E se navegar fosse o que há de mais preciso neste mundo, a tal ponto essa (sua) “precisão” que não deixasse sequer uma margem, estreita que fosse, quase um meio-fio, “guia”, a depender da (mesma) língua, ao gosto de cada dizer, para dúvidas, sendo preciso em todos os sentidos, por mais desnecessários que sejam, aparentemente, os olhos para se gozar a poesia, quando se pode ouvi-la (não é só o ver, o ouvir estrelas também é poesia), por desnecessários que sejam os ouvidos se, inescrita, se possa enxergar o poético, mesmo (que) de frente, não se virando, como era previsível, (para) o verso: que seria de Pessoa, de todos eles, de todas elas, de todos nós, nós que “falam” tão de perto à navegação, jangada ao mar, ainda que, à primeira tempestade, inspiração nublada, se queira abandonar o barco, talvez com o ingênuo argumento de que (antes de a canoa virar) se está aí por acaso, tendo-se entrado de gaiato nesse navio?
E se o verso, estranho e forte, duro como ele só, como se só assim um verso “pudesse dizer tudo o que sinto”, em lugar de uma eterna procura, cujo fim não encontrado alimenta o círculo dessa eternidade – que é a procura de tantos -, acabasse, afinal, sendo achado, indiscutivelmente forte, sem aquelas fraquezas que, por vezes, pela força da poesia, emprestam-lhe um vigor ainda maior, mesmo que, recurso usado com a certeza do resultado final, termine enfraquecendo versos que já nem tinham lá tanta força assim: que seria de Florbela, que não lembrava uma flor, apesar da delicadeza franzina, de quem não se diria, a não ser com alguma licença poética, ser bela, Alma no nome, concebida, Conceição que também era, provavelmente, para ser tudo, tudo o que se espera de uma mulher, menos para ser o que foi, sendo já “poeta” só por isso?
E se não se pudesse dizer “não digas”, como Cecília disse, e tanto repetiu, porque o mundo é mesmo belo; porque, por mais alegres que nos queiramos mostrar, seja mesmo triste o amor – e não, simplesmente, porque, navegando-se contra a maré, contrariando o sentido do vento, se intuísse que assim se faz melhor poesia do que associando ao amor ondas de alegria; porque a vida é tão rápida que, enquanto se diz isso a seu respeito, ela passou, podendo ter consumido nisso, nesse átimo, um dos últimos instantes que nos restavam; porque não resta dúvida de que se sofre, por mais analgésicos que se tome, por mais que se tome, como terapia alternativa, a poesia como tal, mesmo uma que não o seja (alternativa): que seria de Cecília, professora que, ao perguntar “o que foi que te ensinaram que era sofrer?”, sem dizer mais nada, ensinava que sofria mais, que, frente ao seu próprio, outro sofrer não passava, com dores minúsculas (sempre maiúsculas para quem sofre), de um primário ABC?
E se não houvesSe Se, cantariam as cigarras? E se, admitindo-se que as cigarras ainda cantam, não houvesSe Cigarro, haveria Clarice-em-prosa? Se não houvesse prosa, conversar-se-ia sobre versos? Se se conversasse, fazer isso sobre versos não seria andar em círculos? Se os círculos conhecessem começo e fim, restaria alguma eternidade?
Será que não se faz poesia apenas para se experimentar a morte em meio a promessas cada vez mais frequentes de eternidade (sem fim) ou para, no meio de mortes sem rima, com uma onomatopeia de tiros das mais concretas, se sentir eterno por um instante?
E se não houvesse ponto de interrogação, que seria de mim?
CHICO VIVAS
1 comentários:
Poesia não é fácil, caro Chico. Somos heróis da resistência!!! (Nílson)
Postar um comentário