Traçar estratégias (a longo prazo), traçar metas (para amanhã mesmo), traçar objetivos (para o dia de hoje), traçar, se possível fosse, planos para o dia de ontem. Tem-se, seja o que for, de traçar, como se já não se pudesse viver o agora, com medo das surpresas, se elas vierem, do daqui a pouco, imprudência que se tornou ser surpreendido, devendo-se então se antecipar, seja para enfrentar com melhores armas (coisa de estrategista) as novidades (que não mais se poderá chamar de inesperado), ou mesmo para, intervindo com base em informações antecipadas, evitar o inesperado, numa vida que não traz mais qualquer novidade.
Tudo isso é como traçar um mapa, um retrato visível, graficamente, do que está fora dos nossos olhos. É isso que nos faz sentir ter o mundo inteiro em nossas mãos, ao menos o mundo conhecido, aquele que já foi devidamente “traçado” pelos desbravadores que, passando sua informação adiante, já tendo régua e compasso prontos, deu a munição necessária para os cartógrafos agirem, sem, no entanto, como franco-atiradores, saírem disparando para todos os lados.
À primeira vista, pensa-se, confundindo as “artes”, que os cartógrafos, tal qual pusessem a mão na massa, puseram os pés na estrada, desbravando, aventurando-se no inesperado, podendo seguir um mapa (já desenhado) ou completamente às cegas, dependendo dele imaginar esse novo traçado. E o cartógrafo pode ser um desses que se impõem metas, objetivos, e traçam (acostumados a isso que já estão) estratégias e planos, e tudo isso para, longe das novas terras, dos caminhos arriscados, das estradas enlameadas, cumprirem, dentro do prazo estabelecido, por si mesmo ou por alguém que lhe encomendou o mapa, o trabalho de agora.
Não deixa de ser algo curioso que os mapas, um dia, já tenham sido chamado de “cartas”. Um dia, também, o que talvez, hoje, seja uma curiosidade ainda maior, escreviam-se cartas, com novidades, apesar do tempo, impensável agora para nós, que tudo isso levava para chegar ao seu destino. E o conjunto dessas cartas pode ajudar a traçar um mapa de certa época, mostrando-nos os caminhos que então se seguiam, atalhos que cumpriam muito bem a tarefa de, em poucas palavras, indicarem um rumo, e até reticências que funcionavam como a declaração de que, num mapa, dado lugar pode existir, mas sobre o qual não há ainda certeza, sem que pés já lhe tenham tocado ou, tendo-lhe tocado, não houve tempo para tais pés comunicassem às mãos, que traçam os mapas, essa novidade: será que mandaram as informações por...carta?
E os mapas foram ficando menores: as cartas passaram a bilhetes, depois a notas, agora são mera referência tácita. Para que tudo neles possa caber, diminui-se a escala: se quilômetros se transformam, como cartas em bilhetes, em milímetros, um milímetro pode fazer, quando o bilhete é indispensável, toda a diferença.
Uma última nota, antes que, tomada como um exagero de palavras, como um dia as cartas, reine o silêncio completo: minha referência para, sem estratégia alguma, traçar estas palavras, imprevidente que sou para não pensar no dia de amanhã, foi mesmo o dia de hoje: dia do cartógrafo.
CHICO VIVAS
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