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sábado, 12 de junho de 2010

DIA DOS NAMORADOS




Acima de todos os movimentos, abaixo com o preconceito contra os amores comprados, nessa visão hipocritamente idealista em que se reserva o comércio para os subterrâneos, atividade velada, mesmo que os shoppings, os que há sobre (esta) terra e os que, numa arquitetura-tatu, oferecem corredores e mais corredores (para compradores demasiado apressados) num "nível" muito abaixo do que se poderia esperar de uma experiência vertical! Amores comprados deslavadamente, inclusive aqueles em promoção, num leve-tantos-e-paque-menos: e não me venham, saídos sei lá de que interiores, jogar na cara, deslavada por natureza do que faço, sem vergonha com as palavras, que sou mesmo um vendido (meus amores, isso é lá coisa que se diga na cara de um barbado?!), só por falar assim dos amores, ainda que se creia num só, único, apesar das sucessivas tentativas, essas teimosas tentações, em encontrá-lo, provando vários, como se não quisesse virar a face à simpatia dos promotores de venda na esquina de cada gôndola desses supermercados-dos-amores, talvez a única Veneza possível para alimentar de romantismo essa busca do que para muitos é inalcançável – e quão cansativa pode ser! - fantasia. E, vem cá: desde quando fantasias, de amores também, saem de graça?


Se se pode comprar (quem pode pode: quem pode comprá-los!) perfumes que, escondidos, a conta-gotas, detrás das orelhas, nessa região arrepiantemente vascularizada, o que lhe empresta o calor necessário para a expansão do álcool, entorpecente do olfato, lá "deitados" como uma pulga ali colocada, o que pode nos levar a coçar a cabeça de tão desconfiados, perfumes que assim cochicham segredos diretamente no nariz do outro, o que há de mais em se fazer uma honesta oferta por um bem-querer, que nem precisa ser importado, não precisa ser nenhum "eau de parfum", bastando que, Água de Colônia, possa-se espalhá-lo, a mancheia, como se tivesse nas mãos um punhado de amores, espalhando a alma desse aroma pelo corpo inteiro, sem qualquer pudor de, por ter-se mencionado a alma, sem querer ir fundo no espírito da coisa, se perfumar áreas subterrâneas, até alagando-as, como um shopping abaixo do nível do chão, mal projetado para receber uma temporada de chuvas que caem do céu: é verdade que se se oferecer assim a esse banho de cheiro é entregar-se, vulnerável, à ação ardente no contato do perfume com uma ferida ainda não cicatrizada, seja ela de amores mal negociados no passado, ou mesmo de amores presentes que, talvez por uma fantasia nada moderna, gostam de ser reiteradamente feridos (a Água de Colônia foi a invenção de um monge perfumista para presentear, com a exclusividade que o tempo transformou em perfume barato, um jovem casal de noivos).


O problema(?) com os perfumes leves, essas águas diluídas que nem foram trazidas de Colônia, é que, tão leves, lava-se e deles já se se livrou, num instante; mas mesmo com os mais concentrados, perfumes "sérios", a coisa também se dá, embora requeira mais banhos, já que se até insistem em permanecer a um lavar de rosto superficial, cedem, contudo, não resistindo pois a elas, às sucessivas águas, tornando-os, perfumes com ares de eternidade (o preço está nas nuvens), às primeiras lavagens, uma saudade consistente, para, banhos e banhos tomados depois, não deixarem mais nenhum Rastro (e Aparício Basílio da Silva, o "inventor" do Rastro, há muito desapareceu...)


Negócios bem feitos até deixam rastro, o que é uma maneira de se provar a legitimidade desses amores comprados, para o "caso" (vai que surge um, porque à natureza humana, às vezes, agrada o odor natural, exsudado) de levantarem suspeitas a seu (e a nosso) respeito. Se não deixam pistas, como se o rastro fosse apagado como uma Água de Colônia enfraquecida, é porque se tem vergonha de se admitir a "transa...ção" que envolveu esse amor, mantendo-se-a subterrânea, quando, resguardada a intimidade, em dias de tamanha exposição universal, não há prova maior de amor do que ter a nota fiscal à mão: amores contrabandeados podem ser (um) barato(s), mas, se se precisa "dela", cadê a garantia?


Que se os compre! Que se os venda! Que se seja feliz!


CHICO VIVAS

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