
É preciso ter coragem de dizer, com todas as letras, que tudo parece já ter sido dito – com todas as letras, e até, isso nos parece, com um pouco mais – a respeito do Natal: quem sabe se, dando-se crédito a João, porque “No começo, era o...Verbo”?!
Assim sendo, que mais dizer, sem que isso seja, tão-só, o vazio repetir de tudo o que já foi dito e, dizendo-se uma vez mais, acrescentando-lhe ainda mais letras; letras essas que, se o que dito já fora foi dito com todas as letras, mas sem ir além, ocupar-se-á, agora em avançar nesse exagero sobre um tema que mais eloquente se torna se se trocar as palavras, as tantas, por algum silêncio, desde que seja um que não se associe à covarde lógica de que não é preciso abrir a boca, evitando os comprometimentos, por mais protocolares, acrescentando mais palavras, pois tudo, afinal, já foi dito, mesmo que haja lacunas visíveis, mas um calar-se que, ao mesmo tempo, dá oportunidade ao outro de falar (mesmo que essa chance que assim se lhe dá seja usada para dizer o que dito já fora), e a si mesmo de (se) escutar – seja o que muito se tem dito sobre o que já se disse tanto, seja o pouco que se está dizendo sobre o que de nós se esperava bem mais, seja, enfim, escutar o próprio silenciar.
E eu, aqui, pareço apenas (me) repetir, fazendo isso com mais palavras ainda, talvez para não me dar oportunidade de me escutar: porque não suportaria, por muito tempo, esse meu atávico tagarelar, ou porque os ecos constantes (e repetidos, e repetitivos) do silêncio são ainda mais difíceis de aguentar.
Vem-me à cabeça, num esforço que pode muito bem estar acima do meu poder, dizer algo que ainda dito não foi, buscando uma originalidade arriscada, podendo, como resultado, se exitoso então em meu esforço, dizer apenas mais uma banalidade – mesmo que original(?) -, ou, caso contrário, logrando apenas dar minha modesta(!) contribuição para a mais extensa das antologias(?!) de frases-feitas; feitas, claro, com palavras, muitas palavras, carecendo, não raro, justamente, daquele Verbo que lhes serviu, formalmente, de ponto de partida.
O ponto, aqui, é...final – ou quase.
Antes, uma recordação: nos meus dias poucos, naqueles em que as palavras não eram tantas (não havia necessidade de um largo vocabulário para os estreitos desejos de então), o que me acendia os olhos não era a promessa (que não era feita) ou a expectativa (sem a promessa, a espera se dilui) do presente, uma “embalada surpresa” para tantos – e assim mais pela falta de hábito de pontuar a data desse modo...comercial -, e que hoje se adivinha nos pedidos insistentes, mas, sim, o aparecer, como se de um espaço místico, de caixas comuns, algo empoeiradas, guardando, envoltas em jornais sem novidade agora, as peças de um presépio. Aquilo calava-me...mesmo que passasse ao largo do Verbo, tão, iconograficamente, presente; talvez porque vivendo dias em que, pelo calendário, já havia deixado para trás a gramática escolar do resto do ano.
Como já não consigo, hoje, ficar calado, nem mesmo diante de presépios (infrequentes, de resto) monumentais, mantendo minha boca fechada: FELIZ NATAL! E está dito.
CHICO VIVAS
0 comentários:
Postar um comentário