Radículos são eles!
E não houve, aqui, um erro dos dedos, deixado passar, posteriormente, pelos olhos-revisores, não se podendo confiar na frieza gramatical dos olhos virtuais, obedientes cegos às regras, sem a flexibilidade que torna qualquer língua uma delicia (de se falar): é radículo mesmo, por mais ridículo (e não radículos, revisores olhos) que possa parecer um joguinho assim, em que se lança (o lance é a alma dos jogos) uma palavra contra a outra, valendo-se do choque entre elas para, a seguir, se revelar que o som característico desse embate foi produzido em estúdio, criteriosamente estudado para causar tal efeito.
É assim porque vem de raiz – como tudo afinal; sejam raízes reais, cravadas no solo, ou até na inconsistência da água, em hidropônicas produções, sejam raízes fincadas no ar, tão aprofundadas numa imaginação que não goza do mesmo prestígio pé-no-chão da terra, tida como sólido terreno, ainda que haja terras “inconsistentes”, e mesmo haja “terras de sonho(s)”, sequer gozando do prestígio da água, gozos que podem ser supremos, coisa de sonho, quando bem conduzidos.
Na raiz do rock – em que nada são flores, a menos que suas pétalas venham pintadas com psicodélica paleta, exalando nessas cores um perfume perturbador, inebriante mesmo, em que, temerosos ou excessivamente cuidadosos (a diferença é pouca), não metemos nosso nariz -, do rock como atitude, está a eterna insatisfação: insatisfação por sermos finitos, insatisfação por, eventualmente(?), sermos eternos, insatisfação por haver uma “eternidade” finita, apesar de tantas sílabas, insatisfação pela morte se reduzir a um dissílabo, polissêmica como poderia ser, chegando a beirar, na beira da morte, um sem-fim de significados. Insatisfação, enfim.
Quanto à música, pode ser um poço de Satisfaction, mesmo que nem tenha dado tanta satisfação. Pode também ser, simplesmente, um poço no qual se goza estar no seu fundo, insatisfeito, para a seguir, se descobrir que o fundo é isso mesmo, não havendo, como um alçapão bem-colocado pelos contra-regras, a possibilidade de se ir adiante, mais fundo ainda, aprofundando-se nesse poço, seja pela projeção de futura satisfação ao se narrar (num rock) essa estação no inferno, chamando-a, numa atitude rock’n roll, de verdadeiro paraíso, seja a satisfação por se acreditar que, aberto o alçapão, chegados mais fundos do que o fundo à primeira vista, haja, a cada andar inferior, aberturas que conduzam, numa vertigem infernal, cada vez mais (para) baixo, numa falta de ar que faz com que se vejam flores escandalosamente coloridas.
Colorida a imaginação: o rock, não! Rock assim deixa a impressão de que já na superfície se experimentam todas as suas possíveis cores, desestimulando a que se queira ir até a raiz, monocromática que seja: porque se o delírio pode nascer à superfície em plantas ora discretas, ora vistosas papoulas, ele existe no escuro, naquele preto em que eu, um sujeito demasiadamente pianinho, radicularmente agarrado à imaginação, facilmente é tomado por mais um ridículo qualquer, que nem sabe o que rock and roll é.
CHICO VIVAS
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