Amada!... – nesse jeito equivocadamente íntimo, coloquialmente cafona de se tratar alguém, com ar condescendente, sugerindo uma aproximação, mesmo que então não entrem em jogo os corpos (que jogo mais sem graça!) – é o quê?
Se for quem simplesmente é amada, tautologia dispensável, então, ó amada, bem que eu poderia ter começado isto (talvez na falta de corpos para me distrair com outros jogos, que não os de palavras) te chamando de (minha) amante, embora isso levantasse (isso é coisa de amantes, amada!), de imediato (isso é o sonho de muito amante – e de muitas amantes, amados!), suspeitas sobre ti, amada: porque, querendo uma aproximação ainda maior, correndo o risco, eventualmente calculado, de mergulhar de cabeça na cafonice-movediça, já seria demais te tratar de “amadinha", até mesmo para esta minha língua algo desusada (a falta que fazem certos jogos, mesmo que, ao fim, acabem ficando mesmo só nas palavras!).
Mas, tomando uma amante, quase que como um objeto (dos meus desejos?), não necessariamente como o ser amado, e sim como alguém à margem dos amores sacramentais [“(...) digo que bom seria a um homem não tocar em mulher alguma. Mas, para evitar a prostituição, cada um tenha a sua mulher, e cada uma tenha o seu marido”. I Epístola de São Paulo aos Coríntios 7, 1 e 2], elas são mesmo amadas ou só (serão sós?) o que são?
Há quem veja nos amores “marginais” uma sinceridade, por, supostamente, não haver aí compromissos formais, que não enxergam, depois de passada a graça festiva, nas núpcias sacramentais, por se supor que, então, aí só restou a formalidade de um acordo, mesmo que, agora, se considerem quase que tão-só os aspectos patrimoniais, já não se temendo tanto a quebra da aliança com Deus – até, fazendo as contas, contabilizando em favor da(o) amante, percebendo-se a economia de “alianças” que uniões assim, sem (um insuspeito) Paulo por trás, permitem.
Talvez, como vingança dos céus, não raro, o atalho aberto à margem da estrada principal vai-se tornando o caminho oficial, mesmo que não haja placas luminosas a sinalizar essa mudança. Nesse caso, uma picada circunstancial, que em outra situação não teria importância, começa, aos poucos, a surgir como novo atalho, deixando o antigo, já agora uma estrada como outra qualquer, à margem. E nesse cruzamento de aspirações (de “desejos”), não é impossível que se (se) volte – ou se queira voltar – para a estrada primeira, até, em prol desse retorno, lançando mão, como um apóstolo da moral, dos laços canônicos, voltando, já em desespero, a se falar mesmo de (sempre os laços) “nós” que nascemos um para o outro: e entre esse lugar-comum para aproximações desesperadas e um “amada”, prefiro parecer cafona.
CHICO VIVAS
0 comentários:
Postar um comentário