Insistir nisso é como continuar batendo na mesma tecla, e não, pressionando-a uma única vez, mantendo-se a pressão, escrevendo a mesma letra vezes sem contaaaaaaaaaa – embora haja um contador de caracteres que faz, por si, essa conta -, mas, caso se queira bater, repetidas vezes, tendo-se de, afrouxando a tecla, voltar a exercer pressão sobre ela: de fato, os datilógrafos desapareceram, ficando, no entanto, como dado insistente, seu dia no calendário, um que, por si, já vai perdendo sua razão, considerando o tempo de agora – e, agora, o tempo é, no máximo, um agora mesmo.
Se o profissional da datilografia, cujo trabalho principal era bater sempre nas mesmas teclas, não importando o que daí pudesse sair, que sua responsabilidade então se restringia a, com rapidez, saber em que teclas bater, sendo mesmo medida sua eficiência pelo tempo em que cumpria essa sua tarefa, em que pese a peso relevante de um trabalho bem feito, sem rasuras escamoteadas e, muito menos, com erros evidentes, é coisa do passado, sua técnica permanece, adaptando-se à pressão exercida sobre cada tecla e sua atual sensibilidade ao toque, capaz de perceber, de leve, a pressão que se lhe quer dar e, cedendo, antecipar-se a um bater que já não combina com as teclas de hoje, sob o risco de fazê-las disparar, numa sequência de letras sempre as mesmassssssssssss.
Antes, era sinal de profissional experiente o não olhar para as teclas, e não por mero descaso para com elas, mas porque assim, com um olho no gato e outro no peixe, atenção voltada para a base de referência da escrita, ganhava-se mais tempo, sem a necessidade amadora de, a cada palavra, ficar-se procurando sua tecla correspondente. Agora então, quando, à frente, não há uma folha de papel, com seu branco-oficial e desafiador (encha-me ou devoro-te), com informação sem conta, é que uma boa datilografia seria bem-vinda.
Mas, quem ainda conhece a técnica (ASDFG)?
Hoje, o datilógrafo de ontem é o técnico em periféricos, por vezes, assumindo importância central, porque se o teclado trava, apesar do (baixo) preço convidativo, convidando a que se o troque, sem mais perda de tempo, insistir nele é como ficar batendo na mesma tecla, sem resposta, a tal ponto que, desafiando nossa curta paciência (imagina só se voltássemos a ter de esperar por um trabalho “datilografado”?!), ficamos tentados a dele nos livrar – do teclado, não do técnico, embora este, se demora a chegar, deixa-nos, em atitude tipicamente impaciente, a em alguma superfície à mão tamborilar, quase como se, fazendo dela um teclado, só para passar o tempo, começássemos, não tendo o que escrever, a bater ali, nas mesmas teclas, já que, ao tamborilar, se não usamos todos os dedos de um exímio datilógrafo, lançamos mão de mais de um, uns quatro, menos o polegar, descansado então do seu exaustivo trabalho de “dar espaço”.
CHICO VIVAS