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terça-feira, 20 de setembro de 2011

DIA DO POMBO DA PAZ


Malditos!

Ah! Que vontade de, declarando-lhes guerra, abrir fogo; e não me sendo suficiente a trilha original dos projéteis cortando o ar em acelerado disparo, fazendo-os ainda acompanhar por sua própria onomatopeia, língua solta, olhos significativos, talvez mesmo dentes cerrados, como se toda essa pantomima aumentasse o poder destrutivo da minha munição, potencializando-a, a ponto de, com uma única bala – que doce vitória! -, abater mais de um desses (inimigos).

Mas, dizendo assim, arrisco-me a despertar uma pena-trocadilho ou, e não sei se isso é ainda pior, atrair a ira dos pacifistas, capazes que são de levar a ferro e fogo, nem sempre mantendo essa ordem, seus ideais de paz, mesmo sabendo que isso não passa de um ideal, estando aí, provavelmente, seu real valor: uma busca persistente por um objetivo que não se alcança definitivamente, mas que pode ir sendo construindo, se não se desistir no meio do caminho.

Vivem em nome da paz, sem que se conheça procuração passada por ela para que se a defenda, falando por si mesmos. E creio que, se a paz intervier, pedindo a palavra, como se surpreendidos, ainda que circunstancialmente, os direitos do(s) procurador(es), eles são bem capazes de dispararem palavras duras, que podem até ter maior poder destrutivo do que um projétil real, não requerendo, ao contrário de um destes, que exige que se acerte na mosca (ou bem próximo dela), as palavras, uma mira exata, porque as batalhas verbais não são devastadoras apenas pela perícia da língua de quem as desfere, mas, em tantos casos, despreparados que somos para encarar lutas assim, aparentemente inofensivas, salvo um ou outro dano na sensibilidade ou na moral (o que tem cura), dependem do alvo se manter fixo, tal qual se agir assim, escutando tudo calado, fosse sinal claro de bravura, em lugar de, agitando-se, não esperar que se lhe desfechem todas as setas antes de, com aljava improvisada, lançar as suas, com a desvantagem de estar, eventualmente, fazendo isso pela primeira vez – quem sabe, a última.

E sei até onde gostaria de atingi-los: no peito!

Até aí, há de se pensar, nada de muito original, porque, afinal esse é sempre o alvo predileto: seja como um ponto real, local exato, seja como símbolo do que há de mais vulnerável, pois mesmo quando o dano físico não chega a ser fatal, se se acerta em cheio, mirando o ponto fraco e acertando o coração: vitória!

Não posso, contudo, continuar assim, aqui. Escrever implica em me manter num só lugar, até ao menos que chegue ao fim. E isso, isso de estar fixo, me faz o alvo perfeito para seus disparos corrosivos que, além do impacto escatológico, por menor que seja, ainda atrai, se não estiver imune a isso, danos a mais.

Vê-los juntos, pombos que são coletivos, desperta em mim um desejo sanguinário de partir para o ataque; porém, trocaria o bando inteiro, até me comprometendo a alimentá-lo(s), por um único, um “da paz”, vestido de branco, exibindo suas penas como um mártir alado que se pretende imolar em nome da humanidade (como se isso valesse “a pena”), embora mais efeito às coisas da terra, do chão firme, do que a esses céus, tão insustentáveis como qualquer ideal, morada, para alguns da própria paz.

Então, mandem esses pombos para lá. Ou eu os mando para o inferno.

CHICO VIVAS

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