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sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

DIA DE NATAL



É preciso ter coragem de dizer, com todas as letras, que tudo parece já ter sido dito – com todas as letras, e até, isso nos parece, com um pouco mais – a respeito do Natal: quem sabe se, dando-se crédito a João, porque “No começo, era o...Verbo”?!

Assim sendo, que mais dizer, sem que isso seja, tão-só, o vazio repetir de tudo o que já foi dito e, dizendo-se uma vez mais, acrescentando-lhe ainda mais letras; letras essas que, se o que dito já fora foi dito com todas as letras, mas sem ir além, ocupar-se-á, agora em avançar nesse exagero sobre um tema que mais eloquente se torna se se trocar as palavras, as tantas, por algum silêncio, desde que seja um que não se associe à covarde lógica de que não é preciso abrir a boca, evitando os comprometimentos, por mais protocolares, acrescentando mais palavras, pois tudo, afinal, já foi dito, mesmo que haja lacunas visíveis, mas um calar-se que, ao mesmo tempo, dá oportunidade ao outro de falar (mesmo que essa chance que assim se lhe dá seja usada para dizer o que dito já fora), e a si mesmo de (se) escutar – seja o que muito se tem dito sobre o que já se disse tanto, seja o pouco que se está dizendo sobre o que de nós se esperava bem mais, seja, enfim, escutar o próprio silenciar.


E eu, aqui, pareço apenas (me) repetir, fazendo isso com mais palavras ainda, talvez para não me dar oportunidade de me escutar: porque não suportaria, por muito tempo, esse meu atávico tagarelar, ou porque os ecos constantes (e repetidos, e repetitivos) do silêncio são ainda mais difíceis de aguentar.
Vem-me à cabeça, num esforço que pode muito bem estar acima do meu poder, dizer algo que ainda dito não foi, buscando uma originalidade arriscada, podendo, como resultado, se exitoso então em meu esforço, dizer apenas mais uma banalidade – mesmo que original(?) -, ou, caso contrário, logrando apenas dar minha modesta(!) contribuição para a mais extensa das antologias(?!) de frases-feitas; feitas, claro, com palavras, muitas palavras, carecendo, não raro, justamente, daquele Verbo que lhes serviu, formalmente, de ponto de partida.

O ponto, aqui, é...final – ou quase.

Antes, uma recordação: nos meus dias poucos, naqueles em que as palavras não eram tantas (não havia necessidade de um largo vocabulário para os estreitos desejos de então), o que me acendia os olhos não era a promessa (que não era feita) ou a expectativa (sem a promessa, a espera se dilui) do presente, uma “embalada surpresa” para tantos – e assim mais pela falta de hábito de pontuar a data desse modo...comercial -, e que hoje se adivinha nos pedidos insistentes, mas, sim, o aparecer, como se de um espaço místico, de caixas comuns, algo empoeiradas, guardando, envoltas em jornais sem novidade agora, as peças de um presépio. Aquilo calava-me...mesmo que passasse ao largo do Verbo, tão, iconograficamente, presente; talvez porque vivendo dias em que, pelo calendário, já havia deixado para trás a gramática escolar do resto do ano.


Como já não consigo, hoje, ficar calado, nem mesmo diante de presépios (infrequentes, de resto) monumentais, mantendo minha boca fechada: FELIZ NATAL!
E está dito.


CHICO VIVAS
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sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

DIA DO ARQUITETO




Numa didática bastante infantil (apropriada para crianças), ensina-se que as palavras são como tijolos (como “tijolinhos”), e que, juntando-se umas às outras, constrói-se... Quanto ao quê, pode-se, seguindo a mesma linha fantasiosa, dizer que se constrói de tudo, tudo o que se quiser, embora, lançando uma semente de dúvida nesse mundo-em-construção, perfeito como então deveria ser, pode-se também se manter lacônico, apenas se afirmando esse “poder construtivo” das palavras, não indo, no entanto, além.

Tijolos levantam paredes, erigem muros, e tudo isso, valendo-se das palavras, pela força da metáfora, transforma-se em símbolo do “apartamento”, da separação, e que, frequentemente, é atribuído justamente à falta de palavras. Assim, tem-se que elas podem ser a unidade mínima, como verdadeiros tijolos, de um monumento ao entendimento (embora se saiba o quanto, em meio a milhares de tijolos, uma palavra mal colocada, assentada com fragilidade, fora do prumo é capaz de fazer, provocando, de imediato, às vezes, certa estranheza, com aquela sensação de que há algo errado, fora do seu lugar, mesmo que não se localize o erro em questão, e depois podendo chegar, caso tenha havido comprometimento da estrutura, ao ponto de se ter de pôr abaixo o que com tanto afinco se construiu – isso se não se quiser correr o risco de, à vontade do acaso, ver tudo desmoronar, sem aviso prévio).

A falta de palavras constrói paredes e muros que separam, trazendo consigo uma desvantagem a mais: não se identificando com exatidão o ponto de desequilíbrio, ou se atira (atiram-se palavras) para todos os lados, crendo que desse modo se derrubará essa “barreira de silêncio”, ou se cala, calando fundo em si mesmo aquele silêncio, aumentando-o por isso, fortificando-se ainda mais a estrutura que se desejava ver ruir.
Engana-se, contudo, quem acha que tal separação só se dá com o silêncio – com essa espécie de negação das palavras, descrença no poder dos tijolos -, porque as palavras, igualmente, podem ser a matéria-prima dos maiores isolamentos, infensos eles a (outras) palavras, por mais fortes, chegando-se a lançar mão, em sentido inverso, de palavras delicadas, na esperança de que isso trinque o muro, rache a parede.

Tijolos são sempre iguais. E são melhores (para a construção) quanto mais parecidos uns com os outros forem, descartando-se mesmo aqueles que apresentam um detalhe a mais ou a menos, tudo em função da eficiência da obra. Palavras são únicas, não se repetem, mesmo que “repitamos” muitas delas (enquanto construímos nossas frases): e quanto mais variadas, maior será a possibilidade de se construir melhor.

O silêncio não é nenhum furo nesta construção (aqui, de palavras): ele talvez seja, silêncio-em-bloco, o furo pelo qual o ar passa, tornando a superposição de palavras um edifício de firmeza confiável e não um castelo (sem furos seus tijolos) de cartas.

CHICO VIVAS
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