Talvez porque viessem de uma experiência de peito aberto, saboreando, com indisfarçável prazer, a impressão (de) cafajeste de vida assim, alguns botões, como se cansados da vida de solteiro(s), decidiram “se casar”: e isso, de imediato, fecha qualquer peito, mesmo que se queira livrar o (próprio) pescoço, dando-lhe uma folga, mantendo-se o botão dali em eterno celibato.
Um dia, quando era a hora de se passar da vida (de) irresponsável, mesmo que jamais, até então, se tenha verdadeiramente gozado os prazeres que tão bem se concertam com a irresponsabilidade, passando a se assumir (já nesse tempo se casava também para não se assumir, mantendo-se assim a aura de respeitabilidade que envolvia, quase que como um halo hierático, os casados, fossem tão jovens que surgiam, por isso, para os mais pretensamente poéticos, como ainda “em botão”, fossem já mais avançados em idade, tendo atingido, depois de estendido à exaustão o período de solteirice justificável, o limite possível, além do qual, rompida a faixa, não se sagraria vencedor, mas se amargaria uma derrota social) as pesadas tarefas de se manter, material e moralmente, uma nova família, não havia muita saída: casava-se.
Com o tempo, tendo-se casado segundo o “costume”, usando o terno (que geralmente é confundido com o costume), sem, dessa vez, para não pôr em risco a cerimônia, se aliviar o pescoço, sentindo isso como metáfora para as novas limitações, começa-se a abrir os botões. Folga-se, primeiro, em poder se tirar a corda do pescoço, sem que isso signifique abandonar, unilateralmente, os acordos firmados, contrato de simples adesão em que não cabe, à parte o patrimônio, que as cláusulas sejam discutidas. Depois, um aqui, outro ali, descasam-se os botões, sem as dores do divórcio, se dê isso por vontade das mãos que os separam dos respectivos lares, botões agora fora da "casa”, ou porque as linhas que, um dia, apesar de finas, uniram-se para sustentar o peito, foram-se enfraquecendo, até o ponto em que, não se podendo evitar a tempo sua queda iminente, falta o botão, embora resista sua correspondente casa, agora vazia, sinal de que o patrimônio, mesmo sofrendo a má reputação de “bens materiais”, em sociedade nada espiritual, resiste mais, ficando de pé o suficiente para testemunhar as idas e vindas de uma (às vezes longa) disputa.
Já não se vê no estado civil, numa prolongada solteirice, sem a intenção de fazer trocadilho, o rabo de fora de um gato mantido sob controle, com miados modulados pra que não deem sinal de que se mia por puro prazer, mas apenas para atender, rigorosamente, aos apelos irrefreáveis da natureza: em uns, percebe-se o desejo(!) de se estender a falta de compromisso (como se aí só houvesse bônus), em outros, percebe-se o desejo(?) de uma independência que, partindo do patrimônio, avança, nem sempre com o devido controle, sobre as relações pessoais; e de uns e outras, ouve-se, não raramente, como justificativa desse estado (de coisas), a dificuldade de se encontrar o outro ideal, românticos todos ainda para acreditarem que para toda casa há sempre um botão perfeito, e que a tentativa de se casar um não com seu respectivo par pode resultar num peito ridiculamente aberto ou no mesmo peito comicamente fechado.
Não é de hoje que ofereci minha mão...à palmatória. Ela, porém, talvez porque demasiadamente acostumada a muitas palmas, não me respondeu, nem que fosse para que sua resposta me chegasse como um tapa em minhas matrimoniais aspirações: ei-me justificado.
CHICO VIVAS
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