
Levantamento de copo e arremesso de cigarro podem não ser esportes olímpicos, mas o trocadilho espirituoso, se não é, deveria ser, servindo inclusive como substituto para os que, moralmente comprometidos (a ponto de invocarem a própria saúde, habitualmente desprezada, como argumento de correção política), torcem o nariz, até com uma literalidade enojada, para os eflúvios do tabaco, e viram os olhos, tirando-os dos copos, mirando talvez o céu, em atitude de prece falsamente altruísta, havendo mesmo os que, em hiperbólica sensualidade, viram os olhos e torcem o nariz ao mesmo tempo, nem sempre em sincronia.
Como hoje é dia do esporte, joguemos com as palavras...
...E encaçapemos.
Enterremos na cesta
Metamos na rede, com o risco de bater na trave ou em algum outro ângulo que, pela perspectiva (ou falta dela) de quem assim joga, parece ser gol na certa, contrariado, no entanto, pelo tira-teima, pelo tira, pelo tiro que saiu pela culatra, pela teimosia em querer marcar para além do tempo regulamentar, quando já se deveria ter recolhido as bolas (e liberado o gandula), insistindo numa prorrogação que pode servir apenas para, nessas circunstâncias, ratificar o zero a zero.
Sobrando fôlego, depois de tantas palavras jogadas (fora?)...
...Corramos – seja uma corrida de obstáculos em que o objetivo é passar justamente por cima deles, como a dizer para si mesmo que não será um empecilho qualquer, posto de propósito no nosso caminho, que nos fará desistir, seja uma corrida “dos” obstáculos, passando então à margem deles, mesmo que isso infrinja as regras do jogo, com o argumento (tolo) de que só os tolos buscariam, propositadamente, uma via cheia de óbices, quando há outra estrada mais livre, ou, não havendo uma tão perto, quando se pode passar por cima das regras: questão de sobrevivência.
Agora, nada. Agora, nado. Sem precisar afogar o ganso que se intrometeu na raia, bailando ali despreocupadamente como a ensaiar, sem pressa, seu solo na Morte do Cisne. Nademos de costas, sempre atentos para a lição dos jacarés espertos, embora haja os que acreditem que, nesse pântano sem perspectivas, nessa lagoa sem futuro à vista, ganhe-se mais em posar de bolsa, mesmo que a madame em questão seja indiscutivelmente falsa. Nademos de peito (o estilo preferido dos autoproclamados sinceros). Nademos (de ou como) borboleta(s).
Antes, enfim, de passar adiante a bola que, tendo caído em minhas mãos, num jogo que se deveria jogar com os pés, retive até agora, querendo mostrar meu taco, arriscando-me a levar um golpe (permitido pelas regras) de direita – logo eu que sou canhoto! -, ir à lona, jogando a toalha, desnudando minha completa falta de feito para qualquer esporte convencional (até levantar copos que tenha ganho de brinde, até arremessar cigarros que carrego só para não parecer demasiadamente correto), marco, aqui, meu “ponto...final”.
CHICO VIVAS
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