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segunda-feira, 21 de junho de 2010

DIA DO INTELECTUAL


Intelectual é coisa de francês. E não estou trazendo à luz dos holofotes, tão caro ao seu próprio gosto, o charme grisalho de Bernard Henri-Levy, referência recorrente quando se trata de...qualquer assunto, já que, com os holofotes tomando o lugar do sol (que sempre se prestou, seja em termos astronômicos, seja como metáfora, a especulações filosóficas honestas, apesar dos aproveitadores do zodíaco e dos manipuladores das figuras de linguagem (eu, hein!), intelectual tem de saber de tudo (como diria Picco de la Mirandola, em uma remota idade média, embora já flertando com o sol – olha ele aí! – do Renascimento: “De omni re scibili, et quibundam allis”, De todas as coisas que é possível saber, e ainda um pouco mais), sempre pronto, como um Caetano Veloso em qualquer idioma, para dar sua opinião sobre tudo, desprestigiada a metamorfose ambulante em dias de mudanças rápidas nos trocadores dos shoppings, preferencialmente, uma opinião que, polêmica sob medida, alongue a discussão, elevando ao exagero uma desnecessidade ou uma necessidade que, ao longo desse caminho, perde seu real valor.

Conta-se que o termo é uma “invenção” (do francês) em dias que a França, mais próxima ainda da primeira do que do entreguismo da segunda guerra, ressalvada a resistência, preferiria esquecer, embora haja os intelectuais que não deixam isso acontecer, e não para esticarem o tema, mas para que, à luz sempre, ou pelo menos numa penumbra com alguma frecha luminosa, possa ser trazida à tona, quando isso se fizer necessário: o caso Dreyfuss.

Intelectuais, pejorativamente, eram chamados aqueles que, já aureolados formalmente pela Academia, oligárquica e aristocrática como são todas as academias, para os melhores e, sendo os melhores poucos, para a minoria também, ou apenas aspirantes a esse halo de santidade laica, ultrapassaram suas reais(?) funções de artistas e pensadores para se envolverem, como um Bernard Henri-Levy qualquer, em assuntos que, aparentemente, não lhes dizia respeito, em evidente parti-pris, mesmo se considerando que era o assunto do dia, de muitos dias seguidos, na França, alimentado tanto pelos faits-divers de gosto mais popular, como pelos laureados frequentadores dos salões mundanos: os de Proust, os de sua obra, estão recheados de dreyfussards (os a favor) e antidreyfussards (claro, os do contra, embora em número tão grande que aqueles outros, a favor, é que pareciam ser do contra).

Como, hoje, definir um intelectual, se os escândalos, genuínos (ou Genoínos) ou fabricados – e “dossier” é, ora, francês! – se acumulam, aparecendo com mais rapidez, assumindo a ordem-do-dia nesse exército de noticiaristas em constante batalha por um assunto que “renda”, do que aqueles que devem opinar, como se soubessem de tudo, até mordendo a própria língua, vítimas(!), como Henri-Levy de enganos planejados por gozadores que, como um intelectual de verdade, lançam luz sobre tanta mistificação? (Ver Vídeo)

Se eu me arriscar, aqui, a dar resposta(s), numa seara em que não conheço os caminhos, nem sequer uns atalhos (Alt+Ctrl não vale), poderia ser confundido com um intelectual: e há, hoje, uma legião de pretendentes ao título que recusa(m)-no, justamente para, com essa negativa, se legitimar(em) como livres-pensadores. Mas, no final, vão estar dando opinião sobre tudo, na falta de um assunto em particular.

CHICO VIVAS

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