Houve um tempo – e como, às vezes, tenho vontade de “dar uma banana” para ele, só não o fazendo pela total inutilidade do ato, dizendo isso para mim mesmo, como a querer me convencer de que se não o faço é por razões lógicas e não porque não passo mesmo de um banana – em que banana era tão barata que cedeu (de tão barata, sequer cobrou por isso) seu nome para algo desvalorizado, mostrando tamanho desprendimento, não se importando (embora já se importem bananas), para que se cunhasse uma celebre expressão popular, de ter seu nome assim, quase sem que haja quem queira dar um níquel por ela, embora não se possa descartar a possibilidade, tão contemporânea, que tivesse agido assim a banana por, num cálculo bem pessoal, considerar um preço baixo a ser pago em troca de ter seu nome consagrado.
Banana dá em cachos, à profusão, sendo algo ridículo, ou preciosista (um preciosismo ridículo) que se queira comprar somente uma, mesmo que agora custe (bem) mais caro, quase um bem precioso, mesmo que não se trate de uma banana-ouro, de uma banana-prata, mas de uma d’água, mesmo de uma nanica qualquer que não tem estatura suficiente para exigir seja lá o que for.
Banana também se dá, de modo um tanto quanto infantil, com o braço, ainda que, gordura mais prestigiada que o potássio, as crianças, evitando o desnecessário esforço de mover todo o braço (às vezes, os dois, para tornar mais eloquente o ato de dar – banana, claro), numa experiência sedentária de poupar tempo e movimento(s), dão apenas o dedo, mas, generosamente, quando podiam recorrer, perdoavelmente egoístas como são as crianças, a ponto de não dividirem com outra, pequena como elas, uma banana, até das grandes, ao mínimo dedo, dão, de todos os disponíveis, o maior de todos.
Banana, como já ficou evidenciado por minha recusa, apesar do argumento utilizado, em dar uma banana para o tempo, é um sujeito, independentemente do genro, embora mais significativo quando aplicado ao masculino, moleirão, daqueles que, sem deixar esse gênero de assunto, se “deixam mandar” pelo outro – outro gênero ou, o que dá no mesmo, por outro do mesmo gênero, num embate de bananas que atiça o desejo de se fazer até um trocadilho fálico.
Tão superior é a banana que, enquanto a batata tem de se contentar com os inferiores, ela já nasce nos membros de cima, de braços dados com certa aristocracia, mesmo que esta, salvo quando a banana está escandalosamente cara, coisa para poucos, não a prestigie tanto – ao menos em púbico, talvez com medo de que, apesar de todos os atavios aparentes, se lhe perceba, banana em mão, certas similaridades “evolutivas” que não agradam a sua acreditada superioridade. E não fica por aí, não! A banana, não é de agora, subiu à cabeça – à de Carmem -, passando daí para o imaginário popular.
Se banana(-)passa, ainda não chegou sua vez. E até as verdes, tidas até outro dia como impróprias para o consumo – e falo do popular mesmo, e não do gosto mais refinado -, já foi alçada, seguindo-se determinadas receitas, à categoria de muito saudável, atingindo esse lugar que a faz, por mais que lhe torçam o nariz, tão apetitosa aos que, na falta de outro assunto, falam sobre a funcionalidade de certos alimentos, fazendo dos que preferem gordura uns verdadeiros bananas.
CHICO VIVAS
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