
Meu Pai do céu!
Já tendo sido reservado – talvez por uma delas – para as mães o paraíso, ao preço (para algumas, barato demais, encontrando algum “barato” nisso, enquanto que para outras, baratas-tontas em meio a tanto (a)fazer, cara em excesso) de certo sofrimento poético, por mais que as dores lhes sejam sensíveis na carne, ascendendo por vezes, à flor da pele, quem sabe se a tal poesia vinda do fato de se encontrar mais facilmente rimas para dor, o que resta para os pais?
Nem toda poesia, mesmo que feita por eles mesmos, seria capaz de atribuir aos pais semelhantes dores, alegóricas que sejam, podendo-se avançar, com pragmatismo teimoso, para as dores do dia-a-dia: se não da vida vindo à luz (do dia ou da noite), das contas de luz, do custo de vida – como se esses pagamentos fossem exclusividade masculina.
Sobra, um otimista pode retrucar, a formação, o caráter, a disciplina e tudo mais que (nos) parece sem graça, apenas lição de moral aprendida, decorada e passada adiante, como se mais um traço genético, sem que se reflita sobre os acertos desses valores: sobre esse não!
Falando em valores, o que muito ocupa a vida, com os quais se desejaria encher a bolsa (ou os bolsos), o carro é (um) forte do qual a publicidade se apropriou, esperta como ela só, capturou e, inflando-o de ar, vende-o, vendendo seu peixe como se carro e homens houvessem sido, primordialmente indistintos, separados por “graça” dos deuses, sendo o reencontro entre eles o ápice dessa paixão platônica: e vende-se-o até se apelando para a segurança dos filhos, tocando, superficialmente, num ponto que lhes deixa a sensação de (lhes) ter calado fundo.
As mulheres podem ter mudado; já as mães...à parte o trocadilho a respeito do seu endereço. Os homens, meu Pai, será que mudaram: se mudaram e não deixaram endereço novo, onde entregar a conta de luz, a prestação do carro e os apelos para que, como se não bastasse ser pais, participem...de mais um concurso, em troca de muitas compras sem necessidade, que dará um carro?
Enquanto não se decide a parte que, nesse latifúndio de responsabilidades que tanto se gostaria de manter improdutivo, passando-lhe ao largo, cabe aos pais, diria uma (boa?) propaganda que nunca é tarde para se pensar no bem-estar dos filhos, apresentando, em filmes que transbordam virilidade, mais um carro como a oferta do dia, deixando às mães, propaganda subliminar, o retrovisor – afinal, sabe-se como são as crianças no banco de trás.
CHICO VIVAS
1 comentários:
Oi, Chico, pois é. Ser pai não é fácil!
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