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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

DIA DO FILÓSOFO


Filosofar é aprender a morrer, dizia certo filósofo – e com razão: aliás, se há uma coisa de que os filósofos se orgulham de ter, esta é a razão, mesmo que, caindo na armadilha da própria filosofia, não possam admitir, ao menos publicamente, que cultivam o orgulho, anda que (apenas?) o de sempre terem razão, não adiantando, aqui, como a querer revelar solenemente meu engano, eu que sequer sei filosofar e não tenho, assim, a razão a meu favor, lançar mão de uma filosofia cética, pois mesmo uma desse jeito e que, por princípio, duvida de tudo, não deve duvidar de si mesma, sob o risco de jamais sustentar quaisquer ideias.

Enquanto não se tem certeza sobre algo, ou enquanto não se adquire coragem suficiente para bater no próprio peito, ainda que fazendo isso retoricamente, e afirmar ser o dono da verdade, tudo é hipótese, espécie de purgatório das ideias, não se sabendo então se seu destino será virar cinzas ou ascender para uma verdade incontestável. Passada tal etapa, já com (a) razão, é aí que o inferno começa, sem que, tantas vezes, se tenha tido tempo para gozar o tão efêmero paraíso, na medida em que, sob as luzes, holofotes que sempre se voltam para as verdades da hora, atraem mais atenção, seja a dos simplesmente invejosos, filósofos ainda em hipótese(s), ávidos por rebaixarem aquela verdade ao limbo das farsas, seja a dos que, seguindo métodos rigorosos, contestam-na, apresentando, claro, suas próprias razões (algo obscuras, para parecerem mais “reais”): e muitos destes, que não tiveram oportunidade de expor suas verdades, acham-na agora, pela contestação de uma outra.

Tenebrosos tempos estes para (se) filosofar! Agora, quem aparece com suas verdades, afirmando ter razão, é mal-visto; é visto como um pedante, alguém a quem falta humildade, confundindo-se então a modéstia em não se vangloriar de ter (a) razão com o legítimo direito de afirmar tê-la, mesmo que isso não dure tanto, sendo necessário que se tenha humildade para aceitar essa verdade (na verdade, que a sua era uma verdade de mentira). Tornou-se simpático não se afirmar mais nada categoricamente, mesmo que se acredite ter (toda a) razão, só para não humilhar os outros, agindo como um pusilânime que está sempre disposto a mudar de ideia.

Filósofos hoje há “de carteirinha” (e sentem orgulho de ser assim: e devem ter lá suas razões para isso). Filósofos hoje não querem aprender a morrer – por mais que essa seja uma inarredável verdade, embora, para os que creem na eternidade, uma mera hipóteses ainda –, antes, querem aprender a viver, ainda que para isso não sejam assertivos, mas reticentes...abrindo espaço para uma subsequente reparação. Filósofos hoje são uma categoria em extinção, sem que haja campanha visando a sua preservação. Filósofos hoje são uma anacronicidade, como já eram ontem, como sempre hão de ser: e isso digo eu, com a categoria de mero especulador, com o peito já muito amassado de tanto aí bater, a cada verdade que suponho ter, a cada razão de que suponho ser indiscutível dono.

Aprender tudo é morrer...como um curioso de verdade(s).

CHICO VIVAS

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