Falar em conteúdo adulto, seja para afastar os não-assim, seja para atrair os que, com idade para isso, já se acham o tal (adulto em pessoa), achando-se mesmo o próprio, baseados alguns em avaliação eminentemente subjetiva, adultos sem ainda o serem, segundo critérios bem mais objetivos, isso beira a infantilidade.
A infância, por natureza, sente-se atraída por tudo, fazendo mesmo isso parte primordial do seu processo de conhecimento, numa idade em que as noções de moral, quando existem, são ainda tênues demais, quase sempre reduzidas a um inescapável maniqueísmo: ou é bom (bem) ou é mau (mal). E como convencer uma criança de que aquilo que se lhe apresenta tão belo, ou tão misterioso, ou tão gostoso, ou mesmo tudo isso junto, não é bom, caindo ela, eventualmente, nessa antiga armadilha de sedução através da aparência bela, do ar misterioso, do aspecto saboroso, embora armadilha igualmente sedutora, para outros, seja o inverso disso: o surpreendentemente feio, o banalmente sem mistério, o amargo com cara de mau-humor?
Deixada essa infância para lá – que continuar se insistindo nela, quando seu tempo já passou, é ser infantil, sem, no entanto, voltar no tempo, retomando a criança -, seguem-se os dias em que tudo que surge como sendo “de adulto” é, por princípio que se estabelece como forma de demarcar visível fronteira entre a criança que se foi e o adulto chegando(-se a nós), o que mais importa, não tendo, então, a menor importância que, já alvos de moral mais incisiva, nos esteja ainda interditado tal conteúdo, a menos que se sinta impedido de ir adiante, quando a moral, com seus disparos religiosos, aponta-nos seus canhões, ainda tão imaturos nós, apesar de não o querermos parecer, para encará-los, para tomá-los por falsas armas que se alimentam da nossa crença em sua aparência ameaçadora, igualmente imaturos, suficientemente assim para, não acreditando que tais canhões sejam mesmo de verdade, não passando de ameaças fingidas, sem potencial destrutivo, pormo-nos diante deles, até exortando-os, com imoralidades, a que disparem, se é que são mesmo os canhões que dizem ser: e, às vezes, eles dizem (a que vieram).
Adultos então, pouca graça tem se defrontar com conteúdos feitos sob encomenda – é como, crianças, olharmos o pote de doce no alto, alto demais para nosso tamanho (ou para nossa bravura em desafiar os perigos de uma subida não autorizada), e, já grandes, não o olharmos mais com tanta água na boca. Inclusive porque acabamos por perceber que tal encomenda se baseia numa média de adultos da qual, desejando nos diferenciar, buscamos nos afastar, tendo, porém, de admitir, quando o conteúdo ainda nos atrai, quão medianos somos.
Crianças, queremos logo subir mais um degrau (para alcançarmos o pote de doce?). Subido este, queremos logo a vida adulta (para acessar seus (im)próprios conteúdos). Adultos, sem sinceridade, por vezes, desejamos a criança e, sinceramente falando, não desejamos subir, pelo que isso já implica em “descer”, nenhum degrau a mais.
CHICO VIVAS
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