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quinta-feira, 10 de junho de 2010

DIA DA LÍNGUA PORTUGUESA


Talvez haja bem poucas, em seu gênero, tão faladas, porque não dizer, mal-faladas: mas, afinal, não é para isso mesmo que servem...as línguas, para falar e, com gostinho todo especial, para (se) falar mal, às vezes, na ânsia de se falar assim, acabando-se por, em atropelos gramaticais, vitimá-la, levando-a quase a um sacrifício, falando-se mal ao se falar mal – aqui entre nós, se se faz isso com certo “estilo” (que não é para qualquer um, ao contrário do que muitos acreditam, falar mal), perdoam-se os erros, sendo lucro compensador esse falar mal com espírito, mesmo que muitos crentes (no espírito e não na língua, sequer no espírito desta) desaprovem tal conduta, não considerando digno de um (bom) espírito falar assim, ensinando que é melhor usar a língua para se dizer (só) coisas boas, ou, na impossibilidade de agir desse modo, aliando palavras boas e honestidade, quando esta não é apenas mais uma palavra (das boas), então, que se cale, nem sempre atentando para a gravidade de se se manter em silêncio.

Que as outras não me levem a mal, mas, aqui, só quero falar de uma, monoglota convicto (ainda que, às vezes, preso da armadilha de falar, fique em dúvida quanto ao cará(c)ter desse cê em meu estado de plena conviCção), deixando cada qual se haver com a sua, mesmo sabendo que há aqueles que chegam a dominar várias, sem que eu, até hoje, tenha descoberto o segredo para se guardar tantas línguas numa única boca, ainda que, havendo um céu ali, este possa ser para todas, copiando o infinito que costumamos emprestar a outro céu, mais visível(?), igualmente ilimitado. Quero falar da Língua Portuguesa: e, de cara, atraindo a reprovação de alguns, mas, em compensação também a sádica atenção de outros, digo que vou falar...e mal.

Bem, não que eu seja dado, por hábito, a isso, a falar mal: costumeiramente, nem mesmo sou de falar muito, a menos que se chame de língua a minha mão, e de saliva insípida à levemente salgada umidade entre meus dedos, depois de muito “falar”. O fato é que a língua portuguesa é um prato cheio para isso, verdadeiro convite a que se (a) fale mal, a ponto de não vermos com bons olhos aqueles que nos chegam aos ouvidos falando bem, muito bem, soando isso estranho, emprestando, toda essa rigorosa correção, certo ar de artificialidade normativa.

Entre os que falam mal – alguns, por convicção pessoal –, há os que defendem que apenas falam, simplesmente, não havendo, para eles, sentido em se adjetivar isso como sendo mau, levantando a questão da vida pulsante da língua, de sua capacidade de se renovar, de mesmo incorporar, com o tempo, como regra magna, um antigo erro, deixando os preciosistas de cabelo em pé, em pé de guerra, prontos já para desfiarem um rosário de contra-argumentos, tudo em nome da preservação da língua, da manutenção de sua reputação, ainda que, para isso, nesse momento, se preciso for, falem mal, falando assim dos seus adversários nessa contenda linguística.

Eu, cá comigo, tenho para mim (e, pela quantidade, em poucas palavras, de autorreferências, vê-se que “eu” também tenho “minhas” convicções) que os que falam bem a língua são os que sabem errar com estilo.


CHICO VIVAS

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