A dificuldade aparente (e real) de se falar a respeito de um tema que vem sendo alvo de tantos comentários, ao longo do(s) tempo(s), é o já não ter o que lhe acrescentar, restando, no máximo, a tarefa de recriar o já-dito, nem sempre com sucesso, apenas invertendo a ordem das palavras, ou se aventurar, com todos os riscos que uma (boa) aventura envolve, em alguma pretensa originalidade, se é que, como afirmou Oscar Wilde, sobrou alguma, depois de Shakespeare e de Victor Hugo: nem mesmo o pecado, dizia Wilde, é mais original.
E o pecado – se eu não estiver, aqui, cometendo (mais) um – é a mãe, em que pese a contradição de gênero, de todos nós: de todos nós que somos filhos (da mãe: literal ou jocosamente) e de todas elas, mães que a poesia ingênua põe acima dos pecados ou, quando, admitindo uma humanidade que é justamente o que as faz o que são(?), as faz pecadoras, perdoa-lhes antecipadamente, como se o título que carregam – não raro, mais suntuoso, apesar da banalidade que o faz recair sobre o resultado de um ato biológico, do que aquilo que, efetivamente, carregam, enquanto se preparam para serem mães – lhes servisse de salvo-conduto por prazo indeterminado.
Dizer que há mães e mães, enquanto para uns é um pecado, pelo tratamento que assim pretende retirar de algumas a auréola brilhante, talvez, para outros seja a prova de que o tema se esgotou, e mesmo quando, tentando livrar-se, ingenuamente, da poesia que parece atávica à maternidade, só se consegue fracassar no intento de inaugurar um novo dito.
Então, cedamos logo de uma vez e, em lugar de ficarmos aqui a procurar palavras, a inventar adjetivos novos, a nos aventurar em sinônimos impossíveis, ratifiquemos o que a sabedoria popular e certa erudição clássica (esta, às vezes, algo envergonhada de parecer tão ingênua, sendo até apenas a recriação esnobe da espontaneidade do povo) dizem.
“Mãe só tem uma”: e quem poderá negar a verdade dessa afirmação?! Se se a(s) tem maior número, ou se está transferindo a condição biológica de uma para outra que carrega consigo a condição de (verdadeira?) mãe pelo afeto que derrama, há de, no íntimo, se hierarquizar esse amor, ainda que use o mesmo “mãe” para ambas – ou para todas, se houver mais mães.
Afinal, Balzac: “O coração das mães é um abismo no fundo do qual se encontra sempre um perdão”.
É assim que, se mães, perdoai-me a ausência de derramado sentimento, como leite no auge da fervura, mesmo que não tão do fundo do vosso coração; se não, e não querendo me perdoar a banalidade iterativa destas palavras, experimentai ser mãe, mesmo que só no coração.
CHICO VIVAS
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