Ser professor, respeitada a questão de gênero, não é de hoje, deixou de povoar o imaginário, salvo, talvez, em crianças em idade pré-escolar e que encontram na escola (e no professor), na qual são recém-chegados, suas primeiras relações de sociabilidade, deixada ora de lado as relações com a própria família, sem mais tempo para nada, reclamando, inclusive, sem citar os filhos, que há muito sequer têm (os pais) vida social, saudosos todos, provavelmente, das delícias(!) mundanas dos fins de semana sem preocupações maiores senão consigo mesmo.
Não deixa de ser curioso ver aqueles marmanjos – até os nem tanto, quase meninos ainda em idade pré-escolar, assumem, pelo físico potente requerido pela atividade profissional, cara assim – se referindo, jogadores de futebol que são, ao técnico como “Professor”: e muitos destes são ex-jogadores que não tiveram tempo ou oportunidade (ou mesmo ambas as coisas, aliadas a alguma falta de vontade) para estudar e que se veem hierarquicamente alçados a tal condição. Na verdade, o título, eventualmente sem o mérito respectivo, revela nada além de uma pouco sincera submissão, uma não mais honesta civilidade (frente às câmeras): e submissão, um dia requisito pedagógico, mesmo que hoje insincera, é o que professores em geral menos encontram; e que dizer da civilidade, ainda que só para manter as aparências!?
Se esse “Professor” fosse um reconhecimento, por menos acadêmico, das qualidades, num autodidatismo respeitável, de alguém, se veriam outras categorias a usá-lo, sempre dirigindo-o ao dono de um notório saber, sem a preocupação bajulatória de endereçá-lo sempre a um superior(?), enfatizando mais o termo quanto menos esse superior tenha alisado os bancos da escola (dada a evasão, cada vez mais ásperos os bancos), como se o saber adquirido com esforço, sobre os livros, com ouvidos atentos para o professor, até, com o tempo, para se aprender a contestá-lo com cortês assertividade, não fosse tão louvável quanto qualquer conhecimento apreendido com a prática, quando esta vai ao encontro de um talento nato ou de uma vocação persistente, não se excluindo, embora rara mais e mais, a conjunção de talento e vocação.
É sintomático que, como reconhecimento do talento, saber notório, indiscutível vocação, um cantor tenha ganho, com essa informalidade que prescinde do capelo, toga e diploma com letras góticas, o título de “Professor”. Mas, quem ainda conhece Cauby Peixoto? E se (o) ouviu (falar), acha tudo aquilo muito antiquado, do tempo em que se “alisavam os bancos da escola”, do tempo em que se reconhecia, com lampejos saudáveis de rebeldia contra a ordem estabelecida, a cadeia hierárquica, do tempo em que professor e aluno não eram caso de polícia.
Aliás, quem ainda sonha, sem a pressão de um mercado de trabalho cada vez mais estreito, em ser policial? Mesmo assim, reconhecendo-o com força (bruta, às vezes), apesar da baixa patente, como jogadores querendo parecer educados diante de um técnico nem sempre assim, tratam “o polícia” por um civil “chefia” ou por um (talvez mais apropriado) militar “general”, “coronel”, “capitão”, batendo-lhe continência.
CHICO VIVAS
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