Um dia, tudo acaba – e isso é tão velho quanto o “primeiro dia”. Uma pizza, por maior que seja, como uma família que, um dia, cheia de membros, pareceu garantir uma descendência para todo o sempre, por essa ou aquela, também acaba – tanto a família quanto a pizza. Mas, não é necessário que se queira acabar uma conversa – ou mesmo começá-la: o que talvez seja ainda pior – dizendo que tudo, sem então se especificar nada, acaba nela: e, claro, quem assim o diz crê ser completamente desnecessário acrescentar que tipo de pizza essa é.
Há palavras como pizza – e um dos grandes encantos das palavras é se prestarem a uma espécie de jogo-de-espelhos em que não se sabe muito bem se o “como” come (e se come pizza), se há palavras, entre as quais (a) pizza, ou se existem algumas (palavras) que são, deixando sua simplicidade de substantivo tão comum para, ainda comum, tornar-se composto, elas próprias (como) pizza – que, nascida aqui, de fácil trânsito nas bocas locais, dá-se a conhecer a viajantes ou aventureiros, até a viajantes-aventureiros, e, assim, acabam ganhando o mundo, por vezes, mal se a reconhecendo, depois, em sua própria origem, como um(a) nativo(a) que sai, em busca de aventuras, rodando o mundo e, por essas voltas que o mundo dá, volta para casa, irreconhecível, ainda que se lhe adivinhe, pelas formas, quem é, mas já sem o mesmo sabor de antes, porque se as viagens, com suas aventuras, dão à vida um certo tempero, também lhe acrescentam arranjos que podem não ser somente mais um gosto que passa.
Pizzas há verdadeiramente confusas em que só se dá a conhecer pela forma, quando se a mantém – por inacreditável apego à tradição ou por não se ser tão criativo para, ao menos, experimentar outras, exibindo uma variedade de acréscimos que querem primar, enchendo os olhos, pela diversidade de cores, sem a preocupação a respeito dos “tons gustativos” que dessas misturas resultam.
Pizza, em geral, não é a melhor opção para se terminar, seja lá o que for, prestando-se mais a um (bom?) começo, ainda que, para muitos, fiados no impacto da primeira impressão, deva-se caprichar logo de início: quanto ao fim, bem, é o que é, sem sobras, sem sombra de dúvida. E se certo se estiver de que se deve, enfim, pôr um ponto final, portanto, para que caprichar tanto? Uma pizza, já se tendo em vista um (outro) brotinho, está de bom tamanho, desde que não família, já que isso pode se tornar um prato indigesto.
Que tudo acaba, um dia, vá lá (e eu não pretendo dar qualquer endereço desse fim anunciado), mas isso não precisava acontecer com a pizza, mesmo que desejo assim soe demasiadamente infantil, não suportando um pouco mais de razão, o suficiente apenas para nos convencer de que, infindável, que gosto isso teria, senão o do desejo de que, enjoados de algo que não acaba mais, acabe – e logo.
CHICO VIVAS
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