Há quem ache que eu
sempre falo grego – o que é uma “barbaridade” –, mesmo quando me expresso com
inexistente helenidade. Platão, sim, esse – “bárbaro” como ele só!” – falava um
grego refinado. E, vaidoso (embora não se tenha registro de vanglórias públicas
por causa dos ombros largos, tão largos que valeram a esse Arístocles a devida
fama, larga como, etimologicamente, Platão), não admitia contestação, ainda que
tenha sido discípulo de quem foi, mesmo sendo da natureza da filosofia o
contraditório, ainda que tão poucos (entre eles, filósofos; entre nós, bárbaros)
se lembrem disso. Diante da rebeldia nada adolescente de Aristóteles (que também,
demasiadamente humano como qualquer um de nós, mesmo vindo tão antes de
Nietzsche, devia alimentar suas vaidades), confrontou-o.
Curioso que a
resposta dada, tendo ficado o grego como parte das ruínas da humanidade,
passasse à história em sua versão latina, esse outro monumento do espírito humano
que ruiu: “Amicus Plato, sed magis amica veritas”. A amizade, de quem quer
que seja, tenha lá o porte físico que for, com ombros cuja largura impressiona,
não (nos) condiciona a transgredir com nossas crenças, falhas que venham a se
mostrar, sendo nós capazes, filosoficamente, de admiti-las ou, com a visão turvada
que tantas vezes a fé impõe (em que pese ter sido ela que, numa simples troca
de letra, metamorfoseou Saulo em Paulo), mantê-la, com aquela teimosia que se
esconde num “fé não se discute”. A amizade (de Platão) não nos obriga a
concordar sempre. Concorda?
Foi-se o tempo em
que, com sabedoria bíblica, encontrar um amigo, um só, já era topar com um
tesouro: e daqueles dos quais, como a bolsa de Fortunato, quanto mais se tira
mais se tem. Agora, só amigos aos montes é que contam. Vaidade das vaidades,
(isto) tudo é vaidade.
Talvez fosse melhor
ter escutado as lições do mestre de todos eles. Sócrates não escreveu nenhuma
palavra. Contestava e era contestado, sendo isso seu próprio método. Foi traído
por “amigos” e ao ouvir dos amigos a proposta de evasão que o livraria da pena
de morte, considerou-a uma traição.
Como minha filosofia
é de almanaque (o que já me faz tão antigo quando uma “boa” ruína), na mais
comezinha das línguas, flor despetalada (sequer com a desculpa de um anacrônico
romantismo juvenil) de um Lácio devastado, feliz dia do amigo.
CHICO VIVAS