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quarta-feira, 14 de setembro de 2011

DIA DA CRUZ


Credo in cruz.

E você, crê em cruz?

Não há, aqui, qualquer outra alternativa, fora de um sim ou não, para que se possa marcá-la, com uma cruz, uma cruzinha que seja.

Há “cruzes” enormes que se carregam no peito, seja porque é ele que sempre as sustenta, ou porque é dele, descarregando-se, sem, no entanto, esvaziar-se, que tantas cruzes se alimentam, (re)carregando-se, em nome não do Pai, mas da sua própria sobrevivência. E quem tem a sua sabe que ela não admite diminutivos, já que isso, isso de seu tamanho externo não corresponde ao seu peso potencial, maior ou menor, a depender de como se a carrega, porque, com o tempo, mesmo que não demos por isso, aprendemos a lidar com nossa(s) cruz(es), mudando-a(s) de posição em busca de algum conforto, se é que se pode falar nele em tal situação.

É difícil, fora da fé carregada do peso ideal(!) agora para um alívio depois, com a promessa de ser assim por todo o sempre, enxergar algo de positivo na cruz, tão associada – eis o X da questão – à eliminação, ao que foi riscado do mapa, sendo que, ainda que saibamos de uma existência, sem sua representação documentada, traços desenhados num mapa, acabamos por dela duvidar, ainda que se trate da nossa própria existência, apesar dos fardos, outro nome tecido para a cruz, a nos lembrar de que estamos aqui, se não por outra razão, para carregá-los, como uma cruz.

Cruz também é próprio dos nomes: e quem o carrega, nem por isso, trazendo-o(a) tão perto de si, sente um peso a mais, a menos que se tome, por eventualmente não ser tão ilustre como se gostaria, tal nome como um fardo, tornando-se um sacrifício que se tem de levar vida afora, embora, no trato cotidiano, se possa esconder esse(a) Cruz, havendo, porém, momentos, carregados de formalidade, em que se tem de declará-lo, em alto e bom som, às vezes sob os olhares (e ouvidos) de outros, alardeando, contra a própria vontade, essa cruz que se carrega.

Mas, há fardos bem maiores. Demonstração clara do quanto não nos satisfazemos com o que temos é que alguns trocariam o(a) Pena que carregam, leve por natureza, portanto, aparentemente, sem que isso lhe pese, por um(a) Cruz, enquanto – cruzes! – o sonho de um Cruz pode ser justamente o Pena por outros tão desprezada.

Eu também tenho a minha cruz, que sequer é o Oliveira que me encerra, jardim que não encontrou em mim árvore ideal, estágio anterior, parada obrigatória para a última noite, antes da cruz a vir. A minha, como qualquer outro, carrego no peito, sem que se possa enxergá-la, mesmo se me rasgarem as vestes na intenção de assim se revelar meu íntimo. Carrego-a há tanto que parece já um sacrifício eterno. E os meus descansos, para me recarregar, é justamente a pena, mesmo que hoje ninguém fale mais assim: nem por isso deixa de ser uma pena.

Diante das alternativas, mero sim ou não, cruzo os dedos, e aguardo pelo acaso. Se nada acontece, descruzo-os e me apego à pena, como a uma tábua de salvação – e nem guardo expectativas de que seja uma salvação eterna, até porque, se assim fosse, salvo então, para que ainda me apegar a penas, apenas pelo hábito, como aquele que, de tanto carregar seus fardos, quando já não há cruz a levar, ainda sente seu peso em si?

CHICO VIVAS

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