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segunda-feira, 20 de julho de 2015

DIA DO AMIGO





Há quem ache que eu sempre falo grego – o que é uma “barbaridade” –, mesmo quando me expresso com inexistente helenidade. Platão, sim, esse – “bárbaro” como ele só!” – falava um grego refinado. E, vaidoso (embora não se tenha registro de vanglórias públicas por causa dos ombros largos, tão largos que valeram a esse Arístocles a devida fama, larga como, etimologicamente, Platão), não admitia contestação, ainda que tenha sido discípulo de quem foi, mesmo sendo da natureza da filosofia o contraditório, ainda que tão poucos (entre eles, filósofos; entre nós, bárbaros) se lembrem disso. Diante da rebeldia nada adolescente de Aristóteles (que também, demasiadamente humano como qualquer um de nós, mesmo vindo tão antes de Nietzsche, devia alimentar suas vaidades), confrontou-o.

Curioso que a resposta dada, tendo ficado o grego como parte das ruínas da humanidade, passasse à história em sua versão latina, esse outro monumento do espírito humano que ruiu: “Amicus Plato, sed magis amica veritas”. A amizade, de quem quer que seja, tenha lá o porte físico que for, com ombros cuja largura impressiona, não (nos) condiciona a transgredir com nossas crenças, falhas que venham a se mostrar, sendo nós capazes, filosoficamente, de admiti-las ou, com a visão turvada que tantas vezes a fé impõe (em que pese ter sido ela que, numa simples troca de letra, metamorfoseou Saulo em Paulo), mantê-la, com aquela teimosia que se esconde num “fé não se discute”. A amizade (de Platão) não nos obriga a concordar sempre. Concorda?

Foi-se o tempo em que, com sabedoria bíblica, encontrar um amigo, um só, já era topar com um tesouro: e daqueles dos quais, como a bolsa de Fortunato, quanto mais se tira mais se tem. Agora, só amigos aos montes é que contam. Vaidade das vaidades, (isto) tudo é vaidade.

Talvez fosse melhor ter escutado as lições do mestre de todos eles. Sócrates não escreveu nenhuma palavra. Contestava e era contestado, sendo isso seu próprio método. Foi traído por “amigos” e ao ouvir dos amigos a proposta de evasão que o livraria da pena de morte, considerou-a uma traição.

Como minha filosofia é de almanaque (o que já me faz tão antigo quando uma “boa” ruína), na mais comezinha das línguas, flor despetalada (sequer com a desculpa de um anacrônico romantismo juvenil) de um Lácio devastado, feliz dia do amigo.

CHICO VIVAS

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