Como chove(m), nesse temporal de efemérides, dias para tudo, nada mais justo que se dedicar um deles à própria chuva: e é hoje.
E, hoje, chove?
Se chove, isso é a melhor forma de se comemorar o dia (da chuva) ou, óbvio demais, esperava-se (o que faz disso já uma previsível obviedade), só para mudar um pouco o clima, que fizesse um dia bom, entendendo-se isso como um daqueles dias ensolarados em que, se uma chuva vier, não será bem-vinda, mesmo que o dia seja todo seu? Se não, se não cai uma gota sequer, passa esse dia despercebido, como passam todos os dias – é da natureza dos dias passarem – com sol, só se os percebendo se, em meio a tanta luz, de repente, não se sabe saída de onde, que nuvem alguma se via então no céu, uma chuva desaba.
Mas, não é só chuva que chove. “Chovem” canivetes por aí, quando o tempo fecha, sem aparente possibilidade de um raio de sol(ução). “Chovem” homens ou mulheres, a depender do gosto de cada um, havendo mesmo os que, para os quais nunca há tempo feio (nem homem feio, nem mulher feia), não se fazem de rogados e, sem sequer terem rogado a Deus para que fizesse chover (uns ou outras), chovendo estes ou aquelas (ou estas e aqueles, para não ferir suscetibilidades de gênero), saem na chuva – e sabe-se que quem sai assim não pode reclamar por ficar...molhado.
Uma das chuvas que (nos) parecem raras, mais até que as ácidas, características do nosso tempo, situação que, por vezes, nos deixa amargurados, é aquela que faz chover oportunidades, quando, no desespero, já nos bastaria uma, sequer desejando nos encharcar delas, porque, bem aproveitada, uma gota (de oportunidade), multiplicada, pode se tornar uma colheita farta.
Associado comumente à chuva, o chão molhado, mesmo quando não se testemunhou nada dessa água, é pista, para alguns, bastante segura, de que choveu sim, num exemplo de confiança cega. Baseados em pistas, confia-se que o céu assim (ou assado) é sinal confiável de uma chuva prestes a cair ou de que, desse mesmo céu, a depender da pista que der, não cairá nenhuma gota, fechando-se os próprios olhos para esse fato quando, apesar da confiança que se depositou nele (será que não se pode nem mais confiar no céu?), acaba por nos frustrar.
Dança-se para que a chuva caia, embora isso esteja envolto, qual neblina em dia em que os “cegos de confiança” apostam (os próprios olhos: o que é pouco, se considerarmos que já estão cegos mesmo) que vai chover, em muita dúvida, pesadas nuvens dela(s). Dançar na chuva parece ser bem melhor.
Canta-se a chuva, talvez na falta de inspiração melhor – à parte a chuva que Jobim fez cair, brilhantemente, na roseira -, especialmente quando já se esgotou o sol, com rimas mais fáceis do que uma (para a) chuva. E canta-se, dançando-se, na chuva, fazendo disso a própria canção.
Palavra atrás de palavra foi o que mais choveu aqui. Mas, ao que (me) parece, nenhuma digna de um dia assim, e não porque, sendo de chuva o dia, me mantive, deselegantemente, ensolarado – em alguns momentos, até pareci sombrio -, e sim porque, não sendo para sempre, mesmo quando uma chuva persistente, a melhor homenagem que lhe podemos fazer é saber que este dia, como todos os outros, também passa.
Acho que (a chuva, o dia) passou.
CHICO VIVAS
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