conta, ou uma reserva (às vezes, por puro esnobismo de “classe”) para os endinheirados que não desejam ser confundidos com personalidades-em-série, crendo no poder da diferenciação da roupa feita com exclusividade, mesmo que poucos percebam isso, nem sempre sequer outros endinheirados sob medida.
E estas linhas são os meus pespontos. Mas, com uma diferença: não podendo fazer melhor, mesmo com erros evidentes, fica tudo como obra acabada.
CHICO VIVAS
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segunda-feira, 31 de agosto de 2015

DIA DO NUTRICIONISTA


E não é que o comer, um dia mera imposição de uma biologia faminta e que não gosta de ser contrariada, envelhecendo e enfeando mais rapidamente aqueles que se arriscam a ir de encontro a ela, seja por uma questão de fé, visando a uma ascese, seja, por contraditório que pareça, objetivando justamente uma juventude mais prolongada e uma beleza que acompanhe tão duradoura juventude: e não é que uma necessidade, com todas as suas consequências escatológicas, se tornou um cultuado prazer, tanto para os que retiram seu bem-estar(?) da possibilidade de comer de tudo, em grandes quantidades, querendo assim estender ao limite do possível (ou até um pouquinho além) o prazer experimentado com as pequenas porções, quanto os que, calculadamente comedidos, só encontram esse mesmo prazer (gastronômico) em porções que deixariam, incrédulos, de boca aberta aqueles outros.


De prazer, pessoal e intransferível, mesmo que em torno de uma mesa que comporte muitos comensais ao mesmo tempo, nem sempre bem-comportados à mesa (o que pode emprestar a esse encontro uma alegria a mais, espécie de tempero extra para o prazer-sentado), o comer se tornou caso de saúde pública, requerendo, numa dessas contradições de nos deixar de queixo caído, com o risco de, eventualmente comendo, parecermos mal-comportados ao nos exibir assim, quando, por norma de civilidade, deveríamos manter a boca fechada, uma inversão de recursos, com o objetivo de educar, quando ainda possível, e de curar, quando não há mais boa educação que dê jeito imediato, recursos que, para muitos, especialmente os que têm no comer regular uma aspiração constantemente empurrada para um futuro otimista, melhor seria investir em mais comida.


Eis que surge então o nutricionista – alguns, com suas razões semânticas ou apenas pelo gosto esnobe de uma lógica como sufixo, preferem o termo nutrólogo -, estudioso que, sem, publicamente, desprezar o prazer, até considerando-o como parte fundamental do bem-comer, centra esforços em ensinar como se portar à mesa, ainda que isso já não se refira ao preciosismo no uso dos talheres adequados para cada prato, a correta postura, com atenção especial dada aos cotovelos discretamente ausentes, mesmo que cada vez mais não se possa sentar (à mesa) para comer, tendo-se de fazer isso de pé, até quando muito próximos da mesa.


Isso combina com aquilo. E aquele casamento que então se julgava perfeito, com pares que fazem tão boa-figura em qualquer mesa, é mera aparência, havendo por trás dessa felicidade um risco (à saúde) alimentado por outros interesses. E os novos casais apresentados como protagonistas de uma união promissora não nos apetece tanto, tão sem graça que nos parecem à primeira vista (e todos, algum dia, comemos com os olhos), casal meio sem sal ou excessivamente açucarado em suas manifestações de felicidade servida em quantidades “racionais”, ração humana que nos subtrai uma diferença (em relação a outros animais): a de poder escolher, até onde isso é mesmo uma escolha, encher os olhos mais que a barriga, encher a barriga à revelia dos olhos, encher essa mesma barriga como se então se comesse com os olhos, e até, se isso for uma escolha, ficar apenas olhando, de boca aberta, tanta comida junta ou prato tão grande para tão mínima porção.


Hum!... tudo isso me deu uma fome!


CHICO VIVAS
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sexta-feira, 14 de agosto de 2015

DIA DO CARDIOLOGISTA


Vou abrir meu coração!
Antes, porém, deveria abrir o peito, porta de entrada para se chegar a ele, não sendo necessário, aberta essa porta, esse peito, que, muitas vezes, o coração, ele próprio, seja aberto, bastando que, escancarada a entrada, visível o interior do peito, possa-se aí resolver a questão, sem maiores intromissões diretamente no coração.
Em frase assim, retórica a não poder mais, cheia de dramaticidade, simulando subsequentes revelações, há um erro: apesar de, na aparência, ser da vontade de cada um a decisão de abrir o (próprio) coração, não havendo, ainda aparentemente, possibilidade de alguém determinar que façamos isso (embora um outro possa, com boas intenções ou não, induzir-nos a isso), já que, mesmo se obrigados então, tal ato pode não passar de um fingimento, especialmente se não traímos essa falsidade na cara, sabendo-se que quem vê cara..., é preciso um terceiro que nos abra o peito.
Até se pode tentar, sabe-se lá levados por quê a tentar isso, sem auxílio externo, abrir o próprio peito: no entanto, esse procedimento, de precisão cirúrgica, requer uma habilidade incomum no comum dos homens, já que qualquer vacilo pode causar um trauma, além do fato de que, aberto uma hora, será necessário, às vezes no instante seguinte, se fechar a porta, costurando-se um acordo consigo próprio a respeito do que, enquanto aberto o peito, se deixará passar dali para fora, sendo já do conhecimento que, aquilo que saiu facilmente se espalha, sem a salvaguarda, agora, de se estar protegido no fundo do coração.
Apesar disso, de todas essas precauções, de todos os procedimentos que o bem-estar recomenda que sejam sempre seguidos à risca, sem descuidos, sem que se passe por cima de um só, apenas porque se o considerou, discricionariamente, à revelia da tradição, de menor importância, somos frequentadores assíduos dessas salas em que abrimos o peito e, não contentes, abrimos também o coração, ora na companhia de um só (o que podemos considerar mais do que suficiente para nossas necessidades da hora), ora rodeados por uma equipe de fazer inveja a profissionais em aberturas de peito.
De imediato, após abrirmos o peito, sentimo-nos aliviados: ou, simplesmente, cremos nisso, sugestionados por terapêuticas das quais não sabemos a origem, mas sedutoramente sustentadas por teorias, baseadas numa ideia universal, de que a sinceridade é sempre o melhor remédio (e para os sinceros patológicos, qual será o remédio ideal?), a ponto de nem sempre nos lembrarmos de, aberto o peito, fechar de novo o coração, ou, lembrando, mas ainda experimentando o prazer(!) de tê-lo aberto, decidimos mantê-lo assim, querendo inaugurar uma nova etapa na vida, marcando posição ao dizer que nunca mais voltaremos a fechar nosso coração.
Peitos abertos além do rigorosamente necessário (e a medida dessa necessidade, sendo de cada um, individual, requer perícia rara) são uma porta francamente escancarada para corações, depois de um entra-e-sai dos diabos, cuja porta emperrou: mesmo quando se quer o contrário, ninguém mais sai de dentro, ninguém mais de fora consegue ali entrar.
CHICO VIVAS

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segunda-feira, 20 de julho de 2015

DIA DO AMIGO





Há quem ache que eu sempre falo grego – o que é uma “barbaridade” –, mesmo quando me expresso com inexistente helenidade. Platão, sim, esse – “bárbaro” como ele só!” – falava um grego refinado. E, vaidoso (embora não se tenha registro de vanglórias públicas por causa dos ombros largos, tão largos que valeram a esse Arístocles a devida fama, larga como, etimologicamente, Platão), não admitia contestação, ainda que tenha sido discípulo de quem foi, mesmo sendo da natureza da filosofia o contraditório, ainda que tão poucos (entre eles, filósofos; entre nós, bárbaros) se lembrem disso. Diante da rebeldia nada adolescente de Aristóteles (que também, demasiadamente humano como qualquer um de nós, mesmo vindo tão antes de Nietzsche, devia alimentar suas vaidades), confrontou-o.

Curioso que a resposta dada, tendo ficado o grego como parte das ruínas da humanidade, passasse à história em sua versão latina, esse outro monumento do espírito humano que ruiu: “Amicus Plato, sed magis amica veritas”. A amizade, de quem quer que seja, tenha lá o porte físico que for, com ombros cuja largura impressiona, não (nos) condiciona a transgredir com nossas crenças, falhas que venham a se mostrar, sendo nós capazes, filosoficamente, de admiti-las ou, com a visão turvada que tantas vezes a fé impõe (em que pese ter sido ela que, numa simples troca de letra, metamorfoseou Saulo em Paulo), mantê-la, com aquela teimosia que se esconde num “fé não se discute”. A amizade (de Platão) não nos obriga a concordar sempre. Concorda?

Foi-se o tempo em que, com sabedoria bíblica, encontrar um amigo, um só, já era topar com um tesouro: e daqueles dos quais, como a bolsa de Fortunato, quanto mais se tira mais se tem. Agora, só amigos aos montes é que contam. Vaidade das vaidades, (isto) tudo é vaidade.

Talvez fosse melhor ter escutado as lições do mestre de todos eles. Sócrates não escreveu nenhuma palavra. Contestava e era contestado, sendo isso seu próprio método. Foi traído por “amigos” e ao ouvir dos amigos a proposta de evasão que o livraria da pena de morte, considerou-a uma traição.

Como minha filosofia é de almanaque (o que já me faz tão antigo quando uma “boa” ruína), na mais comezinha das línguas, flor despetalada (sequer com a desculpa de um anacrônico romantismo juvenil) de um Lácio devastado, feliz dia do amigo.

CHICO VIVAS
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terça-feira, 14 de julho de 2015

DIA DA LIBERDADE DE PENSAMENTO


Não se deve confundir o dar asas ao pensamento com o lhe dar liberdade, embora, com gosto por metáforas, cultivemos uma figura assim, sendo as asas um símbolo recorrente e universal do ser livre, ainda que os que a têm não façam disso um ato libertário, sendo uma condição que lhes é natural, caso contrário, estaremos aceitando que a liberdade não nos é própria, mas, por trás da insistência em se dizer dela que é uma conquista do homem, aceitando que ela nos é dada – e o que é pior, por outro homem, a seu bel-prazer, estando esse seu prazer em no-la dar, o mais brevemente possível, para que não tenhamos de esperar pelo próximo voo, ou em adiar, sadicamente, ao máximo, a nossa partida, ou melhor, a nossa entrada no clube dos homens livres.
É comum se pensar que, enquanto as convenções da sociedade nos impõem certas obrigações das quais, sob pena de arcamos com o ônus disso, nem sempre de uma leveza desprezível (o ônus pode mesmo ser o de nos tornarmos, a certos olhos, desprezíveis), não podemos abrir mão, estando atados ao contrato que nos torna partícipes de uma comunidade, mesmo que não tenhamos sido consultados, sendo tal contrato de adesão, sem direito a que se discutam suas cláusulas, no pensamento, ah!, aí somos completamente livres.
Nisso, nos confundimos, primeiro por “pensarmos” que pensamos o que queremos, do jeito que melhor entendemos, quando só pensamos a partir de um código (o linguístico, em particular, ou o do devaneio – e não nos deixemos enganar, pois por escondido no verso de seu aparente caos, há aí toda uma gramática bem ordenada), abeirando-nos, com os perigos próprios de uma aproximação assim, da loucura, quando rompemos com a sintaxe clássica e partimos para a criação de uma linguagem própria; depois, porque ter um pensamento livre não é, simplesmente, pensar(mos) o que quiser(mos), mas nos dar a liberdade de pensar inclusive naquilo que não queremos – se assim o quisermos.
Indissociáveis as várias denominações que são dadas à liberdade, a de pensamento está ligada, como se de mãos dadas (com a liberdade de andarem assim, ainda que alguns, em nome da mesma liberdade de pensamento, não vejam isso com muito bons olhos), à de expressão, talvez porque não se conceba com facilidade a possibilidade de se pensar (livremente), se não se tem o direito de se expressar tal pensamento, como se pensar apenas fosse só a metade da liberdade, só se completando esta ao ganhar voz aquele pensamento, mesmo que voz, aqui, careça de sonoridade formal, desde que fale de outro jeito.
Como tudo isto veio de um pensamento meu, embora não tenha sobre ele exclusividade, havendo nisso, ainda que inconscientemente, muito de outros pensamentos, de pensamentos de outros, e como pude dar expressão ao que penso, independentemente de estar certo ou não, de acordo com critérios estabelecidos, livremente, por outros, poderia dizer que sou livre. Como, no entanto, não posso deixar de dizer (mesmo que, às vezes, ávido por fazer isso, não pense muito no que digo), penso que talvez não seja tão livre quanto penso. Ou, pensando melhor, quem sabe se não sou justamente livre por isso?
CHICO VIVAS
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segunda-feira, 13 de julho de 2015

DIA MUNDIAL DO ROCK


Radículos são eles!
E não houve, aqui, um erro dos dedos, deixado passar, posteriormente, pelos olhos-revisores, não se podendo confiar na frieza gramatical dos olhos virtuais, obedientes cegos às regras, sem a flexibilidade que torna qualquer língua uma delicia (de se falar): é radículo mesmo, por mais ridículo (e não radículos, revisores olhos) que possa parecer um joguinho assim, em que se lança (o lance é a alma dos jogos) uma palavra contra a outra, valendo-se do choque entre elas para, a seguir, se revelar que o som característico desse embate foi produzido em estúdio, criteriosamente estudado para causar tal efeito.
É assim porque vem de raiz – como tudo afinal; sejam raízes reais, cravadas no solo, ou até na inconsistência da água, em hidropônicas produções, sejam raízes fincadas no ar, tão aprofundadas numa imaginação que não goza do mesmo prestígio pé-no-chão da terra, tida como sólido terreno, ainda que haja terras “inconsistentes”, e mesmo haja “terras de sonho(s)”, sequer gozando do prestígio da água, gozos que podem ser supremos, coisa de sonho, quando bem conduzidos.
Na raiz do rock – em que nada são flores, a menos que suas pétalas venham pintadas com psicodélica paleta, exalando nessas cores um perfume perturbador, inebriante mesmo, em que, temerosos ou excessivamente cuidadosos (a diferença é pouca), não metemos nosso nariz -, do rock como atitude, está a eterna insatisfação: insatisfação por sermos finitos, insatisfação por, eventualmente(?), sermos eternos, insatisfação por haver uma “eternidade” finita, apesar de tantas sílabas, insatisfação pela morte se reduzir a um dissílabo, polissêmica como poderia ser, chegando a beirar, na beira da morte, um sem-fim de significados. Insatisfação, enfim.
Quanto à música, pode ser um poço de Satisfaction, mesmo que nem tenha dado tanta satisfação. Pode também ser, simplesmente, um poço no qual se goza estar no seu fundo, insatisfeito, para a seguir, se descobrir que o fundo é isso mesmo, não havendo, como um alçapão bem-colocado pelos contra-regras, a possibilidade de se ir adiante, mais fundo ainda, aprofundando-se nesse poço, seja pela projeção de futura satisfação ao se narrar (num rock) essa estação no inferno, chamando-a, numa atitude rock’n roll, de verdadeiro paraíso, seja a satisfação por se acreditar que, aberto o alçapão, chegados mais fundos do que o fundo à primeira vista, haja, a cada andar inferior, aberturas que conduzam, numa vertigem infernal, cada vez mais (para) baixo, numa falta de ar que faz com que se vejam flores escandalosamente coloridas.
Colorida a imaginação: o rock, não! Rock assim deixa a impressão de que já na superfície se experimentam todas as suas possíveis cores, desestimulando a que se queira ir até a raiz, monocromática que seja: porque se o delírio pode nascer à superfície em plantas ora discretas, ora vistosas papoulas, ele existe no escuro, naquele preto em que eu, um sujeito demasiadamente pianinho, radicularmente agarrado à imaginação, facilmente é tomado por mais um ridículo qualquer, que nem sabe o que rock and roll é.
CHICO VIVAS
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